Capítulo 23.

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É lógico que eu tinha mentido. É lógico que eu não voltaria para casa logo depois de fazer minha prova. Até porque ela aconteceria já na terça. Eu queria aproveitar a cidade. Aproveitar eu mesma. Esquecer-me de tudo. E, apesar de tudo o que tinha acontecido, eu queria comparecer ao evento musical ao ar livre na Times Square em que Lucca se apresentaria. Eu sabia que o amava. Seria melhor, para mim, saber que ele estava bem, e aquela seria minha oportunidade discreta em saber que ele havia seguido em frente. E, claro, saber que ele provavelmente levaria Kara com ele já amenizava os sentimentos que borbulhavam dentro de mim.

No domingo à tarde, depois de fazer minhas malas, eu cheguei ao aeroporto e esperei quase uma hora pelo próximo voo. Já tinha avisado meu pai e respondia as constantes mensagens de Josh. Estava pronta para partir. Ver o céu límpido lá de cima foi calmante. Até mesmo peguei no sono durante a breve viagem. Quando finalmente cheguei, procurei em meu celular pelo endereço em que eu teria que comparecer para fazer a prova. Entrei em um táxi e perguntei ao motorista se havia algum hotel na proximidade daquele endereço. Acabei ficando duas quadras do meu destino. Por sorte, o hotel ainda tinha vários cômodos vazios. Usei de minhas economias para pagar todos os gastos que eu teria durante aquela semana. Deitei-me na cama do quarto alugado, sem mexer em minha mala, e adormeci.

No dia seguinte, fui acordada por uma ligação de Ellen dizendo que iria para Nova York na quarta-feira, para passar a lua-de-mel lá, e que queria se encontrar comigo. Eu disse que não queria atrapalhar seu momento romântico, mas ambos fizeram questão de que eu saísse com eles, pelo menos uma vez. Acabei concordando, por fim. Aproveitei a segunda-feira para caminhar nas quadras próximas ao hotel em que eu ficava e adorei viajar com minha imaginação por aquelas largas avenidas, luzes coloridas por todo lugar, gente de todo canto do mundo. Descobri que não estava longe da Times Square. Parar ali, em meio àqueles prédios, outdoords vívidos e montoeira de pessoas e carros, foi mágico. Perdi longos minutos simplesmente parada. Acabei por comer um cachorro-quente de uma barraquinha e voltei para o hotel. Teria de estar descansada para minha prova, apesar de tudo.

A terça-feira chegou com meu celular apitando loucamente. Minha cabeça martelava em dor. Mais uma noite mal dormida, iniciada em lágrimas e terminada em dor. Troquei-me rapidamente para ter tempo de tomar café da manhã antes da prova. Coloquei minha melhor roupa e fui em direção à recepção do hotel, de onde peguei meu tíquete e segui para o restaurante que havia ao lado. Servi-me com alguns pãezinhos e frutas. Comi calmamente, afinal, ainda tinha pouco mais de meia hora até eu ter de me apresentar na portaria do prédio em que faria a prova. Assim que terminei, caminhei em direção ao lugar. Eu via diversas pessoas – entre elas, algumas que estudaram comigo – caminhando em direção ao edifício. Fizemos uma fila e fomos mostrando nossa identidade, para que fosse conferida em uma lista e, nossa presença, confirmada. Passei pela mesma e fui em direção à sala, já no primeiro andar. Era como um auditório onde eu estudava – mas aquele era enorme. Ali, cabiam estudantes de todo o país. Sentei-me em uma das cadeiras ao fundo e esperei pela prova ser entregue.

Eu consegui responder a maioria das perguntas. Lembrava-me praticamente de tudo. Aquela era minha paixão, afinal. O mundo de mistérios, de investigações, de resoluções. Enquanto isso, minha vida passava por situações irresolvíveis. Saí de lá confiante, no período da tarde. Deixei meu corpo descansar àquele dia, para que, no próximo, saísse com Ellen e Gabe.

Apesar de eu ter tido outra noite sofrida – e, claro, sempre ignorando as ligações que eu recebia de Lucca –, eu tive um pressentimento de que as coisas iriam melhorar. Naquela manhã, Lucca não ligara. Apenas Josh mandara uma mensagem pedindo como eu estava. Expliquei qual seria minha programação e ele me mandou uma carinha feliz. Eu me aprontei e encontrei-me com minha amiga em um shopping próximo.

Depois da tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora