Prólogo

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Cuidado em quem você confia. Lembre-se que o diabo era um anjo.

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Houve um tempo em que eu achei que não existisse maldade no mundo, que tudo era perfeito e cor de rosa onde todos seriam felizes para sempre, mesmo assistindo seriados e jornais todos os dias eu realmente achei que nunca seria comigo, acredito que nos nunca imaginamos, nunca nos colocamos no lugar do outro, mas eu me enganei​. Ah me enganei e muito.

Existem seres perversos que rondam por aí. Não, eu não estou falando de assombrações e nem zumbis ou bruxas nem nada disso. Estou falando de seres humanos, pessoas como nós pessoas maldosas. Meu pai sempre me disse: " Nunca tenha medo dos mortos, eles jamais voltaram para te fazer mal. Tenha medo dos vivos, pois eles são os verdadeiros monstros".

Eu havia acabado de acordar, tinha levado uma pancada forte na cabeça que agora latejava muito. Eu sabia que estava amarrada, eu tentei gritar mas uma fita cobria a minha boca, tentei me manter calma, mas era impossível. Algumas partes do meu corpo doíam, deve ter acontecido algo mais. Havia sangue na minha roupa e até o meu couro cabeludo doía. Meu braço tinha umas manchas roxas e alguns arranhões.

Meus olhos passeavam lentamente por todo o cômodo. Era sujo e fétido, tinha um cheiro muito forte na verdade. Não havia janelas, só uma porta, e a maca em que eu estava deitada.

Oh, meu Deus...

Isso poderia ser normal, mas eu sabia que não era, sabia que essa maca não era de um hospital. Só se fosse um hospital psiquiátrico.

Meu coração quase parou quando olhei para o lado direito. Uma mesa cheia de facas, de todos os jeitos e tamanhos, algumas sujas de uma coisa escura, sangue talvez, tinha ganchos, bisturis, uma barra de ferro, pedras grandes de gelo, um pote com aranhas, viúvas-negras para ser mais exata, e outro com escorpiões, tinha fios por todos os lados, um litro grande do que parecia álcool, alicates de unha, e correntes. Eu estava com medo, aquilo não era normal.

Eu não queria ver mais nada, fechei os olhos pensando que assim fosse impedir que algo ruim acontecesse, mais eu sabia que não era verdade. Lembro-me que certa vez li uma reportagem na internet que o cientista dizia "Se o mar fosse tão claro quanto o céu, que se pudéssemos ver tudo que tem nele, ninguém entraria na água. É aterrorizante, o que vive na água, 8 quilômetros abaixo". Eu não queria ver o que ia acontecer, não queria passar por tudo que eu sabia que ia passar, um medo terrível tomava conta de mim, eu devia ter escutado a minha mãe. Ou talvez não. Quantas pessoas foram salvas? Meu Deus, isso não podia estar acontecendo.

Penso no meu pai, ele deve estar louco atrás de mim. Mais quanto tempo estou desaparecida? Eu diria que talvez dois ou três dias.

Ouço um barulho e fecho os olhos outra vez - que eu nem sabia que tinha aberto de novo.
O barulho vai aumentando. Passos. Não pode ser uma mulher, tem uma pisada muito pesada, com toda certeza é um homem.

Como eu vim parar aqui? Essa é uma pergunta que está fazendo uma anarquia dentro da minha mente. Não pode ter sido tão fácil. Eu resisti? Espero que sim. Não posso simplesmente ter me deixado ser pega assim, não pode ter sido tão fácil. Que merda de Detetive seria eu se tiver sido tão fácil?

Os passos vão ficando mais altos, com certeza isso é um porão.
Meus cabelos dos braços arrepiaram, meu sangue parecia circular com dificuldade, eu estava tremendo e algumas lágrimas caíram, a sensação de medo e impotência me dominavam incansavelmente.

Minhas células trabalhavam loucamente tentando pensar em uma solução para sair daquele lugar, os passos pararam e logo recomeçaram, uma porta rangeu em algum lugar, fiquei quieta, não queria dar motivos para apanhar mais, meu corpo ainda doía muito.

Uma sombra estava sobre mim agora e ouvi um grunhido de surpresa talvez.

- Oh meu Deus. - A voz fala. É uma voz de um homem, e uma voz que eu conhecia bem.

Abri os olhos e o rosto ainda estava embaçado, mas eu tinha certeza que eu o conhecia, agora depois ver o rosto ainda mais. Forcei a minha mente a lembrar.

- Você está bem Emma? - Ele pergunta tentando me desamarar. Ele também tenta tirar a fita da minha boca. Eu tento falar mas minha voz não sai. - Emma sou eu, Lucas. - Minha mente dá um estalo.

Lucas.

Na minha mente tudo explode, relembro de coisas que passamos, bares, risos, as noites que ficamos até tarde no CCIS atrás de soluções para casos e mais casos, do primeiro caso que investiguei de verdade, e da decepção que havia sido.

Momentos que eu nem sequer lembrava que tinha esquecido. Eu chorava muito e ele me acompanhava, correu até a mesa e pegou uma faca e cortou as cordas que me prendiam, tirou a fita da minha boca, eu tentei falar mais minha voz não saia.

- Tudo bem, pronto. Eu estou aqui, eu estou aqui, já passou. - Ele me levanta e eu passo meu braços em seu pescoço e enterro minha cabeça em seu peito, ele está cheiroso, um cheiro tão familiar para mim. Minhas lágrimas não param de descer.

Subimos as escadas eu ainda estava nos braços dele. Eu não sabia como lidar com essa situação.

Ele me coloca sobre uma maca e vejo todos do CCIS estão aqui, James estava arrasado, os cabelos despenteados olheiras e alguns roxos por todo o corpo, tinha marcas de unhas e a mão estava enfaixada.

- Me desculpe. - Ele fala chorando. - Eu... Eu não te protegi, me perdoa Emma. - Eu jamais esperei essa reação do James, ele não é tão emotivo. - Me perdoa por tudo que eu fiz. - ele sussurra em meu ouvido.

Meus pelos se arrepiam e eu o empurro para longe de mim. Uma sensação de medo toma conta do meu corpo.

Não. Não pode ser.

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