#4

2.8K 321 31
                                    

Miranda


Olhei a tela do computador e senti a minha cabeça latejar, massageei as têmporas enquanto ouvia os intermitentes toques dos telefones, o digitar nos teclados e os saltos altos esmagarem o assoalho com um repetitivo clack-clack.

Uma pesada pilha de papel caiu sobre a minha mesa com um baque. Marinalva me mostrou um dar de ombros enquanto colocava uma pasta sobre a outra mesa. Eu odiava aquele emprego, no entanto não encontrei nenhuma vaga da minha área naquela maldita cidade. Peguei a xícara, virando o resto do café em um gole.

Eu sabia que a minha inquietação era por ter deixado Alexia sozinha e que o latejar na minha cabeça se devia a como ela iria reagir de acordo com o que tivesse descoberto. Eu estava pensando nas desculpas, nas próximas mentiras... Ouvi um zumbido a distância e me virei para a fonte.

—... e retorne para a gráfica — o rebolar dos quadris da dona Marinalva se afastou do meu cubículo.

Peguei a minha bolsa e saí para uma pausa, eu precisava de um cigarro.

Ao chegar na varanda do escritório, encontrei outra pessoa já fumando.

— Não, tudo bem — disse para mim quando eu já ia saindo. — Miranda, né? — semicerrou os olhos para mim.

— Cassandra...? — peguei um Hollywood e ela o acendeu.

— É — concordou enquanto me observava.

Eu a espiei também. Os cabelos curtos tinham ondas que a deixavam sensual e sua camiseta tinha um decote em v valorizando seus seios médios. Cassandra tinha aquele quê conquistador, charmoso. E isso era comentado pelo grupo de homens que se reuniam para tomar café na pequena cozinha do escritório. Mas era apenas isso. Nenhum deles havia realmente sido conquistado ou a conquistara. Até onde eu sabia...

— Você é muito bonita, sabia? Parece tão jovem — lançou a fumaça enquanto batia as cinzas no corrimão. Eu sorri com o seu elogio sincero e não pude deixar de sentir a alfinetada.

— Você também é muito bonita... e sensual. Acho que todos nesse departamento iriam concordar. — Ela soltou uma gargalhada rouca e depois me deu um olhar complacente, como se eu fosse uma criança tola.

— Está livre depois que sair daqui? — tragou seu cigarro enquanto me olhava incisivamente. Parecia estar convencida de que eu lhe diria que sim.

Eu sorri, indo na sua direção e ficando ao seu lado no corrimão que circundava a varanda.

— Eu já tenho alguém. E essa pessoa é mais importante do que eu gostaria que fosse. — Traguei a fumaça. Cassandra andou e parou de frente para mim.

— E não somos todos importantes para alguém?

— Eu espero — concordei pensando em Alexia e no seu amor juvenil e frágil.

Cassandra me deixou, largando sua guimba no chão enquanto atravessava a porta.

Após terminar meu cigarro, segui em direção ao banheiro. Meu celular vibrou em meu bolso.

"Podemos conversar?"

Li a mensagem de Alexia e ignorei. Primeiro: porque eu queria mostrar-lhe que eu estava ocupada. Segundo: eu estava com muito medo do que ela queria conversar. E terceiro: o que essa menina estava fazendo comigo?!

Parecia que eu estava assistindo a minha vida através de um grossa janela. Apenas vendo o discorrer dos eventos sem poder interceder. Como pude descer tão baixo?, me questionei enquanto via minha imagem refletida no espelho e não conseguia reconhecer a mim mesma. Olhei novamente a mensagem de Alexia. Eu não sabia o que escrever de volta.

"tá td bem?" 

  — Droga! —  praguejei já me arrependendo.

" E pq n estaria?" 

Ela respondeu a minha pergunta com outra pergunta. Nada bom...

"n sei, me diga vc", enviei.

Isso não estava cheirando nada bem. Ela não me respondeu mais. Segui de volta para meu cubículo. 


Vote e comente '-'


Alexia - RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora