#23

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Eu estava quase no final do expediente. Chamei a próxima senha e não acreditei quando me deparei com a menina de cabelos avelãs do meu prédio.

— Tava com medo de não ser você a me atender — confessou em voz baixa com um sorriso zombeteiro.

— Boa-tarde, senhora, em que posso lhe ajudar?

Ela sorriu, revirando os olhos.

— Abertura de conta — me passou todos os documentos necessário para abrir uma conta.

— Conta corrente ou conta poupança? — questionei, analisando seus documentos e olhando-a para ver se eram a mesma pessoa.

— Toda profissional — desdenhou e covinhas apareceram em seu rosto arredondado.

Melanie Castanho de Brito 14/10/1995.

— Como pode alguém ser tão insuportável? — sussurrei.

— Podendo, uai — percebi que ela nascera em Goiânia. — Conta poupança, quero juntar uma grana aí.

Fiz todos os procedimentos necessários e peguei seu telefone de contato.

— Tô disponível na quinta — piscou um olho para mim, a postura relaxada.

— Eu não estou disponível.

— Comprometida?

Eu tinha certeza que meus colegas de trabalho estavam ouvindo Melanie dar em cima de mim. E isso não passaria despercebido.

— A conta está aberta, daqui quinze dias o cartão será entregue no seu endereço.

— Vocês nunca entregam o cartão — zombou, pegando a papelada de volta e enfiando de qualquer jeito na mochila. Ergueu seu boné, ajeitando os longos cabelos.

Apertei o botão, chamando a próxima senha.

— Tenha um bom dia.

— Só se você prometer que vai sair comigo — se inclinou no balcão, o boné preto entre os dedos.

Uma mulher de terninho ficou atrás da Melanie, essa olhou com desdém e virou a cara, pouco se importando. Ouvi o barulho do salto da moça batendo no chão de irritação.

— E então? — Melanie sorriu, safada.

— Tá certo — sussurrei, sentindo meu rosto pegar fogo.

Melanie colocou o boné de volta caminhou relaxadamente em direção às portas giratórias. Eu me ajeitei na cadeira, sendo esfolada viva pela vergonha.

Ela era maluca, pensei enquanto pilotava minha moto na saída do trabalho a caminho da instituição da faculdade EAD.

Tinha mais de um mês que eu não a via. A última vez que tínhamos nos visto, ela tava saindo de um carro prateado. Passou por mim e me ignorou, a cara amarrada e as mãos em punhos. Olhei para o motorista, um senhor de terno muito bem vestido. Ele saiu do carro e tirou a bagagem do porta-malas, seguindo-a.

— Ela é louca — murmurei esperando o sinal abrir.

Fiz uma prova e voltei para casa com a cabeça doendo. Guardei minha moto na garagem. Subi as escadas com os saltos nas mãos. E, por azar do destino, encontrei Melanie descendo as escadas com roupa de academia.

— Oi, vizinha gata. Tchau, vizinha gata.

Passou rapidamente por mim descendo de dois em dois.

— Ei — chamei, chateada.

Ela me ignorou, continuando sua descida despreocupadamente.

— Tô falando com você.

— Achei que só tivesse devolvido meu elogio — parou segurando o corrimão e me fitando com seu olhar traquino.

— Nunca mais faça isso!

— Te elogiar?

— Isso não é elogio.

— Depende do ponto de vista.

— E estou falando sobre ir no meu trabalho e me fazer passar vergonha — falei em tom sério. Melanie me fitou, então sorriu, mostrando suas covinhas.

— Mas você vai sair comigo? — perguntou ignorando minha ameaça e me desarmando com seu sorriso sacana.

— Dá para parar de sorrir?

— Por quê? — subiu os degraus, ficando de frente para mim. Eu subi o olhar, reparando em como ela era alta. — Ele te deixa nervosa? — sussurrou, seu hálito cheirava à menta.

— Claro que não! — guinchei, me irritando.

— Hm, toda nervosinha.

— Eu tô falando sério.

— Eu também — sorriu. — Estou disponível na quinta — Olhou seu relógio e me deu um beijo, saindo apressada.

Ela acabou de me beijar? Toquei meus lábios, não acreditando que ela me dera um selinho.

— Ela é louca — declarei e segui para meu apartamento.

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Alexia - RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora