#22

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Alexia

Me apoiei no parapeito da janela olhando a paisagem à frente. Aspirei a brisa fresca enquanto sentia o sol aquecer meus braços. Eu adorava os finais de semana. Poderia colocar meu biquíni e sair para a piscina do condomínio e me bronzear depois de ter ficado a semana inteira no ar-condicionado do banco.

Vesti uma canga e peguei minha imensa bolsa. Depositei uma toalha na espreguiçadeira e me deitei ao sol de final de tarde.

Um bossa nova tocava baixinho em um bar próximo e aquilo foi me acalmando.

Eu passara em um concurso para trabalhar no banco. Ficar naquele caixa resolvendo pendências, abrindo contas e ouvindo reclamações, e por vezes, sendo maltratada era estressante. Mas eu trabalhava apenas seis horas, tendo duas pausas de quinze minutos. 

Pus os óculos de sol e relaxei na cadeira.

— Moça? — senti alguém me chacoalhar o ombro direito e grunhi, tentando continuar a dormir. — Moça, já tá de noite.

Eu abri os olhos, sonolenta. Estava um breu e eu não via um palmo à frente. Percebi que ainda estava de óculos. Arranquei o objeto, me sentando e olhando a pessoa que fizera a boa ação de me despertar.

— Achei que você tinha morrido, mas quando cheguei perto ouvi o ronco.

— Eu não ronco! — me defendi subindo o olhar e encontrando uma garota esguia. Ela estava com um cachorro que parecia um hamster na coleira. Por que as pessoas criam isso?, me questionei, ficando de pé e pegando a minha bolsa.

— Tem uma baba seca na sua bochecha — apontou para o meu rosto, rindo.

Eu toquei a pele perto da boca sentindo algo grudento que começava a secar.

— Eu posso até babar, mas eu não ronco.

— Claro, desculpe ter achado que aquele barulho de trator vinha de você.

— Você que é grossa que nem uma máquina agrícola.

— Foi mal, princesa, mas você ronca que nem um escapamento de carro velho — eu acabei rindo de sua ousadia.

Olhei ao redor, as crianças e as boias sumiram junto com suas mães. As luzes externas acesas e apenas eu ali, dormindo de biquíni.

— Obrigada — me lembrei de agradecer à garota.

— Agora ela diz que é educada — zombou, encarando meu corpo descaradamente.

— Eu sou educada — rebati, dobrando a toalha e guardando meus fones e protetor. — Você que não tem papas na língua.

— É o que dizem, eu chamo de viver na verdade.

— Ou ser grossa — provoquei, calçando as sandálias.

— Também — admitiu.

— Eu vou indo. Obrigada por me acordar... — deixei a frase morrer, esperando que ela me dissesse seu nome.

— Falou — murmurou e saiu puxando sua ratazana/cachorro.

Pensei em gritar para perguntar seu nome, mas resolvi ir para meu apartamento. Tinha algumas coisas da faculdade que eu precisa estudar.
Eu vivia sozinha agora. E descobri que amava viver só. Andar pelada, comer qualquer coisa. Deixar os pratos uma semana na pia, ou ter uma mania de limpeza doentia e manter uma organização ferrenha.

Entrei na pequena cozinha americana e bebi uma água, já ligando o Notebook.

Então essa era a minha rotina. Trabalho de segunda à sexta, faculdade de administração a distância.

Alexia - RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora