#17

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Miranda

- Você tem carro - Alex emitiu enquanto mirava o carro azul.

Eu apenas destravei o veículo e tentei ser natural enquanto lhe abria a porta.

- Quer mesmo ter essa conversa aqui ou quer curtir o domingo e depois você tira todas as suas dúvidas? - falei enquanto passava o cinto, manobrando o veículo.

- Como você faz isso?

- O quê?

- Ignora tudo e finge que está tudo bem.

- Não está tudo bem?

- Não - berrou.

- E o que foi isso? Dormir abraçada, contar para o pai, passar o dia juntas com a família....

- Miranda, independente do dia que tivemos, nós ainda não nos resolvemos. Você mentiu para mim, escondeu coisas a seu respeito, me perseguiu... Você tem dimensão disso?

Parei o carro em uma estrada vazia de barro batido, reparei que era o mesmo lugar que eu a vira a primeira vez. Eu vira o sol se pôr com o olhar negro dela sobre mim. Lembrei-me que ela parecia meio emo com aquela franja oleosa e o lápis de olho. Destravei o cinto dela e arranquei o meu, puxando-a para mim, ela veio, os olhos arregalados, o cabelo cheio.

- Será que você não percebe que fiz tudo isso porque estou apaixonada por você?- sussurrei sentindo o hálito dela me banhar o rosto.

- Não - murmurou enquanto me afastava-, eu apenas vejo alguém egoísta que teve que voltar atrás e fazer seus caprichos. Você só pensa em você, Miranda. É você, você e você.

Eu a apertei, fazendo com que parasse de se debater. Um carro passou pela gente, mas não a soltei e nem desviei meu olhar de seus olhos chocolates quando o farol nos atingiu.

- Eu te amo - ela se debateu e eu segurei suas palmas enquanto encostava nossas testas uma na outra. Subi meu olhar, observando os longos cílios dela. - Porque tudo tem que ser tão difícil com você? - murmurei e vi os cantos de seus lábios se erguerem. - Podemos ir lanchar como um casal de namoradas normais? - seu sorriso esmaeceu.

- Não, não podemos - eu a soltei, isso me deixou triste também.

- Não precisa ser aqui.

- Vai dirigir uma hora para poder comer com outra mulher em público sem ser humilhada?

- Eu gostava quando você era mais doce.

- Eu ainda sou.

- Ah, não mesmo. O pessoal de humanas te estragou.

- O quê?

- Você só resmunga.

- E você...

- O quê?

- Não, deixa para lá.

- Fala, Alexia. Desengasga. Diz tudo - gritei dentro do automóvel enquanto pegava o último cigarro no painel e o acendia com mãos trêmulas.

Alexia - RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora