#21

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Alexia

Na quarta-feira Miranda saiu cedo para sua entrevista e eu fiquei dormindo na cama até ser acordada por meu pai me ligando.

— Pai — grunhi cheia de sono

— Como está a busca por emprego? — me atacou antes de sequer perguntar como eu estava.

— Nossa, todos os dias estou acordando cedo, distribuindo currículos, Miranda está me arrumando algumas entrevistas, mas como sou jovem e inexperiente... — menti descaradamente.

— E a Miranda, como ela tá? — ah, dela você pergunta, né?

— Saiu há pouco para uma seleção. —
Levantei-me, enquanto bocejava. Miranda teve o cuidado de não subir as persianas naquele dia, então o quarto estava escuro.

— Ela parece ser uma menina centrada.

— Ela é uma mulher centrada — dei ênfase em mulher.

— Marisa está inventando de fazer uma festa de aniversário para mim — resmungou. — Vai ser na sexta. Traga sua... namorada. — Ninguém poderia dizer que ele não estava tentando.

— Uma festa?

— Um churrasco na verdade. Acho que o aniversariante vai dar uma de churrasqueiro, mas ai de mim ir contra qualquer ideia daquela louca.

— Como o senhor está? Quer dizer, o senhor gosta mesmo dela?

Ele hesitou, e mesmo por telefone, eu me senti envergonhada por ter feito a pergunta. Meu pai e eu éramos pessoas que amavam muito, sofríamos demais, mas não sabíamos demonstrar muito isso.

— Ela me faz sentir jovem. E eu gosto muito dela — confessou em voz robótica.

— Eu adoro ela — dei uma espécie de aval.

— Impossível não adorar, ela parece um sol que chega iluminando qualquer lugar — soltou de repente e então se calou, eu imaginei que suas orelhas estavam queimando de vergonha naquele momento. — Bom filha, boa sorte aí.

— Obrigada.

— Não tem problema se não der certo, a padaria sempre vai ter uma vaga para você — fiz uma careta.

— Tá bom pai. Beijo e... amo o senhor.

— Também te amo. Não esqueça de ligar para o seu velho. Mandar mensagem no zap não é a mesma coisa.

— Tá certo.

A gente desligou ao mesmo tempo e eu me senti culpada por ter mentindo sobre estar procurando um emprego. Me amarfanhei de volta na cama e fiquei olhando o teto. Fui desperta do meu torpor com o interfone tocando.

— Bom dia, dona Alexia — o porteiro me cumprimentou, imaginei que era o turno do Antônio.

— Bom-dia, Antônio.

— Tem um moço aqui chamado Rangel e disse que quer entrar, eu avisei que dona Miranda saiu cedo, mas ele insiste.

Senti um baque na boca do estômago e meu coração acelerou. Rangel, o ex de Miranda estava mesmo ali? Deveria ser um sonho, ou melhor, um pesadelo.

Alexia - RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora