#20

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Alexia

Acordei sentindo uma forte cólica. Miranda dormia placidamente ao meu lado. Sentei-me, sentindo meu útero se partir ao meio. Caminhei até a sala pegando um comprimido e engolindo-o com um pouco de suco de laranja.

Estava escuro e o relógio marcava 04:00 am. Me dirigi ao banheiro social, onde tirei o coletor, lavando-o e fazendo uma rápida higiene.

Não estava com uma gota de sono sequer. Vagueei pela sala, pensando em ligar a televisão, começando a me senti entediada. E então vi o notebook de Miranda em cima do balcão. Olhei para o quarto e tentei escutar qualquer barulho que denotasse que ela acordara, mas estava tudo tão silencioso que eu ouvia os meus ossos estalarem a cada passo.

Abri o aparelho, esperando ter alguma senha, mas continuava do mesmo jeito, exceto por a foto de seu ex ter sido substituída por uma minha. Eu me odiava por ser tão curiosa. Pelo visto a fruta nunca caía muito longe da árvore. Comecei a fuçar as coisas dela: filmes, músicas, fotos, vídeos, livros.

Opa! Abri uma pasta e nela havia mais pastas cheias de documentos. Cliquei em um documento enquanto olhava para trás, temendo ser pega.

" O dia estava frio, o ar congelado nas ruas enquanto os transeuntes cumpriam suas obrigações indo de mercado a escritório, de escritório à creche. Luce se via na frente de um hospital, apoiando seu corpo fraco no tronco de uma árvore com a copa cordada em quadrado.

Para muitos, aquele dia era o pior dia de suas vidas, quanto ao resto, viviam suas rotinas, ganhavam na loteria, aparavam a grama e preparavam uma festa de aniversário.

Luce experimentava o pior dia de sua curta vida. Ela sentiu seu estômago se apertar, dobrou o corpo, vomitando a bile enquanto seu corpo se contraía em espasmos.

"Moça?" Ela virou-se, encontrando um enfermeiro negro com olhos de mar..."

Miranda escrevia?, perguntei-me debilmente enquanto lia a estória. Abri outros documentos e era a mesma coisa. Tinham poesias, ideias do que escrever e estórias e mais estórias.

Encontrei uma, que me capturou. Era sobre um pobre ferreiro que em um dia de chuva, ouvira o barulho de um gato miando, mas o gato revelara ser uma pobre criança recém-nascida abandonada à sua porta.

O dia começou a clarear e então a porta do quarto rangeu. Fechei o Notebook rapidamente, indo abrir a geladeira.

- Ei - murmurei enquanto comia uma azeitona e colocava água gelada em um copo.

- O que você fez?

Gelei, sentindo meu corpo ficar suspenso. Se Miranda escrevia e nunca contou, era porque era algo dela, íntimo. Mesmo que ela escrevesse melhor do que muito autor famoso...

- Ham? - dei uma de desentendida

- Tô morrendo de fome, fez o quê para a gente?

- Ah - expirei, sentindo meu corpo relaxar.

Se ela quisesse que eu lesse suas coisas, ela já teria me mostrado. No entanto, eu fuçara de novo as coisas dela. Minha maldita falta de confiança, meu ciúme, minha invasão.

- Não fez nada? - balançou a garrafa de café vazia enquanto olhava o fogão limpo.

- O que você quer de café da manha - perguntei enquanto tirava os ovos da geladeira.

- Quero aquele cuscuz com frango que só você sabe fazer.

- Não deu nem seis horas ainda, como pode querer comer isso?

- Eu dormi sem jantar.

- Sério, onde você enfia tudo isso?

- Tenho um organismo rápido - deu de ombros, vindo me ajudar.

Fiz frango cozido e cuscuz. Miranda fez o café e lavou a louça. Eu não sentia fome de manhã, mas como estava acordada há um bom tempo, eu tomei café com ela.

Ela se levantou para atender uma ligação e eu tirei a mesa do café, abrindo as janelas.

- A entrevista foi remarcada para amanhã às oito horas - ela gritou ao chegar na cozinha e me deu um abraço. - Parece que apenas uma pessoa conseguiu chegar lá.

- Que maravilha - sorri junto, sentindo a felicidade dela se espalhar pelo ambiente.

Passamos o dia grudada. E assistimos a uma temporada inteira de Futurama enquanto comíamos baboseiras.

Tentei sondar sobre sua viajem, como havia sido o divórcio, mas ela não quis me contar.

Eu odiava isso nela. Miranda sempre me colocava de lado, nunca partilhava nada comigo. Ela era uma ostra quando dizia respeito à sua vida perolada e protegida.

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Alexia - RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora