#25

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Miranda

Entrei na agência apressada, o telefone colado na orelha enquanto eu segurava vários boletos. O banco estava lotado e eu entrei em uma fila para pegar uma senha.

— ...Cristina vai cobrir essa reportagem, eu já estou encarregada de editar aquela matéria sobre as creches públicas

— Ela está doente, querida.

— Ela não pode ficar doente — Carlos riu da minha afirmação sem sentido.

— Pessoas adoecem, querida. Receio que vai ter que cobrir a reportagem e ainda editar a matéria.

— Mas que merda, Cristina não poderia...

Estagnei. Senti um peso na barriga, igual quando eu pulava de lugares altos. Aquilo me deixou enjoada, arrepiada e assustada. Tudo ao mesmo tempo.

Minhas mãos suadas apertaram o celular com força, enquanto eu a olhava, vidrada. Senti minha garganta seca coçar e meus olhos arderam, sem piscar. 

É ela!, sussurrei mentalmente.

Estava com os cabelos curtos e sem resquício algum do loiro que as minhas lembranças borradas e esmaecidas me torturavam antes de dormir. Não usava acessório algum, apenas um relógio de couro preto.

Eu bebi de sua imagem, como se tivesse permanecido em um deserto falecendo de sede. Contei os sinais que subiam do pescoço para o maxilar. Na boca em forma de coração, nos olhos grandes e noturnos.

Não percebi que havia largado a fila, apenas que eu estava de pé, olhando-a a uma distância segura e de repente estávamos frente à frente.

Engoli em seco, totalmente despreparada para meu ato impulsivo. Notei que havia cortado a vez da próxima pessoa a ser atendida, mas não percebi os olhares feios ou ouvi as reclamações de tão focada que eu estava.

Alexia me encarou, seu rosto inexpressivo. Os olhos estáticos.

— Bom-dia, em que posso ajudá-la? — sua voz saiu modulada. As mãos unidas sobre a mesa em uma calma tão genuína. Eu sentia que poderia arrancar os cabelos da minha cabeça, tamanha agonia e desespero.

Olhei-a através do vidro sentindo raiva daquela maldita barreira, eu queria me jogar sobre balcão e abraça-la. Sentir seu cheiro pueril, ouvir sua voz sussurrar em meu ouvindo enquanto seus braços me protegiam.

Procurei minha voz, mas ela estava presa por um bolo em minha garganta que não me permitia respirar direito. Eu parecia que estava entrando em colapso.

Alexia me encarava como se eu fosse uma estranha, apenas mais um cliente da agência que ela atendia diariamente e depois chamava o próximo. Seu olhar envidraçado, parecia me atravessar e o sorriso que estampava no rosto fazia tremer um músculo da bochecha.

— Você fugiu — uma voz estranha e engasgada saiu por entre meus lábios. Alex ergueu uma sobrancelha, franzindo a testa. — Você fugiu — repeti mais audivelmente, sentindo meu peito queimar e minha cabeça girar. Respirei, fitando-a sem desviar meu olhar um milímetro sequer.

Alexia ainda continuava a fitar o vazio, seu olhar me atravessando. Tentei continuar a falar, forçando o bolo garganta abaixo. Eu queria que ela ouvisse tudo o que eu tinha a dizer.

— Eu imploro seu perdão, por favor — choraminguei, sentindo um silêncio nos envolver. — O que eu fiz, não merece desculpa nenhuma. E eu aceito se nunca me perdoar por isso, mas por favor...

Eu me contradizia enquanto a fitava.

"Eu sinto tanto a sua falta, falta do seu cheiro, seu beijo. Por favor, me responda. Estou morrendo sem você. Todos os dias eu morro um pouquinho."

Alexia - RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora