A VERDADE NO CAPITALISMO [PT 2]

59 1 0
                                    

O sistema resultante, contudo, demonstra ser intrincadamente dependente de

ficções jurídicas (hiyal) que fazem ressurgir novamente todo o problema ao

tornar o plano fictício a matéria de discussão basilar dos contratos financeiros.5

Parece-me que não há alternativa além de enfrentar as consequências e aceitar

que os novos instrumentos financeiros são uma extensão natural dos princípios de

mercado em áreas que ainda não foram totalmente exploradas. Dizer que o uso

desses instrumentos será sempre desonesto é nos privar da distinção bastante real

que devemos fazer entre aqueles que negociam com franqueza e honestidade

com esses ativos fictícios daqueles cuja intenção é explorar e enganar.

Conservadores acreditam na propriedade privada porque respeitam a

autonomia do indivíduo. É justo dizer, no entanto, que muitos conservadores

falharam ao não levar a sério os numerosos abusos aos quais a propriedade está

sujeita. Economistas libertários têm enfatizado corretamente o papel do mercado

na disseminação da liberdade e da prosperidade, e mostraram claramente que o

contrato salarial não é, como supôs Marx, um jogo de soma zero no qual uma

parte ganha o que a outra perde, mas um arranjo de benefício mútuo. Mas o

mercado só é o mecanismo benigno que Hay ek e outros descreveram quando é

restringido por um estado de direito imparcial e apenas quando todos os

participantes assumem os custos de suas ações assim como tiram proveito dos

benefícios.

Infelizmente, aquela visão idealizada do mercado está cada vez mais longe da

verdade. Certamente, no âmbito local, os negócios privados têm todas as

características benéficas e de liberdade intensa que os libertários enfatizam. Mas

tão logo ampliamos a área para considerar as atividades das grandes

corporações, a imagem muda de figura. Em vez de competição benigna para

conquistar uma fatia do mercado, descobrimos uma competição maligna para

externalizar os custos. A empresa que pode transferir seus custos para terceiros

tem uma vantagem sobre aquela que é obrigada a assumi-los por conta própria,

e, se os custos podem ser transferidos de forma tão ampla a ponto de ser

impossível identificar uma vítima, também podem ser efetivamente liquidados.

Considere as garrafas como um simples exemplo. Elas costumam ser

comparativamente caras de se produzir e quando eu era criança os fabricantes

de bebidas engarrafadas cobravam dois pence por unidade. Esse valor seria

restituído quando a garrafa fosse devolvida na loja para ser reutilizada pelo

fabricante. Na época, dois pence eram muito dinheiro — quase a metade do

preço da bebida. Ninguém jogava as garrafas no lixo e todas eram recicladas.

Em nenhum lugar na margem ou ao longo das linhas ferroviárias você jamais

COMO SER UM CONSERVADOROnde histórias criam vida. Descubra agora