O sistema resultante, contudo, demonstra ser intrincadamente dependente de
ficções jurídicas (hiyal) que fazem ressurgir novamente todo o problema ao
tornar o plano fictício a matéria de discussão basilar dos contratos financeiros.5
Parece-me que não há alternativa além de enfrentar as consequências e aceitar
que os novos instrumentos financeiros são uma extensão natural dos princípios de
mercado em áreas que ainda não foram totalmente exploradas. Dizer que o uso
desses instrumentos será sempre desonesto é nos privar da distinção bastante real
que devemos fazer entre aqueles que negociam com franqueza e honestidade
com esses ativos fictícios daqueles cuja intenção é explorar e enganar.
Conservadores acreditam na propriedade privada porque respeitam a
autonomia do indivíduo. É justo dizer, no entanto, que muitos conservadores
falharam ao não levar a sério os numerosos abusos aos quais a propriedade está
sujeita. Economistas libertários têm enfatizado corretamente o papel do mercado
na disseminação da liberdade e da prosperidade, e mostraram claramente que o
contrato salarial não é, como supôs Marx, um jogo de soma zero no qual uma
parte ganha o que a outra perde, mas um arranjo de benefício mútuo. Mas o
mercado só é o mecanismo benigno que Hay ek e outros descreveram quando é
restringido por um estado de direito imparcial e apenas quando todos os
participantes assumem os custos de suas ações assim como tiram proveito dos
benefícios.
Infelizmente, aquela visão idealizada do mercado está cada vez mais longe da
verdade. Certamente, no âmbito local, os negócios privados têm todas as
características benéficas e de liberdade intensa que os libertários enfatizam. Mas
tão logo ampliamos a área para considerar as atividades das grandes
corporações, a imagem muda de figura. Em vez de competição benigna para
conquistar uma fatia do mercado, descobrimos uma competição maligna para
externalizar os custos. A empresa que pode transferir seus custos para terceiros
tem uma vantagem sobre aquela que é obrigada a assumi-los por conta própria,
e, se os custos podem ser transferidos de forma tão ampla a ponto de ser
impossível identificar uma vítima, também podem ser efetivamente liquidados.
Considere as garrafas como um simples exemplo. Elas costumam ser
comparativamente caras de se produzir e quando eu era criança os fabricantes
de bebidas engarrafadas cobravam dois pence por unidade. Esse valor seria
restituído quando a garrafa fosse devolvida na loja para ser reutilizada pelo
fabricante. Na época, dois pence eram muito dinheiro — quase a metade do
preço da bebida. Ninguém jogava as garrafas no lixo e todas eram recicladas.
Em nenhum lugar na margem ou ao longo das linhas ferroviárias você jamais
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COMO SER UM CONSERVADOR
AcakLIVRO ESCRITO POR ROGER SCRUTON. O filósofo político inglês Roger Scruton construiu sua reputação ao empregar a sua inteligência na reflexão e divulgação do pensamento conservador. É um pensador que sabe conjugar de forma exemplar um raciocínio pr...