4. Fica!

139 21 18
                                    

Alguns dias depois...

— Zac, você já está entediado? — perguntou Lily enquanto o via procurar uma camiseta na mala que nem havia desfeito ainda.

— Hmm... não. Quer dizer, a gente tem saído esses dias, todos os dias.

— É... Eu não sei mais o que posso te mostrar. Ainda temos alguns dias até a próxima exposição e não imagino o que você gostaria de fazer. — disse.

— Não vejo problema em ficar aqui. Além do mais, hoje é domingo... está chovendo... Eu sou entediante, é isso? — Fez-se de vítima levando Lily a risada.

— Não é isso. Só quero que você aproveite ao máximo a viagem e que não troque de roupa na minha frente! O que você está fazendo? — ela olhou para o outro lado e jogou uma almofada na direção dele.

— O que foi? Só estou trocando a camisa, nada demais. — ele disse.

— Você não ficaria desconfortável se eu trocasse de roupa na sua frente?

Ele não respondeu, apenas riu balançando a cabeça em sinal negativo, como quisesse espantar o breve pensamento e tirou o elástico do pulso para ajeitar o cabelo.

Vou sentir sua falta. — Deixou escapar.

Dessa vez, foi Lily quem ficou sem resposta. Ajeitou-se no sofá e só conseguiu deixar escapar um sorrisinho.

— Que cara é essa? — ele perguntou olhando para ela enquanto preparava café em uma máquina decente que tinham acabado de comprar.

— Não é nada. — Encolheu os ombros e desviou o olhar, mirando a torre Eiffel lá longe.

Pela forma como ficou envergonhada, ele achou que poderia talvez dar mais um passo. Alguns sinais mostravam que não havia nenhum bloqueio para ele falar. Ainda não sabia o que sentia, mas com certeza gostava de estar com ela e queria que soubesse disso.
Lily sentiu que o clima mudou, não conseguia controlar o calor que sentia no rosto e que seguramente denunciava o que tinha em mente depois de Zac ter falado algo sem importância. Não significava nada. Não deveria significar.

— Eu não vou poder ficar depois da próxima exposição. Você sabe, né? Preciso voltar pra NY porque minha mãe está indo pra Londres no mesmo dia que eu chego em casa.

Ele fez beicinho e entregou-lhe o café, sentando ao seu lado. Lily afastou-se um pouco para ter espaço e continuar olhando para ele enquanto conversavam. Perto demais. Para se defender, inconscientemente, colocou umas almofadas entre eles.

— Está dizendo isso pra eu repetir que vou sentir sua falta? — perguntou sem tirar os olhos dela.

— Eu sei que você vai se virar sem mim. Já começou até a arriscar umas palavrinhas em francês que eu vi.

— Não é disso que eu estou falando. — E tirou o sorriso do rosto.

Ficou sério. Ele nervoso por arriscar dizer essas coisas e ela sem acreditar no que ouvia. Arrumou o cabelo atrás da orelha como pretexto para desviar os olhos dele.

— Vou sentir falta de você aqui comigo. Acordando com o cabelo bagunçado, implicando com meu café, me mandando desfazer a mala todo santo dia.

— Nossa! Não ouvi nada de bom até agora. — ela disse entre risos.

— Quer saber? — disse ele procurando a mão dela, que mexia na bainha da camiseta. — Bom mesmo é acordar e ver você todo dia.

Os dedos se entrelaçaram devagar e ela deixou que ele continuasse. Chegou mais perto.

— Por que isso agora? — Podia sentir a sua respiração.

— Te incomoda? — ele perguntou soltando sutilmente a mão dela.

— Não. É que... não sei. É novo pra mim. A gente nunca falou sobre isso e você é tão reservado. Fico sem saber o que dizer.

Lily sentia uma mistura de vergonha e alívio por finalmente poder contar o que sentia e não sabia o que esperar. Precisaria pensar mais sobre isso, agora que ele tinha mostrado interesse.

— Tudo bem, não queria te assustar. Falei demais. — ele disse.

— Não é isso. Fico feliz em saber... Ai, é tão estranho dizer isso. Desculpa, fico constrangida porque gosto de estar com você também. Mas preciso de um tempo pra ficar sozinha. — Levantou-se abruptamente em direção ao quarto e saiu de lá 5 minutos depois com a bolsa tiracolo.

— Lily! — Ele não sabia o que dizer, mas achou que tivesse estragado a amizade. Foi em direção à porta para impedir que ela saísse tão repentinamente.

— Está tudo bem! Eu só preciso tomar um ar. — Colocou a mão no ombro dele para parecer mais amigável.

Soltou sua mão devagar enquanto a olhava nos olhos para ter certeza de que estava tudo bem mesmo. Ela só queria fugir dali, ainda que ao mesmo tempo quisesse ficar. Foi muita informação para as primeiras horas da manhã.

Antes de deixá-la ir, ele tentou mais uma vez:

— Fica. Eu deixo você ficar sozinha aqui, se quiser.

Encantada com a gentileza, passou a mão em seu rosto.

— Volto logo, prometo!

Ao tentar passar entre ele e a porta aberta, ficaram se olhando por uns segundos que pareceram demorar bem mais. Finalmente, Lily abaixou a cabeça e saiu.

Ela não quis fazer cena, apenas queria respirar um pouco fora do apartamento. Temia que esses dias estando tão próxima de Zac, a deixassem ainda mais confusa. Passou toda a tarde tentando se distrair em um museu próximo e voltou ao apartamento no início da noite. Ao fechar a porta, mesmo sendo discreta, acabou fazendo-o despertar do cochilo que tirava no sofá. Atrapalhou-se com guarda-chuva, sacolas com o jantar para os dois e vinho. Não parecia mais querer evitar sua presença. Na televisão, um documentário em francês que certamente ele não tinha assistido nem um trecho.

— Está com fome? — ela perguntou como se nada tivesse acontecido.

— Um pouco... — ele se levantou e a ajudou a arrumar as coisas na mesa. — Não precisava ter se incomodado.

— Não custava nada, já que estava na rua.

Jantaram e conversaram outros assuntos até que Lily decidiu ir para o quarto mais cedo que de costume. Ele não quis tocar no assunto e deu tempo ao tempo, pelo menos naquela noite. Não queria pressioná-la a fazer nada. Passava horas pensando em Lily antes de dormir e relembrar um gesto ou uma fala que acontecia durante o dia tinha virado passatempo preferido antes de pegar no sono.

Worlds apartOnde histórias criam vida. Descubra agora