6. Sentidos

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Durante o voo para casa, Lily não parava de pensar nos momentos que tinha passado na noite anterior. Fazia força para se lembrar de cada detalhe, ainda sem acreditar. Sabia que tinha muito trabalho pela frente em Nova Iorque e não teria a companhia de Zac para tomar o café da tarde, nem para arrastar a força para algum bar nas noites de sexta-feira.

Em vez de distrair-se, Lily ia para casa ansiosa para falar com ele através de videochamadas durante o final de semana, que era quando não trabalhava. Ele contava empolgado sobre o que estava produzindo, suas ideias para as próximas obras, as aulas que começou a frequentar na Universidade.

Sim, além de ficar em Paris para mais alguns meses de exposição, ele começou a fazer cursos livres na Universidade como convidado. Ter contato com outros artistas foi ótimo para que ele, de certa forma, validasse seu conhecimento de autodidata. Zac não tinha muitos amigos por timidez. Ao se ver sozinho em um país onde não falava a língua, despertou desenvoltura e independência, deixando-se conhecer pelos outros. Isso facilitaria o relacionamento com Lily mais adiante. Ter falado o que sentia na noite anterior à volta dela para casa foi o pontapé inicial para esse novo Zac. Já arriscava até umas conversas em francês, que estudava até tarde em casa.

Em uma dessas videochamadas, ele tinha uma novidade para contar.

— Lily, eu sei que tinha prometido voltar no mês que vem, mas me surgiu outra oportunidade que não gostaria de perder. — ele disse.

— O que é, Zac? Outra exposição?

— Não, é mais do que isso. Eu fiz os cursos e agora apareceu a chance de estudar no curso regular como bolsista. Disseram que meu trabalho é bom e eu deveria aprimorar.

Lily ficou sem palavras por alguns segundos, mas sem dúvidas, estava feliz por suas conquistas. Só não esperava ter que passar mais tempo afastada. Sua voz dela era uma mistura de alegria e desapontamento.

— Nossa, Zac. Parabéns! Quando eu digo que você é talentoso... outras pessoas viram isso, porque é óbvio. Você tem algo a mais. Porque eu não te achei antes? — Tentou afastar o egoísmo.

— Você é culpada por eu estar aqui, lembra? — ele perguntou.

— Verdade. Vou ligar para o reitor na segunda-feira de manhã e pedir para não te aceitar. — ameaçou.

— Eu não deveria ter dito isso...

Silenciaram enquanto se olhavam pela tela do laptop.

— Estou com saudade. — ela falou.

— Eu também. Todo dia antes de dormir fico pensando na nossa primeira e única noite juntos. — ele confessou.

— Não faço outra coisa. Preciso te ver.

Zac sempre pedia pra Lily continuar com o computador ligado até pegar no sono ou provavelmente até a bateria descarregar, o que acontecesse primeiro.

***

Como já era de costume, Margot envolvia Lily em atividades importantes em benefício da galeria sem que a filha soubesse com a devida antecedência. Tentou convencer sua mãe para ir à Dubai em seu lugar para que ficasse na galeria, mas seu pedido não foi atendido. É verdade que de qualquer forma, estaria longe de Paris, bem distante da pessoa com quem ela queria estar. Tudo o que ela queria era se livrar de tudo e voar para dar continuidade no romance interrompido.

Em seu apartamento, Zac detestava as horas livres. Preferia passar o dia e a noite envolvido no trabalho, colocando em prática com mais discernimento tudo o que aprendia na faculdade. A saudade apertava e ele não sabia quando encontraria Lily. Mesmo não concordando, ela atendia os pedidos da mãe e isso o incomodava um pouco. Ela passava-lhe segurança e Zac gostaria de estar com ela naquele momento em que tudo era novo. Achava que se sairia muito melhor com ela por perto. Passou a esperar todas as noites para conversar, mas nem sempre dava certo, pois além do fuso horário, por vezes Lily estava cansada e ia para cama cedo. Os novos clientes eram desconfiados e exigentes, faziam um sem número de perguntas e demandavam um esforço que ela não estava disposta a fazer.

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