12. No topo

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Zac se enfiou embaixo da água gelada com o chuveiro aberto no máximo. Queria que a ducha levasse aqueles pensamentos embora. Deu-se por satisfeito pelo banho frio tê-lo acalmado e foi deitar-se ao lado de Lily cheio de culpa. Ele não havia passado dos limites fisicamente, mas em sua mente aquelas imagens insistiam em voltar. Seda... Tule... Torceu para que quando o efeito do vinho passasse, não lembrasse mais daquela noite.

Lily se levantou e o deixou dormindo pela manhã para trabalhar tentando adivinhar a hora que ele tinha chegado, pois não acordou durante a madrugada. Sorriu enquanto o observava dormindo e por um momento achou bobagem ter desconfiado dele. Pegou sua bolsa e saiu.

No fundo ainda estava magoada sem motivo, mas olhar para ele de manhã ainda a fazia suspirar e reconhecer o quanto o amava. O dia seria corrido pra Zac, pois naquela noite seria a inauguração da exposição em parceria com Julyenne. Lily não o encontraria até a hora de sair de casa.

Ele acordou ainda com aquele sentimento de culpa embrulhar o estômago, mais triste pela consciência do que pelos fatos. Levantou-se e foi para a Universidade rezando para não encontrar Julyenne, mas seria praticamente impossível naquele dia. Teve sorte em estar ocupado com os últimos detalhes e passou o dia evitando a colega, constrangido pela noite anterior.

Ao final da tarde, quando estava indo embora, esbarrou com ela no café.

— Oi! Você está me evitando? — Ela se colocou na frente dele.

— Haha, imagina. Estava ocupado. Tudo certo pra hoje à noite?

— Hoje à noite? — July sorriu.

— A exposição.

— Ah, sim. Acho que estamos atrasados inclusive. — ela disse.

— Estamos. Acho melhor ir pra casa para voltar a tempo. Até logo! — Deu graças a Deus por ambos estarem com pressa.

O clima era estranho entre eles. Precisava ver Lily naquele momento, precisava respirar outros ares.

Lily estava quase pronta em casa, faltando só o batom para terminar de se arrumar e aguardar Zac chegar para saírem juntos. Seu vestido preto precisava das mãos dele para fechar o zíper das costas. Ele a surpreendeu no quarto chegando de mansinho, enquanto ela se olhava no espelho. Estava linda, mas não se sentia assim. Sua autoestima andava muito baixa ultimamente.

— Uau! Você está linda! — Zac disse entrando no quarto. Lily ficou feliz em vê-lo.

— Obrigada! — respondeu incrédula.

— Vou tomar um banho bem rápido e me arrumo num instante. — Foi em direção ao banheiro do quarto tirando a roupa e largando pelo chão.

— Quis ficar pronta antes pra não te atrasar. — Disse em tom um pouco desanimado.

— Tudo bem? — Ele voltou do banheiro pra ver sua resposta.

— Tudo. Te espero na sala, vou assistir tevê enquanto isso.

Homens são extremamente práticos. Enquanto Lily passou duas horas se arrumando, Zac ficou pronto em 15 minutos. Vestiu um terno preto com camisa combinando e gravata. Estava perfeitamente alinhado e bonito, com o cabelo preso e de barba feita. Lily ficou impressionada! Há algum tempo não o via tão lindo. Chegou a rir da própria reação!

— Que cara é essa? Estou engraçado? — E ela continuava boquiaberta.

— Não... desculpa. Você está lindo! Nossa! Eu não sei nem como dizer

— Obrigado, amor! Você também está deslumbrante. — Zac foi em direção a Lily para abraçá-la.

Lily se entregou àquele abraço, sentindo seu cheiro por apenas alguns segundos que pareciam horas fora de órbita.

— Eu te amo! — Ele disse com os olhos brilhando, segurando o rosto da amada e estampando um sorriso de orelha a orelha que chegava a ser infantil. Os olhos dela ainda traziam incertezas e receios.

Lily não conseguiu responder o mesmo. Ainda tinha dor no peito e medo, muito medo.

— Lily, desculpa estragar o seu batom, mas quero te beijar. — ele disse, trazendo o rosto dela para mais perto dando-lhe permissão com um sorriso.

— Tá certo. Nada que eu não possa refazer depois. — Encolheu os ombros e se aproximou um pouco mais, fazendo com que seu corpo encostasse no dele. Sentiu as mãos quentes segurarem sua cintura e suspirou.

— Você não tem motivos para ter ciúmes. — Ah, tem sim!

— Não vamos conversar sobre isso agora, Zac. O que você estava falando mesmo sobre tirar o meu batom? — Eles riram.

— Claro! — Deu vários beijos em meio a sorrisos.

Também tinha a impressão de que poderia guardá-la dentro do peito ao sentir seu perfume. Era tanta vontade que a abraçou mais forte e se aprofundou num beijo mais intenso, segurando seu pequeno rosto em suas mãos grandes, mordendo-lhe o lábio devagar, dando apenas uma pausa para respirar.

— Amor, você prometeu desfazer a maquiagem, não o look todo. — disse ela sorrindo.

— Ah, por favor. Te quero tanto! — Não a deixava sair de seus braços.

— Na volta, eu prometo. É feio se atrasar. — disse, livrando-se dele com a mão em seu peito.

***

Ao chegar na festa, notou todos muito elegantes e deu de cara com quem não gostaria de encontrar naquela noite, sua amiga Julyenne.

— Lily, você está muito bonita. De onde é esse vestido? — disse.

— Obrigada, July! Nenhum estilista que você conheça. Este é um vestido que gosto muito. Nunca fui de futilidades, você sabe. — Lily retrucou.

— Sim, claro. Você parece mais magra. Está de dieta? — Insistiu em ser inconveniente.

— Não necessariamente, mas me sinto bem. E você? Noto algo diferente, mas não consigo dizer bem o que é. — disse Lily.

— Você está se referindo ao meu decote? É isso mesmo que você está pensando. Não ficaram lindos? — Olhava para os próprios seios com orgulho, deixando Zac desconfortável. Ele procurou olhar para outro lugar.

Zac acompanhava o diálogo apreensivo e louco de vontade de sumir dali. Até o seu riso parecia nervoso. Julyenne se distraiu com alguém importante que chegara e logo interrompeu o bate-papo com Lily para pegar Zac pelo braço e ir em direção ao Reitor, deixando a amiga lá sozinha com a taça de espumante na mão.

— Sr. Jacques, que prazer tê-lo aqui na nossa exposição. Agradecemos sua presença no nosso evento. Já conhece nosso artista ilustre, Zachary? — perguntou Julyenne

Zac olhava por cima do ombro dela, com um sorriso engessado para o Reitor e o olhar preocupado em Lily. Quando fizeram contato visual, Zac fez cara de desculpas e Lily falou à distância:

— Tudo bem. — Piscou para ele e pegou outra taça da bandeja que passava à sua frente.

Na verdade, ela se sentiu péssima por ser colocada de lado. Saiu do salão e foi para a área da piscina tentar se adormecer com mais taças de espumante, copos de uísque e qualquer outra bebida alcoólica que fosse oferecida na esperança de sumir. Na verdade, àquela altura Lily já se sentia invisível. Depois de alguns drinks, viu Zac fazendo tour no salão com Julyenne, mostrando seus quadros e conhecendo gente importante.

Ele não precisaria mais dela aquela noite, pensou. Pediu um táxi e foi para casa. Sentia-se tão mal que não conseguia chorar, um enjoo embrulhava-lhe o estômago. Não comeu nada e nem conseguiria.

Ao chegar em casa, foi direto para o banheiro e se arrependeu de ter escolhido aquele vestido que precisava de outra pessoa para fechar e abrir. Começou a chorar sem fazer barulho, só deixou que as lágrimas corressem e a deixassem com a aparência ainda pior. Sua máscara escorria com as lágrimas e Lily se encarou no espelho. Maquiagem borrada e vestido cortado por suas mãos aflitas com a tesoura que ficava guardada na gaveta da pia. Nunca tinha se visto em estado tão deplorável, sentia pena, arrependimento, enjoo de si mesma.

Lily nunca tinha amado tanto e nem se sentido tão insegura com sua condição, sua aparência. Fez de tudo para que Zac chegasse no topo e para sua tristeza, não estava lá com ele. Chorava sentada no chão do banheiro com orgulho ferido.

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