8. Mudanças

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Lily começou a pesquisar voos assim que acordou para resolver em seguida detalhes da mudança. Claramente, pelo que conhecemos de Dona Margot até o momento, aquilo não seria nada fácil.

Em um dia que sua mãe estava atarefada na galeria entre telefonemas e reuniões, durante um breve intervalo, Lily disse:

— Mãe, preciso conversar com a senhora.

— Não me venha falar daquele rapaz sem classe, Lily.

Ela respirou fundo tentando manter-se calma, pois sabia que aquela conversa não seria fácil. Lily sentia como se tivesse quinze anos de novo, falando sobre um namoradinho. Porém, agora ela estava cheia de ser tratada como criança. Da última vez que tiveram aquele tipo de conversa, Lily tornou-se mochileira pelo mundo. Só retornou porque estava com saudades de casa e não queria ficar sem falar com a mãe para sempre.

— Mãe, preciso que a senhora veja alguém de confiança para me substituir. Não pretendo mais trabalhar na galeria. — esperou a resposta apreensiva.

Dona Margot olhou incrédula para a filha.

— Você só pode estar brincando. Que piada é essa? Vai virar andarilha de novo? — Riu com sarcasmo. Lily tentou manter-se calma, apesar de estar furiosa.

— Vou mudar pra Paris! — falou em tom firme para mostrar que estava decidida.

— Aquele pobretão está fazendo sua cabeça, não é? Eu sabia que ele não era boa gente desde o primeiro dia. Você está usando drogas? Ele deu drogas a você? Ele tem cara de vagabundo. — Margot falava sem parar e a filha ficou surpresa com o que pensava de Zac.

— Ele serviria para mim se fosse rico, né? Isso não faz de ninguém boa gente. Caráter é mais importante que dinheiro, sabia?! E você (Lily sabia que ela não gostava de ser chamada de você) é falsa! Sorri para as pessoas, mas é extremamente preconceituosa.

— Cuidado com o que você fala. Me respeite, eu sou sua mãe! Olha o que este delinquente está fazendo com você.

— Como eu posso respeitar alguém tão horrível? Que vergonha! Você (de novo!) trata mal todos que trabalham na nossa casa e aqui. Pra você, só as pessoas da sua classe são dignas de confiança. Eu não sou assim! Tenho certeza que se o papai estivesse vivo, não pensaria isso sobre Zac.

— Respeite a memória do seu pai, menina!

— Respeitar? Eu respeito muito e dou graças a Deus por ser parecida com ele. Ao ajudar as pessoas, não tratá-las com indiferença, ser generosa. Você está muito longe disso, só pensa no seu umbigo. Eu tenho vergonha de ser sua filha!

Margot não conseguiu manter a pose depois de ouvir palavras tão duras e deu um tapa no rosto de Lily. O ódio fervia no coração da menina e a vontade que teve foi de revidar, mas ao lembrar de seu pai simplesmente saiu correndo do escritório com as lágrimas escorrendo sem controle.


***

Dias depois, sem se despedir da mãe, Lily fez as malas e partiu rumo à Paris. Dormiu por alguns dias em um hotel, pois não queria encontrar Zac ainda. Queria ficar um pouco sozinha. Passou uma semana hospedada próximo a torre Eiffel, perto de onde Zac tinha seu apartamento alugado e decidiu enfim visitá-lo. Decidiu passar em uma loja para comprar-lhe pincéis novos. Para um pintor, nunca são demais. Foi pega de surpresa quando o cartão de crédito não funcionou e decidiu pagar em dinheiro mesmo. Dali iria tomar um banho e se arrumar para fazer surpresa. Chegando ao hotel, o gerente abordou Lily na entrada para conversar em um lugar reservado do lobby.

— Senhorita Lily, eu lamento, mas estamos com problemas para confirmar sua estadia pelo cartão de crédito informado no seu check-in. Gostaria de informar outra forma de pagamento?

— Que estranho... tudo bem, vamos ver. Vamos usar esse cartão aqui. — disse Lily, abrindo a carteira e escolhendo um dos cartões. O rapaz alto e educado estava se esforçando para que a moça não passasse nenhum tipo de constrangimento, mas já tinha visto aquela cena diversas vezes.

— Desculpe, senhorita. Deve estar havendo algum problema. Gostaria de telefonar para sua operadora de cartão? Pode ter ocorrido algum bloqueio devido ao uso fora do seu país.

Lily guardou os cartões e agradeceu pela discrição. Tentaria ligar do seu quarto. Descobriu então que sua mãe havia bloqueado todos os seus cartões e só contava com o dinheiro na conta, que daria para alguns meses talvez. Porém, não num hotel tão bem localizado e confortável, teria que se sustentar e agora não tinha mais emprego.

Saiu com muitas preocupações em direção ao apartamento de Zac. Chegando em frente ao prédio, tocou o interfone. Ele demorou a atender e Lily quase desistiu.

— Pronto! Quem é? — ele perguntou.

— Zac, sou eu Lily. — em seguida, o portão destravou.

Ele abriu a porta com os cabelos soltos e úmidos do banho, usando uma camiseta branca quase molhada com jeito de quem vestiu sem se secar com a toalha e uma calça esportiva. Lily chegou a desconcentrar dos aborrecimentos e lembrar da saudade que estava sentindo do namorado.

— Agora você só vai aparecer de surpresa? — ele disse abrindo os braços para recebê-la. Ela o abraçou e entregou o presente.

— Trouxe isso pra você. Queria resolver a mudança antes. Como você está?

— Bem. Trabalhando e estudando bastante. Que carinha é essa? — Levantou seu rosto e deu um beijo rápido.

— Adivinha? Dona Margot... disse coisas terríveis e tirou todos os meus cartões. Estou semi falida... — explicou.

Antes de sair do hotel, ela ainda teve uma discussão épica com a mãe por telefone e confirmou todas as suspeitas. Margot desafiou Lily a viver uma vida mais simples com seu namorado pobre, em suas palavras.

— Lamento, amor. É uma situação desagradável, mas eu não vejo problema algum em você vir ficar comigo. Não volta pra Nova Iorque agora, é isso que ela quer.

— Jamais! Não vou dar o braço a torcer. Eu posso arrumar um emprego aqui muito mais fácil e rápido que em Nova Iorque. — Lily estava convencida do que dizia.

— Isso! — Olhava admirado para ela. — Nem abri o presente. Que falta de educação! — Zac pegou a caixa para abrir.

— Espero que você não tenha igual. — Lily esperava que terminasse de desembrulhar.

— Caramba, amor. Que bacana! Eu fiz você gastar seus últimos centavos? — Lily ficou séria. — Brincadeira! Gostei.

Lily foi até a geladeira pegou uma cerveja e se jogou no sofá, tirando os sapatos com os próprios pés.

— Você pretende me convidar pra assistir televisão com você ou eu devo ir dormir? — ele perguntou.

— Estou chateada, quero ficar bêbada. — Deu um gole direto na garrafa.

— Você vai precisar de várias dessa para conseguir. Não fica assim, eu sou mais legal que a cerveja. Até deixo você deitar no meu peito.

— Quem disse que eu quero isso? — Revidou rebelde.

— Vem cá, encosta a cabeça aqui. — Abriu o braço, oferecendo para ela se aconchegar no peito dele enquanto assistiam qualquer coisa na tevê.

— Amanhã retiro minhas coisas do hotel. Você me ajuda? — Lily perguntou.

— Claro! Sabe que vou curtir ver você acordar todo dia com o cabelo bagunçado e o rosto com marcas de travesseiro?

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