10. Coincidências

106 14 10
                                    

Lily não era de muitos caprichos, ainda assim Zac não queria que sentisse falta de nada. Os dois viviam de forma muito mais simples do que a época que morava com a mãe ou até mesmo sozinha. Não usava itens de luxo, roupas de marcas famosas nem nada disso, contudo, Zac tinha que se esforçar um pouco mais para manter a vida em Paris, que não era barata. Ele queria impressionar Lily com um presentinho aqui, mal sabia que a menina não fazia questão, embora fosse grata por uma caixa de macarons da confeitaria preferida ou um vestido novo para um date especial para tirá-la da rotina e deixá-la mais feliz.

Zac terminou um projeto e ficou com o turno da manhã livre, mas logo se ocupou começando a trabalhar em um café para conseguir uma grana extra, além de permanecer com as atividades na universidade trabalhando e estudando. Então, Lily começou a sentir-se sozinha e considerou arranjar um emprego inferior à sua qualificação para que Zac não se sentisse sobrecarregado financeiramente. Ela tinha certeza que envergonharia a mãe caso alguém descobrisse, porém precisava se manter. Depois de um mês considerando a ideia, resolveu conversar com Zac para dizer como se sentia.

— Zac, eu tenho visto o seu esforço pra me agradar e atenuar as últimas mudanças — desabafou.

— Eu não quero que você se sinta mal com isso. Eu sei que está sendo difícil. Trabalhar um pouco mais não me incomoda. Só quero ver você feliz. — disse Zac.

— Mas incomoda a mim! Não passamos mais tempo juntos como antes. Eu larguei tudo pra ficar com você e fico sozinha a maior parte do tempo. — disse Lily magoada.

— Eu não sei o que fazer então! Se eu ficar em casa, não temos como nos sustentar aqui. Eu estou me esforçando pra que a gente possa aproveitar, nem que seja um pouquinho, o tempo que ficamos juntos.

— Certo. É justamente sobre isso que gostaria de conversar com você. Eu quero trabalhar também. Não sei bem onde, mas acho que preciso fazer alguma coisa pra você não se sentir sobrecarregado. Além do mais, eu gastaria meu tempo fazendo algo útil. — ela disse.

— Queria muito que você fizesse o que gosta, mas sua mãe não parece querer facilitar sua vida, né? Eu lamento muito, amor, mas te apoio no que quiser fazer.

***

Zac soube de uma vaga de atendente na cafeteria onde trabalhava e indicou Lily para trabalhar no turno da tarde, enquanto ele ficava no turno da manhã e seguia para a Universidade na hora do almoço. Eles se esbarravam às portas do café na troca de turno. Era corrido, mas Lily começava a se sentir mais útil agora tendo um emprego.

Ele continuava se sentindo bastante cansado, já que tinha uma nova exposição com data marcada e precisava trabalhar em casa no final do dia até altas horas. Lily tentava acompanhar e ficar acordada conversando sobre o dia no trabalho, mas o sono vencia muitas vezes pois às 5h da manhã já tinha que estar de pé.

***

Certo dia, Lily ficou empolgada após receber o primeiro salário e foi até ao campus levar um lanche para o namorado, que ainda teria aula à noite. Um sanduíche e uma boa dose de café o manteria acordado até o fim do dia. Não conseguiu encontrá-lo na sala onde trabalhava e a moça da recepção disse que ele havia saído, provavelmente para o refeitório. Bateu um leve desânimo em saber que ele já poderia ter comido alguma coisa por lá mesmo, mas foi tentar fazer surpresa.

Ao chegar próximo, ainda no jardim que ficava em frente, Lily se deparou com Zac dando altas risadas na companhia de Julyenne. Lily não sabia que eles se conheciam, ficou em dúvida se havia mencionado o nome dele e onde trabalhava para a amiga na última conversa que tiveram. O que mais a incomodou foi perceber como eles estavam à vontade.

Respirou fundo e decidiu se aproximar.

— Julyenne?! Que surpresa! Não sabia que vocês se conheciam. — disse Lily, se juntando a eles sem esperar ser convidada.

— Oi, amor! — disse Zac com um sorriso no rosto ainda largo das risadas.

— Lily, querida! Então ELE é seu namorado? Que coincidência. — perguntou Julyenne, fingindo surpresa.

— Sim. — respondeu Lily bem séria, se ajustando na cadeira e olhando para o namorado.

— Vocês se conhecem? Ah, espera. A Julyenne é aquela sua amiga? Ela é curadora da exposição atual e vai trabalhar comigo no meu próximo projeto.

As palavras de Zac pareciam lâminas afiadas cortando a carne. Logo agora que Lily começava a se adaptar num novo estilo de vida, sua amiga estava ocupando a mesma posição na vida do Zac que ocupou um dia. Bateu uma enorme tristeza e sentimento de inferioridade, mas ela deu um gole no café, resolveu deixar para lá e chorar só quando estivesse em casa.  

"Vai trabalhar comigo", aquelas palavras ecoavam por todo o caminho até em casa. 

Worlds apartOnde histórias criam vida. Descubra agora