Finalmente, o casal havia se acertado e o projeto com Julyenne tinha chegado ao fim. Zac voltaria a ter as tardes livres, indo para a faculdade somente no turno da noite. Sua nova rotina era pintar despretensiosamente e passar as tardes com Lily. Sem pressa, sem correria.
Os dias passaram a ser muito mais leves sem a angústia de ter a falsa amiga assombrando o relacionamento deles. Julyenne afastou-se das atividades na Universidade para viajar pela Europa como curadora da exposição que Zac ajudou a produzir. Podia respirar aliviado por ficar longe de problemas e ainda receber pelo seu trabalho enquanto ela representava suas peças.
Numa tarde de sábado, como em várias outras, eles saíram de bicicleta para passear e conversar. Zac aguardou Lily sair do trabalho levando alguns comes e bebes na cesta de vime e seguiram pedalando para o Parc des Buttes Chaumont. Era verão e queriam curtir a companhia um do outro sem ver o tempo passar.
— As coisas estão começando a melhorar. — disse Zac deitado sobre a toalha estendida na grama.
— A que você se refere? — Lily perguntou, servindo-se de mais vinho branco.
— Nós dois, o trabalho.... O curso está chegando ao fim e vamos poder decidir onde morar e o que fazer depois disso.
— Vamos?
— Sim, vamos. — Zac não entendeu a ênfase que Lily quis dar à pergunta.
— "Nós" vamos?
Ele achou graça.
— Você sabe que não vou deixá-la sair da minha vida. — Segurou sua mão.
— E o que você pensa em fazer?
— Te beijar. — Desviou o assunto.
— O que?
— Agora. — Ficou sentado. Segurou seu rosto com a mão e a beijou de olhos abertos. — Vamos deixar para decidir depois.
***
O dia para a exposição de conclusão de curso havia chegado e Zac estava apreensivo, apesar de saber que seus quadros eram admirados pelos professores da banca. Foi informado que receberiam um convidado para a avaliação, mas não foi mencionado o nome da pessoa. Disseram apenas que era alguém renomado.
Foi permitida a presença de convidados e Lily estava lá na primeira fileira de assentos para assistir. Os formandos apresentavam três obras no palco e os professores da banca dariam suas impressões. Conhecidos e familiares chegaram e Lily estava inquieta pelo início da apresentação. Sentia frio na barriga como se ela mesma fosse apresentar. Sabia que era algo muito importante pra Zac e era grata pela oportunidade que teve de acompanhar seu progresso no que mais amava fazer.
Os professores tomaram seus assentos e ficou faltando apenas o convidado que estava atrasado. Qual foi a surpresa de Lily quando viu sua mãe surgir por detrás da pesada cortina vermelha do teatro. O salto do seu sapato ecoava mais alto que o normal aos ouvidos de Lily. Não esperava que Dona Margot fosse avaliar o trabalho de Zac e gelou dos pés à cabeça. Zac e ela se olharam sem falar nada.
Lily segurou a mão dele e se aproximou de seu ouvido.
— Vai dar tudo certo, amor. Confio em você!
Ele retribuiu as palavras segurando firme sua mão.
Ao ser chamado, Zac se dirigiu ao palco e Margot mantinha os olhos fixos na filha, analisando sua reação. Ele apresentou brilhantemente, dando referências estéticas e históricas sobre suas escolhas e para Lily não tinha onde colocar defeitos.
Na vez de Dona Margot falar, começou com tom ácido.
— Tenho surpresa em ver como um rapaz de origem pobre conseguiu desenvolver um trabalho com tanta qualidade. Sei que não vem ao caso, mas dificilmente alguém que não tenha viajado e conhecido as melhores obras de arte do mundo têm um olhar tão cuidadoso. Pode fazer falta algum dia e eu espero que vocês exijam esse conhecimento de campo antes de contratar alguém tão jovem, se é que consideram essa hipótese. — Olhou para os colegas da banca por alguns segundos e todos pareceram um pouco constrangidos por suas palavras.
Margot não sabia o quanto Zac era estimado na Universidade. O rapaz se sentiu diminuído com os falsos elogios de Margot, todos com uma pitada de maldade e intenção de humilhá-lo publicamente. Lily também se sentiu pequena por não conseguir frear as palavras que saíam da boca de sua mãe. Só desejava que aquela apresentação acabasse.
Ao fim, Margot desceu do palco para falar com Lily, que por sua vez não tinha nenhum ânimo em cumprimentar a mãe depois da saia justa que fez seu namorado passar diante pessoas em condições e tradição familiar muito mais privilegiada que a dele.
— Você deve estar orgulhosa do seu protegido.
— Ele não é meu protegido. — Lily tentou manter o tom de voz calmo.
— Até que você conseguiu viver bastante tempo sem pedir ajuda.
— Sim, não sou incapaz, mãe.
— Soube que está trabalhando em uma cafeteria. Porque se submete a isso? Só para viver uma aventura com esse rapaz?
— Trabalho digno e honesto... e ele é um homem incrível. Uma pena que seu preconceito não permite conhecer pessoas sinceras.
— Que seja! Não me faz falta. — Deu de ombros e se despediu sem nenhuma demonstração de afeto.
Zac estava distraído conversando com colegas e não participou da conversa.
***
Lily e Zac decidiram ficar em Paris. Na verdade, ambos tinham essa vontade mas queriam consideram os planos um do outro. Tinham se adaptado ao estilo de vida da cidade e Zac já se arriscava a conversar em francês. Durante o período que tinha as tardes livres, a namorada se dispunha a ensiná-lo.
Mudaram-se para outro apartamento em um bairro próximo ao Museu Picasso, que era o sonho de Zac. A área favorecia a exibição de seus trabalhos em um pequeno ateliê montado próximo de casa. Lily o ajudou em todo o processo, como era de costume e pode abrir mão do trabalho no café. Não poderiam estar mais satisfeitos trabalhando com o que amavam.
***
Em uma breve viagem a Nova Iorque, Lily quis aproveitar a oportunidade para visitar a mãe. A iniciativa era de estranhar, mas achou que precisava. Ligou para Heather, que cuidava da rotina da casa de sua mãe e contou que alguns familiares viriam para o almoço de Ação de Graças. A moça pediu que, em segredo, Heather incluísse Zac e ela para a ocasião.
Mesmo sendo uma afronta, o casal tinha motivos para agradecer e Lily quis fazer isso em família.
No dia do almoço, Margot não conseguiu disfarçar a surpresa enquanto avistava Lily cumprimentando os tios no hall de entrada da casa. Procurava defeitos onde não tinha. Do alto do mezanino, olhava Zac de cima a baixo ao lado de Lily. Ele estava muito bonito e cumprimentava a todos. Ganhava a simpatia por tabela, tamanho o carinho que os familiares tinham por Lily. Certamente que o sorriso largo e os olhos encantadores tinham o poder de conquistar a todos também.
Passado o susto de Margot, tentou agir com naturalidade com a presença da filha e seu "namoradinho", como gostava de dizer. O almoço fluía bem até que Lily pediu a palavra na hora de dar graças. Levantou-se com a taça de água na mão e disse:
— Tenho motivos para agradecer e não são poucos. — Os olhos marejaram — Esses últimos dois anos foram bem difíceis e desafiadores... Saí da minha zona de conforto, passei por alguns momentos difíceis, me conheci e aprendi muito. Sou grata por ter conhecido o amor da minha vida e por ter passado altos e baixos ao lado dele. Quis vir vê-los porque sei que me amam e se importam comigo. Até mesmo o momento em que me via sozinha, foi valioso para o meu crescimento pessoal. Obrigada inclusive por terem me permitido viver meu momento de solidão... Temos uma casa simples, mas que está sempre de portas abertas para recebê-los com muito carinho em Paris.
Margot rolou os olhos com o discurso de Lily.
— Por último e não menos importante quero dar graças por um novo ciclo, pelo que há de mais importante na nossa vida no momento. Parece que agora somos uma família. Tem uma menininha crescendo aqui para vocês mimarem muito. — Lily revelou, levando a mão à barriga quase imperceptível sob o vestido largo.
Ao som de suas palavras, duas expressões se viam à mesa: a alegria e o sorriso estampado no rosto, principalmente do futuro papai, mesmo não sendo surpresa para ele há mais de dois meses, que foi quando Lily confirmou a suspeita com um teste de gravidez na mão. Do outro lado, total desapontamento de Margot, mas que não representava nenhuma importância para Lily. Ela já esperava aquela reação e sua alegria com a pequena Madeleine crescendo na barriga já era suficiente. Não precisava da aprovação de Margot para nada.
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Worlds apart
FanficLily é uma moça que tinha tudo pra ser mimada. Filha única em uma família rica, ao invés de se encantar com os benefícios de uma vida privilegiada, pegou a mochila e foi conhecer o mundo e admirar as artes à sua maneira. Assim conheceu Zachary, um s...