11. Parceria perigosa

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Naquela noite, Lily não quis aguardar até o horário de Zac deixar o campus. Após o café, voltou para casa alegando estar com enxaqueca, o que até poderia ser verdade depois da surpresa desagradável que teve. A caminho de casa, lembrar que tinha deixado os dois juntos fazia doer ainda mais. Lily sentia raiva por estar com ciúmes daquele que faz doer e não deixa esquecer. Pelo pouco que sabia, não existia nada entre eles, então aparentemente era ridículo sentir-se daquele jeito.

Zac levou ainda algum tempo para chegar em casa e encontrou Lily já deitada na cama. Assim que ouviu o barulho da chave girando na fechadura, abriu os olhos manteve-se imóvel na cama, apenas esperando que ele entrasse no quarto. Zac ainda tomou banho e deitou-se ao lado dela com todo cuidado, pois sabia que tinha o sono leve. Não imaginava que sua namorada estava acordada e chorava silenciosamente com o peito ardendo pela presença dele ao seu lado e pelos pensamentos que fervilhavam na cabeça com tudo que poderia perguntar naquela hora. Preferiu deixar para outro dia. Zac se aconchegou num abraço e adormeceu rápido inebriado com o perfume dos seus cabelos.

O casal passou a semana sem poder conversar com calma sobre o ocorrido no café. Não passava pela cabeça do rapaz que eles precisavam tocar no assunto. Para ele, não havia nada demais, mas para Lily era motivo de insegurança e dúvidas. Para piorar, no domingo, quando Zac estaria teoricamente de folga e poderiam ficar juntos, ele disse que precisava ajudar Julyenne na galeria para a nova exposição.

— Eu não estou acreditando! — disse Lily num rompante, colocando a xícara de café com leite na mesa com tanta força que derramou metade do líquido.

Zac olhou para ela surpreso e parou imediatamente de amarrar o laço do tênis que calçava, sentado no sofá.

— O que foi, Lily?

— Você vai usar nosso único dia livre com ela? Já não basta passar a semana toda enfurnado naquela faculdade?

— Eu estou trabalhando! — Zac disse ainda sem entender.

Lily levou as mãos ao rosto cobrindo seus olhos em uma tentativa frustrada de esconder as lágrimas que se formavam.

— Eu tô cansada, Zac. — respirou fundo. — Nem sei mais porque estou aqui, o que nós estamos fazendo.

— Desculpa a minha ausência, mas é tudo pra te ver feliz!

— Eu não estou feliz! Ainda mais com você passando mais tempo com a Julyenne do que comigo.

— Mas vocês não são amigas? Estou confuso agora. Você acha que está acontecendo alguma coisa entre a gente? Nós estamos trabalhando junto, já expliquei.

Lily não conseguia responder, estava triste e no fundo queria saber tudo, como se conheceram e desde quando passaram a ficar tão confortáveis juntos.

— Vai, Zac. Vai trabalhar.

Lily levantou-se e foi para o quarto deles batendo a porta com força e se jogando na cama. Ela sabia que estava fazendo cena por algo que poderia ser interpretação sua, mas estava tão sensível que com o mínimo que Zac fizesse ou falasse, seria motivo para magoá-la.

— Ô, Lily. Não fica assim. Vem, vamos conversar. Não é nada disso.

Zac cansou de esperar que abrisse a porta e saiu chateado para encontrar Julyenne na galeria. Precisava daquela parceria para conquistar confiança do corpo docente na universidade e manter seu trabalho em evidência. Em relação à Julyenne, era indiferente. Mantinha o foco realmente no trabalho e na experiência que ela podia lhe passar. Esse foi também o intuito assim que conheceu Lily, só não esperava se apaixonar. Zac não compartilhava muito sobre seus relacionamentos anteriores, mas pelo que demonstrava, preferia se manter reservado como era.

***

Zac tinha participado do projeto de Julyenne com algumas obras próprias, dava assistência e seguia orientações do olhar exigente da parceira sobre a exposição. Naquele domingo, passaram horas arrumando tudo. Tarefa que poderia ser feita por mais pessoas e em qualquer outro dia da semana, mas ela premeditadamente queria aquele momento sozinha com Zac.

Anoiteceu e Julyenne sugeriu que pedissem pizza, após tantas horas naquele salão olhando para quadros e estátuas, movendo-os de um lado para o outro. Ela parecia se deliciar admirando Zac mover as peças, reparando seus braços definidos, tentando imaginar como seria seu corpo debaixo daquela camiseta simples branca e surrada.

Quando a pizza chegou, ela olhou ao redor como se procurasse algum lugar para colocar a caixa e o vinho.

— Podemos comer aqui. Não me importo de sentar no chão. — Zac disse.

— Certo, mas ainda vamos precisar de algo pra beber esse vinho... Ah, tenho algumas taças guardadas na minha sala. Já volto!

Zac ficou esperando enquanto Julyenne ia buscar admirando o trabalho do dia todo devidamente arrumado no salão. Aquela exposição estava bonita! Ele observava detalhes em alguns quadros que pintou que poderiam ser diferentes, coisa de artista perfeccionista. Mas era tarde para fazer qualquer alteração e todos os quadros já estavam pendurados ao longo das paredes brancas.

Julyenne voltou com as taças na mão e soltou o coque frouxo que tinha no alto da cabeça enquanto vinha em direção a Zac. Ela estava determinada a chamar sua atenção e ele não percebia. Entre uma taça e outra, perguntava sobre o relacionamento de Zac com Lily. Como se conheceram, como começaram a namorar, como Lily lidava com as diferenças entre eles, etc. Zac dava respostas curtas, contudo não deixava de responder. Não imaginava que a garota podia usar aquelas informações para provocar ciúmes na sua namorada quando tivesse oportunidade.

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