Capítulo 4

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 Leonna seguia no banco traseiro do carro, junto com Miguel. Norah seguia no banco do passageiro e Ezu na direção. Leonna olhava atentamente todo o percurso, como se o decorasse a fim de voltar, caso precisasse. Sua mão estava inquieta, parecia não achar um ponto tranquilo, passava a mão nos cabelos e no rosto, até pousar sobre as pernas; foi aí que sentiu a mão de Miguel segurando a sua, sentiu um arrepio e um pouco de tranquilidade. Olhou para a mão dele e depois nos olhos, tinha a sensação de segurança, seu coração aquietou-se, seu corpo ficou calmo por um instante, parecia que estava num porto seguro, no meio da tempestade. Miguel sorriu, mas ela sentiu que aquele sorriso poderia enganá-la facilmente. Era uma sensação tão forte. Como alguém poderia transmitir essa tranquilidade e, ao mesmo tempo, essa dúvida de poder ser enganada? Não conseguia definir de onde vinha tal sensação.

— Chegamos, Leonna. – Disse Ezu.

Leonna olhou para frente e viu um portão grande e dourado com uma placa em cima escrita Baalbek. O portão se abriu quando o carro se aproximou e entrou em uma rua feita de paralelepípedos. Todo o percurso estava iluminado, pois já era noite. Pode reparar que tinham alguns arbustos de hortênsias em volta de todo o trajeto e, ao fundo, muitas árvores. O lugar era realmente grande. Andaram cerca de cinco minutos até chegarem a uma casa branca e grande, havia uma varanda à esquerda, a residência tinha três andares. As janelas eram de madeira envernizada. Havia várias roseiras em toda a extensão da frente, cada uma de uma cor, violeta, mescladas, brancas, vermelhas, amarelas, e duas que ela jamais tinha visto antes – uma negra e uma azul. Por estar escuro, tinha a noção somente do que via sob as luzes, mas podia ouvir o som dos animais noturnos, coisa que já não ouvia há tempos. Sentiu certo saudosismo naquele momento.

— Entre, minha querida. – Disse Norah.

O restante deles estava em um segundo carro, dirigido por Ângelo, que chegou logo atrás. Bianca olhou para Leonna, queria se desculpar, parecia pouco tempo de amizade, mas ela sabia que, na verdade, era muito mais que somente esses dias. Leonna entrou sem olhar Bianca ou qualquer um ali. Miguel a seguia sem falar nada, parecia que estava tão aflito quanto Bianca. Quando Leonna entrou, Pedro abraçou Bia e disse:

— Não se preocupe, ela vai entender tudo e vai te desculpar.

— Acha mesmo, Pedro?

— Com certeza.

Todos entraram logo em seguida, nenhum deles tinha segurança sobre o que seria de Leonna depois que toda a verdade viesse à tona, somente Argos se mantinha tranquilo. A necessidade de que ela confrontasse a realidade era urgente, mas as reações eram imprevisíveis, havia muita coisa que ela precisava entender.

Quando Leonna entrou na casa, ficou admirada com a sala decorada. Havia um tapete enorme feito de tecido trabalhado com um desenho de mandala gigante. Os sofás eram modernos, aveludados e vermelhos, faziam contraste com o tapete. O chão era todo de madeira escura, havia no ambiente uma lareira com algumas fotos e quadros na parede, muitos eram de paisagens que estiveram nos sonhos dela, outros, de pessoas desconhecidas. Leonna olhava tudo atentamente, não queria perder nem um detalhe. Um quadro em especial chamou sua atenção. Era o homem que apareceu no quarto e a moça ruiva que viu no espelho. Leonna parou em frente a ele e perguntou:

— Quem é esse homem?

— Meu pai, Hix – Respondeu Ezu. − Ele foi o responsável pela vida de muitos.

— Como assim?

— É uma longa história, deixaremos para amanhã.

— E essa moça, quem é?

Nefilins DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora