Lembranças

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Robin socava os bonecos com força, chutava com fúria. Ele e o bastão agora eram um só. Ele estava cansado e suado, mas não queria parar. Não estava pronto para entrar ainda. Além do mais, e se algum ser maligno aparecesse? Ele SEMPRE precisava ficar atento. E ele sempre estava pronto.

Mas ele também estava socando os bonecos e pensando do que aconteceu anteriormente com Estelar, até mesmo antes do episódio da pizza. O que era aquela ligação estranha dos dois? No fim, ela era uma esquisitona de outro planeta que nunca se encaixaria num mundo de humanos.

Ele concordou que ela podia ficar, mas não disse que precisava se aproximar dela. Então, ele tentou se afastar. Ele precisava afastar todo o afeto possível, não queria que o pior acontecesse... de novo.

Ele queria ser respeitado e não amado. Pois foi isso que vem acontecendo desde que os pais dele morreram. Ele ficou mais duro e começou a cobrar-se mais. E chegou a conclusão de que não deve-se apegar à pessoas. Ele deve ser o melhor naquilo que faz. E ele sempre leva o trabalho a sério, passando noites em claro, resolvendo coisas. Sabe, coisas de líder. Mas ele acaba ficando paranóico e deixando todos malucos ao seu redor. Chegou a conclusão que era melhor ser temido, respeitado e principalmente... que alguém cumprisse suas ordens. Seguir ordens nunca foi seu forte. Por isso, ele decidiu deixar Batman e seguir "carreira solo". Mas acabou encontrando melhores amigos. Ele gosta muito deles, mas o seu jeito de demonstrar é estranho. Ravena entende isso muito bem, pois é igual.

Sua meta é tornar-se o melhor super-herói do mundo... Nem que tenha que salvar o mundo SOZINHO. Estar só nunca foi problema pra ele, pois ele achava que assim, ninguém o atrapalharia. Claro que os amigos ajudavam, mas ele tinha suas próprias táticas na cabeça e sempre as usava. Pode-se dizer que Robin era um cara racional. Um cara que desligou seu lado emocional (por achar fraqueza) e tornou-se um herói, porém um herói que não sabe a hora de parar (nem de descansar, se divertir). O que o motiva é o fato de querer vencer SEMPRE. Pode estar caído, cansado, mas enquanto tiver um ego grande o suficiente, ele sempre poderá recomeçar. Isso era admirável, mas os amigos se preocupavam bastante. Mas acostumaram bastante com o jeito dele.

Estelar parecia entender. Algo no passado de Robin deve ter acontecido para ele ser dessa forma. Ela queria descobrir. Mas se perguntasse para ele, era capaz de levar mais uma patada. E seu coração não estava pronta para outro ataque (ataque de patada).

Robin largou o bastão e deitou na grama, olhando pra cima. O pôr-do-sol estava divino. Ele gostava. Lembrou-se dos pais, quando o levavam para passear e era fim de tarde. Ele sempre era empolgado com tudo. Mas o brilho acabou no momento em que os pais foram assassinados... pela própria namorada.

Sim, namorada. Dick (o Robin que conhecemos) teve uma namorada aos 12 anos, ou pelo menos ele achava que era namorada. Ele havia se apaixonado quase à primeira vista por ela. Combinaram de serem parceiros para salvar o mundo e bem no fim... Ela era uma traidora. Trabalhava para seu arquiinimigo, o temível Slade. Desde então, Robin procura por vingança. Kelly (a antiga "namorada", que nem era bem namorada) assassinou os pais dele, sem dó nem piedade. Desde o começo era apenas um plano sujo de um rato sujo (que no caso seria Slade, o Exterminador). Robin quer agora honrar a família, quer vingá-los e por isso, se esforça tanto. Não quer decepcionar. E se ele for emocional, tem medo de ser traído. Por isso considera fraqueza. Ele não quer confiar em Estelar por medo. Ele não quer se apaixonar por medo. Medo que ela possa traí-lo assim como Kelly. Apesar de Estelar parecer ser diferença mas Robin sabia que as aparências enganam. Era essa a história trágica de Robin. Por isso ele não confia em ninguém (só nos amigos e olhe lá). Por isso é tão frio e competitivo. Ele jamais quer perder. E não quer se apegar com medo de ser traído ou pior, tirado de quem ama. Como seus pais.

Quando Robin largou Batman, ele ficou conhecido como "Lobo Solitário", pois andava nas ruas solitário, o que não era problema nenhum. Apesar de antigamente odiar estar sozinho e estar repleto de pessoas, isso não o incomodava mais. Ele precisava só dele, dele e dele mesmo. A máscara escondia o verdadeiro "eu". Ele podia chorar o quanto quisesse, sozinho, ninguém iria escutar. Ele só queria os pais de volta. Se isso acontecesse, ele poderia voltar a confiar mais nos outros.

Tinha dias que se lembrava muito de seu passado trágico... como hoje. Vários flashes de memória vieram em sua mente e ele tentou espantá-los dali como moscas que não deixavam em paz.

- Mãe, pai... Me perdoem. Não pude protegê-los... – Por trás da máscara, uma lágrima escorreu.

Como Estelar tinha uma ótima visão, ela conseguiu ver a pequena lagriminha por trás da máscara. E é óbvio que se preocupou. E sim, ainda estava ali parada só olhando para ele.

- Robin! – Ela veio flutuando até ele.

Agora Robin chorava, não se importando com o que dissessem. Mesmo se Estelar fosse uma traidora ou não, naquela hora não importava. Ele só queria um porto seguro. Precisava mesmo desabafar.

Ele se aproximou dela e viu a cara de preocupação dela.

- Não é nada, Estelar... – Ele tentou sorrir, mas o sorriso tremeu e foi pro lado errado, formando uma careta.

- Não deve ser algo insignificante para quem nunca chora.

Ela estava certa. Ele nunca chorava. Que fraqueza era aquela? Era hora de se recompor!

Mas antes que pudesse ir à algum lugar, Estelar fez com que ele permanecesse ajoelhado e trouxe-o para perto de si. O impulso do abraço fez Robin sentir o coração reconfortado. Era como se estivesse abraçando os problemas, consertando seu coração que fora quebrado, espatifado, destruído... Era como se ele tivesse mesmo um coração (e ele nem lembrava que tinha, mas Estelar deu um jeito dele lembrar). Ele estava ali, batendo, batendo muito, batendo demais.

- Robin... – Disse ela, baixinho.

- Estelar...

Ela não deixou ele se soltar por um bom tempo. Tanto um quanto o outro estava sem jeito, mas não admitiriam assim. O coração de Robin estava batendo muito depressa e isso o fazia lembrar de Kelly e de como ficou com ódio. Mas por causa dela, não podia se zangar com Estelar. Ela não tinha culpa. Não podia culpar a inocente alien. Ele nem queria vê-la triste... só que não se aproximasse demais. O coração de Estelar batia no mesmo ritmo do dele e quase dava para escutá-los de tão rápido que batiam.

Robin inalou um perfume muito bom: Morango. Então era esse o cheirinho que ela tinha. Combinava com ela. Robin estava vulnerável naquela hora e achou que devia dar uma chance para Estelar, contar sua história e quem sabe... Confiar nela.

Entre Razões e EmoçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora