24 - Praertis

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Praertis acordou assustado. Tivera um sonho estranho. Eu estava no aberto, e havia areia. Muita areia. Areia verdadeira. E eu era rei dos durias. Bem que poderia não ter sido um sonho. Mas era tão real.

Ele olhou ao redor para tentar reconhecer o lugar. Nunca estive aqui antes. Que quarto mais estranho. Sua cama, uma espuma fina esticada no chão coberto por mantos cinzentos, ficava em um canto, do outro lado da porta.

Estava escuro, embora o escuro não fosse o suficiente para alguém que havia nascido e crescido nos túneis, sem uma caverna para morar, ou mesmo um buraco qualquer, tendo que viver diversos dias sem uma fonte sequer de luz. Ou de calor.

Mas o calor não era o problema ali. Praertis estava nu no escuro e não passava frio, pela primeira vez em sua vida. Ele se levantou e examinou melhor o quarto, curioso. Sua cabeça pesou mais do que deveria por um momento e ele fechou os olhos para tentar se equilibrar. Acho que levantei rápido demais. Onde estou?

O chão era de pedra dura, e estava um pouco gelado. Em outro canto do quarto subia uma mesa, cravada na pedra nua, ao lado dela Praertis viu um batente de uma porta, redonda nos cantos, e vazia.

Sobre a mesa havia um manto amarelado, com franjas brancas, e um cinto de pedras negras. Aos poucos, as memórias dos últimos dias foram voltando. Então não foi um sonho? Ele riu. Colocou as roupas e saiu pelo corredor.

A sensação de ser rei voltou a Praertis e ele esticou as costas e assumiu o olhar que havia escolhido portar quando estivesse na presença de outros. Eu não sou rei, mas preciso parecer com um, ou toda essa farsa criada por Carim se desfaz ao vento.

No corredor ele encontrou um acólito, caminhando apressado para outro sala, o manto roxo sujo de viagem. Ele parou quando viu Praertis, abaixou a cabeça e levou a mão à fronte, como se tapasse os olhos.

— Meu senhor — veio uma voz feminina.

Então é uma garota? Esse mantos são muito grossos e pesados, não dá pra ver o que se tem embaixo, e dessa parece que eu encontraria um belo tesouro.

— Sabe onde posso encontrar Carim? — perguntou Praertis.

— Sim, senhor. Me acompanhe por favor.

A acólita foi na frente, descendo por outros corredores, tão idênticos ao outro que pareciam andar em círculos. Logo chegaram na primeiro porta que ele viu naquela fortaleza. Ela bateu duas vezes. Uma pequena portinhola na altura dos olhos se abriu.

— Pra... O rei está aqui e deseja ver Carim.

A portinhola se fechou com um baque, enquanto a acólita deixou escapar uma olhada de canto para Praertis. Eu percebi o erro que iria cometer, garota. Talvez eu a perdoasse por isso. Talvez não. Mesmo assim Praertis achou melhor não dizer nada.

Um minuto ou mais se passou até que a porta finalmente se abriu.

— Posso lhe ajudar em mais alguma tarefa, meu senhor?

— Agora não, querida, pode se retirar.

Ainda mais apressada ela voltou pelo caminho que vieram quase correndo.

Praertis passou pela porta aberta e se viu em um cômodo iluminado por archotes, redondo e enorme, comparado com o que estava acostumado a ver nos túneis. Sentiu um calor que sentira poucas vezes antes, como se estivesse sentado bem próximo à uma fogueira.

As paredes eram feitas de pequenos blocos de areia endurecida, mas estavam gastas, corroídas pelo tempo. Encostados nela haviam diversos armários e bancadas, com instrumentos e ferramentas que Praertis não poderia adivinhar para que serviam, assim como copos de vidro, cordas de areia e urnas de pedra-sabão. No teto estavam pendurados em roldanas correntes de vidro, que estalavam conforme iam sendo puxadas pelos acólitos abaixo. A corrente perfazia um caminho complexo pelo teto, indo dos cantos para o centro do salão. E então descia na vertical. Para o poço!

O Quarto ReinoOnde histórias criam vida. Descubra agora