Depois do jantar a rainha Klary resolveu passar na cozinha para chamar a criada para que apertasse o espartilho da princesa Ceres, sabia que sua filha já estava bastante crescida para ficar cavalgando em cavalos e agindo como uma selvagem pelo reino. Também sabia que sua filha era uma da herdeira profetizada pelos setes magos, e tinha que manter sua filha longe de tais coisas que pudesse se aproximar perto da verdade. Ceres não podia nem imaginar ser uma desses herdeiros. A rainha Klary por sorte sabia que sua filha não fazia a mínima ideia sobre os herdeiros de Whogthon, isso vira de servir de grande vantagem.
Uma parte dela, uma parte que não sabia ao certo o que era, estava confusa sobre essa parte, mas essa parte estava bem contente ao rei viajar, assim poderia pregar suas próprias normas e regras pelo reino, assim poderia reinar sem interferência de seu marido, assim poderia prepara a princesa com seus próprios ideias, assim poderia mudar o jeito selvagem de Ceres para uma princesa marionete que sempre desejara. Assim poderia esconder a verdade de sua filha para enfim tomar seu posto.
A rainha arrastou a calda de seu vestido roxo até a cozinha do castelo, encontrando várias criadas lavando louças e limpando o chão.
As criadas a viram rígida na porta da cozinha, e todas pararam de fazer seus afazeres e reverenciaram a Klary com um simples abaixo segurando a barra dos vestidos e aventais.
- Aonde está Joanna? - Perguntou com o queixo erguido.
A criadas todas entreolharam. Trocando olhares suspeitos a frente da rainha, em seguida, a cozinheira Roselaine olhou como um gato olha para o dono.
- Alteza. - A voz era tão aguda e fina que Klary queria revirar os olhos. - A Joanna saiu do castelo depois do jantar.
Klary sabia que o rei Roberts autorizava as criadas saírem depois de todos os afazeres do castelo. O rei Roberts era um rei muito generoso e ingênuo na cabeça da rainha, isso era uma coisa que ela teria que resolver. A rainha já estava reunindo uma lista de regras concretas para pregar assim que o seu marido fosse viajar, e uma delas seria cancelar essa saída depois dos afazeres. As criadas só iam poder sair do castelo a noite, quando todo serviço pronto, e para voltarem de volta para suas próprias casas pobres do vilarejo ou da cidade. Nada de saídas repentinas ou no meio do dia.
A rainha respirou fundo, mantendo a concentração em Rosilaine.
- Aonde Joanna foi? - Perguntou como uma verdadeira rainha.
Rosilaine estava tremendo pelo tom da rainha. Todos os empregados e criados do castelo adoravam o rei, pois era generoso, bondoso e piedoso como a princesa Ceres. Mas todos temiam a rainha Klary, pois ela parecia uma verdadeira bruxa. Embora fosse belíssima. Já surgiam boatos sobre a rainha ser uma feiticeira, e praticassem bruxaria contra o rei, para mantê-lo.
A rainha não suportou as mãos tremulas de Rosilaine e contraiu o queixo mais ainda.
- Diga! - Exclamou ela, lento torturante tom ameaçador. O tom que o rei nunca soubera que sua esposa tinha, o tom que apenas os criados conheceram, o tom que já avisava que o rei viajará como sempre.
Rosilaine até pulou para trás, com medo, derrubando a bacia de pratos da mesa pelo chão de pedra, logo soltando um gritinho de medo. Rosilaine era roliça e o avental mal amarrara sua cintura.
- Perdão alteza. - Disse ela atrapalhada e se agachando nervosa ao chão para recolher os pratos.
Rosilaine não suportava olhar nos olhos da rainha, coitada, era tão medrosa, temia tanto a rainha que não conseguia controlar as mãos tremulas. Depois que o rei viageasse, a vida deles seriam um tormento, não apenas deles, e sim da princesa Ceres também.
As outras criadas estavam com os olhos arregalados pelo deslize de sua parceira, Roselaine, mas aparentavam mais espantada ainda por causa do famoso tom lento e ameaçador da rainha Klary, pois isso significava que o rei já estava com planos de sido reino por algum tempo. A rainha retirou os olhos da Rosilaine. Um olhar satisfatório, e encarou a segunda criada, essa era negra e estava com uma colher de pau nas mãos.
- Você! - Exclamou outra vez apontando para essa criada negra. - Para onde Joanna foi?
Essa parecia mais segura e mais decidida, apesar dos olhos arregalados e a expressão espontosa.
- Joanna saiu do castelo, a pedido de seu irmão... - Disse ela se curvando. - Perdão... do lorde Raphael. Não soubemos para que.
A rainha soltou um suspiro de fogo, em seguida olhou para as outras atrás dessa.
- Arrumem essa bagunça. - Disse, voltando aquele tom autoritário mediano. - O rei vai viajar, e vocês sabem que quando ele faz isso, o comando fica comigo. E dessa vez estou planejando novas regras.
A rainha se virou, dando as costas para elas.
- Você não pode... - Uma criada soltou sem querer, pelo impulso, logo passou a mão na boca desejando não ter dito tal arrependimento.
A rainha se virou lentamente em direção as criadas, em seguida cerrou os olhos claros. Seu silencio foi torturantemente assombrado por todas ali. A rainha abriu a boca para dizer algo, mas se perdeu nas palavras, em seguida soltou um risinho.
- O que você disse? - Ela olhou para a criada arrependida.
A criada se ajoelhou perante os pés pálidos da rainha, tocando na barra do vestido dela como se implorasse.
- Eu imploro majestade, por favor, me perdoe, eu me referia as regras de vosso marido. São as antigas regras, pensei que não pudessem ser mudadas.
- Não me toque! - Exclamou e no mesmo instante a criada retirou as mãos de calos do vestido da rainha. - Bom... vocês estão enganadas, eu posso e muito mudar as regras do castelo, posso até mudar as regras de todo Palássious se eu quiser, posso julgar todos do vilarejo se me der vontade.
Todas as criadas permaneceram com seus olhos arregalados e algumas agora estava tremendo. A rainha piscou seus olhos nervosos em seguida suspirou.
- Apenas arrumem essa sujeira. Não tenho tempo para criadas agora. - Disse antes de se virar novamente e sair da cozinha, fazendo a criada arrependida agradecer os deuses por passar essa noite com sua vida.
A rainha parecia um dragão bravo andando de forma que até si própria julgaria como uma selvagem, pelos corredores do castelo. As paredes de pedras e o teto iluminado pelas tochas de fogo pelas paredes, o chão de mármore. Ela encontrou o padre Katô cruzando a esquina do corredor quando ambos pararam.
O padre Katô era alto e esguio, continha o pescoço longo como um tronco de arvore, a testa careca com o chumaço de cabelos amarrados atrás da cabeça e os olhos castanhos puxados e bigode escuro. Esse usava túnicas e capas longas como um padre normal. Uma corrente grossa de prata envolvia o pescoço tendo como objeto um crucifico de prata e bem detalhado. Estava de luvas preta de couro nas mãos e pareceu se divertir com a rainha a sua frente.
Os olhos castanhos e puxados do padre Katô avaliou a rainha de baixo a cima, quando pararam.
- Klary. - Disse ele sem um pingo de hesitação quando anunciou o nome da rainha sem alguma referência se quer e sem a prioridade em majestade, rainha ou alteza.
As únicas pessoas que se referia a rainha pelo nome era o seu marido e sua filha selvagem, a princesa Ceres e as vezes o seu amante, Hinor. Fora os três, mais ninguém a tratava com tanta intimidade. Mas o padre Katô parecia confiante.
- Para você eu sou rainha Klary. - Disse ela levantando uma sobrancelha e cerrando os olhos como se ela fosse a esperta.
O padre soltou um riso debochado, o que fez a rainha limpar a garganta.
- Por que está rinchando, animal? Perdeu a noção?
- Parece que o poder começou a subir sua cabeça. Não precisa me informar como informou a metade do castelo que o seu marido, digo... o rei Roberts está indo a uma longa viagem as Rochosas. Eu soube diretamente por ele. - Disse Katô advertido.
A rainha sorriu, um sorriso esperto.
- Mas é claro que avisou, você é o capacho dele, assim como os lordes de Palássious. - Disse ela com um tom sério.
- Ah... querida, dele sim, graças aos deuses a você não. - Disse Katô sem um pingo de hesitação.
A rainha surpreendeu por tamanha coragem a qual o padre se referiu a ela. Ela era a mais respeitadas por todos ali por teme-la. Alguma coisa estava estranha. Ou o padre Katô perdeu a noção de vez, ou estava pedindo para morrer. A rainha desmanchou o sorriso alimentando o olhar esperto de Katô.
Se ambos estivessem em um xadrez, Katô estaria na frente.
- Você está ciente que posso pedir ao lorde Fiver que decapite sua cabeça a frente de todo Palássious para que saibam e tenham como referência de que sou o que realmente alego ser. - Disse ela sorridente, um sorriso que rei Roberts nunca irá de ver.
Para todos os aspectos, a rainha era uma santa para o rei. Não o diabo que todos a viam. O padre não desmanchou o sorriso como ela esperava que o fizesse, apenas alimentou o mesmo tom nos olhos. Em seguida soltou um pequeno riso esperto. Se tivessem em um xadrez com certeza parecia ter uma carta na manga para ganhar.
- E você está ciente que sei sobre o seu caso com o amante plebeu... qual o nome dele mesmo? Ah sim... Hinor, irmão do ferreiro da cidade. Seria um desastre para você se o rei soubesse desse caso, o que será que ele faria se descobrisse? Cortaria sua cabeça na frente de Palássious como referência? Ou a julgaria até ser uma moradora na sarjeta mais escura do castelo até os dias de sua morte? Estou muito curioso a isso.
A rainha parecia ter sido apunhalada no peito nesse momento. Suas pernas agora estavam como as mãos de Roselane na cozinha, e suas mãos estavam geladas agora. O pior era a palidez pelo rosto. Como ele sabia? Ela piscou para livrar a tenção, em seguida soltou o ar que prendia. E pensou que se ambos estivessem no jogo de xadrez, o padre Katô teria dado check mate e vencido com chave de vitória.
- Como sabe disso? - A voz dela estava em um sussurro nervoso.
O padre sorriu esperto outra vez.
- Ah Klary, quem tem os olhos como os meus, sabem muito bem que você trepa com o plebeu Hinor todas as vezes quando pode. Pena que ninguém descobriu isso a tempo de alertar o rei que recebeu dois pares de chifres. - Disse ele rindo.
- Calado! - Exclamou ela chocada.
- Klary, vou te dar um pequeno concelho sobre mim. - O padre Katô se aproximou perto da rainha, encostando os lábios ao ouvido dela. - Eu sei de tudo. - Sussurrou ele ao pé do ouvido, logo se afastou.
A rainha engoliu em seco, em seguia respirou fundo, mantendo as pernas bambas agora firme.
- Eu poderia negar. O rei acreditaria mais em mim no que em um...
- Padre? - Sugeriu o padre Katô.
- Todo conhece sua fama sobre as putas do vilarejo. - Disse a rainha mantendo o mesmo tom firme. - Você trepou com quase todas, sua moralidade não vale nada para o meu marido. - Disse ela iniciando mais uma partida de Xadrez, para que dessa vez ganhasse.
O padre sorriu.
- Isso é extremamente delicado, mas... digamos que quando o rei Roberts voltar dessa viagem, ele me nomeara o seu novo conselheiro. Serei um lorde em breve Klary, isso me trará mais confiança do rei do que vossa majestade imagina. - Disse.
A rainha permaneceu calada, analisando que talvez o padre poderia ganhar novamente essa partida. Mas algo veio em sua mente.
- Sabe que o que dizem de mim, não é? Que sou uma feiticeira... uma bruxa. - Disse ela em um tom ameaçador.
- Então deverá ser queimada. - Disse o padre calando a rainha por algum instante.
A rainha mudou de expressão, agora estava nervosa.
- O que você quer?
- Hora... eu não quero nada Klary. Já consegui o que queria, serei um conselheiro agora. Mas peço a você que não cruze meu caminho e que não me ameasse mais... senão serei obrigado a usar as minhas armas. - Ameaçou ele.
- A bíblia dos deuses? - Disse ela rindo dele.
- As minhas palavras, Klary. - O padre devolveu o sorriso. - Agora me dei licença.
O padre passou pela rainha e seguiu o corredor de pedra, deixando-a boquiaberta e certa de que ele deu um segundo xeque-mate.
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AS CRÔNICAS DOS HERDEIROS DE HARTERF - A espada de gelo
FantasíaINCANDESCENT DARKINESS A crônica de fantasia, mistério e intriga que oferece um romance e uma aventura que clama uma futura guerra que assombrará a todos desse mundo! A ESPADA DE GELO Depois de séculos, Whogthon se tornou o país mais sangrento que e...