A Manhã Seguinte

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Derek - juntamente com Finn - caminha pela trilha que costumava andar com o seu avô quando ainda era uma criança. Usavam-na geralmente para caçar.
Mas agora virou uma espécie de rota de fuga para ele.
Já é de manhã e o sangue em sua blusa branca já está seco, só o que cobre é o seu casaco quadriculado semi rasgado nos cotovelos. Ele anda pela trilha pensando, refletindo, se arrependendo talvez ? Não, isto não. Ele ainda estava com um sorriso sádico estampado no rosto. Gargalhava toda vez que o nome "Anthony Rich" ecoava em sua cabeça. Era um misto de raiva com loucura. Porém, Derek, apesar de ser um doido varrido, não era idiota. Ele era muito esperto. Andar pela mata é muito suspeito, assim como andar manchado de sangue pela cidade também é. Não é preciso ser muito inteligente para que saiba disso.

O final da trilha dava para a parte mais movimentada de Greengarden. Para a Rua Redtop mais especificamente falando. Lá, aos dias de quinta e domingos, acontecia uma feira. Tinha de tudo um pouco: comidas, atrações musicais e roupas. As roupas eram estampadas com imagens ou referência ao mundo Pop dos anos 80. A música que tocava quando Derek chegou na feira era "Rockaway Beach" do Ramones. E a feira estava cercada de jovens e adolescentes. Jaquetas de couro e cabelos grandes, coisas que faziam Derek ter um treco. Ele se dirige até uma tenda de roupas e pega uma blusa limpa.

- Vai pagar por isso senhor ? - perguntou a moça responsável pela tenda.
- Sim, claro. Quanto custa ? - Disse Derek.
- Cinco dólares. - Disse a moça mascando um chiclete abrindo a boca e fechando, fazendo um barulho chato e irritante. Derek se controla. Ele, apesar de sádico, tinha, por incrível que pareça, um pouco de controle.
- Aqui está. Bom dia.
- Você está bem, senhor ? - Perguntou a moça - Está sangrando.
- Não é nada, não se preocupe. Vamos garoto. - Chamou pelo seu cachorro.
- Own, que bonitinho. É seu ?
- Olha, por que você não me deixa em paz ? Adolescentes filhos da puta. Seus merdinhas sem educação, eu odeio vocês. - Ele explodiu em cima da moça com suas palavras. Sorte a dela ele não ter explodido sua cabeça. - Desculpe, eu tive uma caça difícil. E minha ferida está doendo muito. - Ele encobre com a sua jaqueta o sangue, para que assim, talvez, ela não desconfie da mentira.
- Tudo bem senhor. Aqui está o seu troco. - A moça dá os trocados olhando desconfiado para ele.

E então ele - após pegar o troco - se vira e tranquilamente caminha em direção contrária da feira. Em direção a estrada. Ele ouve, conforme vai caminhando, pessoas comentando sobre as cinco crianças desaparecidas na noite anterior. "Meu Deus, esta cidade já foi melhor" disse uma senhora. "Tomara que encontrem estas crianças. Ouvi dizer que uma delas é o filho do Xerife". "Eu já espero o pior. Ouvi dizer que o filho do xerife saiu sem permissão e levou mais quatro. Quem diria que o filho de uma autoridade agiria assim." Derek, ao ouvir isso, se perde em seus pensamentos. Ele volta aos seus 16 anos, quando conheceu Lauren McCain, sua primeira namorada. Ele já era problemático e já tinha matado uma pessoa, aos onze. Ele lembra de ter pego o carro de seu pai sem permissão e dirigir, com Lauren, até o Pico de Carvalhos - uma região alta onde há uma linda visão da cidade de Greengarden. Ele lembra dela pegando na sua mão, lembra de seus lábios encostando nos seus e de como ela o calvagou sem ao menos ter experiência. Ambos não tinham. E então ele volta a duas noites atrás quando matou aqueles cinco jovens. E voltou a noite passada, quando matara as cinco crianças. Tudo isso pra quê ? Não tinha propósito algum aparentemente. Passatempo talvez ? Perguntas, memórias, tudo isso vinha em ondas ao mesmo tempo em que o nome de Anthony ecoava em sua cabeça. Estava concentrado, perdido em seus pensamentos. Haviam vozes que diziam para ele parar com aquilo. De sentir este ódio consumidor. Diziam para voltar para o seu filho. Mas ele gostaria de saber o que seu pai é ou deixou de ser ? Assim como há vozes dizendo para ele parar, há, também, vozes dizendo para ele continuar. "Foda-se" era o que diziam. "Eles merecem toda a dor do mundo" é o que o motiva. Seu filho, ele amava, mas sabia que Michael não o conhecia. Ele fora levado muito pequeno para o Brasil e não sabe se ele está bem ou não. Nunca teve notícias dele.
Tão perdido estava em seus pensamentos e não notou a caminhonete que rugia em suas costas. Se não fosse pela buzina.

O Assassino: Derek Overwise Onde histórias criam vida. Descubra agora