7. Um lado triste.

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Preparem os lencinhos akjddk
Gif meramente aleatório.
Boa leitura<3

Olhei impaciente pro microondas girando e comecei a bater meu pé no chão. Que demora pra completar logo um minuto. Eu tô com fome.
- O que você tá fazendo? - ouvi uma voz conhecida atrás de mim.
- Esquentando burrito. - me virei para voz e vi Kellin na cozinha. Seus cabelos estavam molhados e o cheiro de uva ressendia pela ambiente. Ele parecia estupidamente fofinho usando uma blusa de malha cinza que me dava uma vaga noção de sua barriga não-tão-definida, calça de pijama preto e meia de... gatinhos?
Suspirei fundo cansado da sensação estranha no meu estômago que me dá toda vez que o vejo e voltei a prestar atenção no microondas lesmático. Trinta segundos.
- O que você tá fazendo? - Mike apareceu na cozinha.
- Esquentando burrito. - repeti. - Isso aqui tá parecendo o Titio Avó. - murmurei.
- O Tony tá me fazendo de escravo. - ele fez um bicão.
- Por que? - perguntei, rindo em seguida ao ver sua cara de tédio pegando algo no freezer.
- Ele quer que eu faça batatas fritas pra ele.
- Eu quero também. - falei.
- Mas você já vai comer burrito, para de ser morto de fome.
- Assim você fere meus sentimentos. - bati meus cílios dramaticamente e quase pulei de alegria, vendo que o microondas tinha completado o tempo. Peguei meu prato e me sentei, olhando pra delícia à minha frente: Kellin e o burrito.
Não, peraí, Kellin não. Alguém me bate.
Parei de pensar besteira e mordi aquela maravilha.
- Quer? - ofereci pra ninguém específico.
- Eu quero, mas só uma mordidinha. - Kellin disse hesitante. Dei de ombros e ele se aproximou de mim, olhando o burrito com dúvida.
- Não olhe essa belezura com essa cara, apenas taque uma dentada. - falei e Kellin deu aquela risada fofin... normal e então, mordeu. Eu me perdi por alguns segundos enquanto acompanhava sua boca abocanhando o burrito.
Jesus.
- Hmm. E não é que é bom. - ele disse após mastigar.
- Claro que é. - comecei a comer. - Vem cá, você não o maior fã de comida, né nom?
Ouvi uma cadeira ser arrastada e Kellin se sentou nela, apoiando o queixo em sua mão.
- É, não. Comida já ferrou muito a minha vida. - respondeu brincando com seus dedos sob a mesa, jogando a franja naquele costumeiro tique dele.
- Problemas com peso? - deduzi.
- Sim. Quando eu tinha entre 10 e 13 anos, eu tinha sobrepeso e sofria muito bullyng, mas muito mesmo, a ponto de apanhar. E aí eu quis mudar pra pararem de me perseguir e iniciei um regime, e agora eu não consigo comer muito ou além do necessário pra não ficar doente, porque eu passo muito mau. - ele admite, falando baixo e olhando se Mike está prestando atenção. Meu irmão parece estar viajando na maionese cantarolando e queimando as batatas do Tony, então só eu escuto o que Kellin diz. Eu acho. Mike tem um dom estranho de prestar atenção em várias coisas ao mesmo tempo.
- Você tem bulimia? - pergunto com um pouco de pena dele e assustado ao mesmo tempo. Ele não me responde e suspira fundo, me olhando. Seus olhos tristes e o sorriso que sempre enfeita seu rosto morto. - Kellin, você não é gordo. Eu não sou de elogiar ninguém, mas você é lindo exatamente do jeito que é e sua beleza não vem do seu peso ou alguma merda do tipo. Sua beleza vem de dentro, vem de seu sorriso e de seus olhos, e isso faz com que todo o seu ser seja espontaneamente belo, independente de você ser magro ou não. Você não tem que sentir medo ou receio de comer o que quer, porque comer é maravilhoso e eu provavelmente vou ficar gordo um dia, mas isso não me torna mais feio ou pior que ninguém, isso me torna humano e feliz e se me julgarem, foda-se. Ninguém pode te condenar por você ser o que é, entende? - eu digo tudo num fôlego só, sentindo meu rosto queimar em vergonha e raiva de todas as pessoas que o fizeram desenvolver um distúrbio alimentar tão sério assim. Eu sei que bullyng machuca muito, porque eu sofri muito aos 13 por ser magrelo, baixinho e esquisito e a sensação não é nada boa. Você se sente feio e excluído e eu realmente acho que ninguém deveria se sentir assim.
Kellin foca seus olhos em algum ponto distante de meu rosto com os olhos lacrimejando e então ele abre um daqueles sorriso enormes de orelha a orelha e eu me sinto a melhor pessoa do planeta por ser responsável por isso.
- Obrigada... ninguém nunca me disse essas coisas antes... - ele diz baixinho, suas bochechas atingem um tom vermelho carmesim e ele coça os olhos, escondendo o rosto nas mãos por alguns instantes.
- Porque eles são cegos, Kellin. - eu digo sorrindo, mas não de um jeito feliz. - Eu... eu quero te ajudar com isso. - as palavras fogem da minha boca e eu assusto quando me ouço, porque eu nunca ofereci minha mão para ninguém antes.
Kellin me olha confuso e eu percebo ele desconfortável por ter desabafado comigo, sabendo que nós conhecemos há, o que, 4 dias?
- Eu não sei, Vic... - ele mantém sua voz baixa e emocional. - Olha, eu estou bem cansado e amanhã tem aula, então eu vou dormir, ok? - ele se levanta e eu franzo as sombrancelhas, o acompanhando com o olhar. - Boa noite. - Kellin bagunça meu cabelo e sobe escada à cima como um tsunami de tão rápido.

Olho pro meu burrito esquecido em meu prato e arregalo meus olhos, me sentindo uma bagunça. Muita informação pra processar. Mais uma noite sem dormir, tenho certeza.
- Wow, cara, o que foi isso? - Mike se vira para mim com uma mão na cintura e com uma espátula na outra. Ele ouviu tudo.
- Nem me fale. Eu achava que ele era só alegria, arco-íris e porpurina, mas ele tem um lado triste e bem mais problemático que o meu. - respondo e termino de comer.
- Todos nós temos um lado triste. - observo Mike colocando as batatas num prato e botando sal nelas. Sal demais, como Tony gosta. - Mas o dele é... complicado. Tipo, deve ser muito ruim vomitar a cada coisinha que você comer. E é ridículo o fato de fizerem ele emagrecer assim, por pressão.
- Sim, eu fiquei puto. E agora tô confuso. Eu falei muita merda? - pergunto frustado.
- Não, foi fofo, gay, romântico, lindo e poético. Mas não foi merda, foi, sei lá, motivador. Eu fiquei emocionadão aqui, sérião. - Mike diz e eu riu.
- Besta. - me levanto e roubo umas batatas do Tony. - Vou ir pro meu quarto, aproveite sua noite com o Turtle, usem camisinha e não gemam muito alto pra não acordar os vizinhos, ok? - falo sarcástico e Mike gargalha.
- Pode deixar, bro. - bate continência e eu começo a dar minhas risadinhas de shipper, confirmando minhas teorias sobre Perrentes.

Vou pro meu quarto e faço minhas higienes lentamente, me enfio debaixo das cobertas e coloco pra tocar músicas no aleatório. Encaro o teto e então eu noto a bagunça e a porrada de coisa que aconteceram nesses últimos 4 dias. Parecem meses.
E sobre Kellin... Eu não esperava que o problema dele fosse tão sério. Agora eu entendo porque ele vomitou no banheiro. Eu espero que isso pare e se eu puder ajudar, eu vou. Mesmo que não sabia que porra devo fazer sobre isso.
E eu não sei bem porque quero fazer isso e de certa forma me sentir como se tivesse uma missão nessa minha vida inútil além de ter uma banda faz com que eu me sinta motivado a me arrastar pelos próximos dias e levantar no dia seguinte, ao mesmo tempo que me ajuda a esquecer Danielle.
Bom, mas isso piora minha insônia, porque eu não consigo pensar em outra coisa além de Kellin, o que é ruim pra caralho.

Broken Pieces • KellicOnde histórias criam vida. Descubra agora