3. Olhos bonitos.

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Depois da aula, fomos todos para casa de Tony, já que ele não estava muito legal, então iríamos fazer alguma besteira para tentar animar ele. Kellin quis ir para casa, dizendo que estava com dor de cabeça, então Mike o deixou lá antes de irmos para casa de Tony.
A tarde correu normal e minha costela estava dolorida de tanto rir, meus amigos eram a única coisa que me dava felicidade. Estávamos tentando fazer manobras com o skate e eu já tinha esfolado todo meu joelho no asfalto. Machucado, porém feliz.
Sentamos na escadinha que tinha na frente da casa de Tony, quando passa uma ruiva tatuada e sorridente, usando shorts curtos e correndo.
- Gata, me chama de Asking Alexandria que eu faço você gritar oh my God! - Tony grita. Rimos alto. A ruiva olha na direção dele e sorri, jogando um beijo.
- Você não vale nada, cara. - Jaime diz gargalhando e Tony faz o mesmo. Mike força uma risada que não passa despercebida por mim. Eu sei que ele gosta de Tony e morre de ciúmes dele, mas não tem coragem de admitir.
- Eu só estou tentando mascarar meu coração quebrado. - ele diz colocando a mão sobre o peito e piscando dramático. Nego com a cabeça, rindo.
- Trouxa. - eu digo. - Mas eu sei bem como é. Tem dias que fica realmente difícil. - eu disse olhando para longe e sentindo aquela dorzinha conhecida e incômoda no interior. Danielle maldita.
- Sim, droga, muito. - ele resmunga. - É uma verdadeira merda.
- Ok, ok, caras. Não vamos ficar sentimentais, vamos nos divertir. - Jaime diz apertando nossos ombros e sorrindo recorfontante. Tento abrir um sorriso, ele sempre estar disposto a tentar deixar todos felizes. - Quem aqui tá afim de uma partida de Guitar Hero?!
- Se preparem para perder, seus bundões! - eu digo me levantando e entrando na casa de Tony como se fosse minha.
- Sai da frente, tampinha - ele passa por mim correndo. Besta.

[...]

Já estava quase escurecendo quando nos lembramos que tínhamos uma casa. Nós tagaleramos um monte antes de ir embora, mas depois o fizemos meio a contra-gosto. Tínhamos que voltar antes da nossa mãe, porque nosso castigo por ter quebrado o vidro do box do banheiro quando estávamos bêbados não tinha acabado ainda. Não que ela realmente fosse fazer alguma coisa pela gente desobedecer ela, mas ok. Acho que ela nem ao menos liga, mas já estava tarde, de qualquer forma. Mike dirigiu loucamente até em casa e eu tive que me segurar firme para não arrebentar a cabeça na janela pela 3ª vez. Credo.
Sai do carro meio zonzo e nós entramos em casa dando murros um no outro. A briga começou no quintal, quando Mike pisou no meu pé e disse que a culpa era minha por parecer uma formiga. Subimos a escada quase derrubando um ao outro.
- Formiga é sua bunda! - o dei um ponta pé, que quase acertou Kellin no corredor. - Oops, foi mal. - eu disse desviando dele, e chutando o traseiro de Mike, que cambaleou.
- Sai daqui! - meu irmão disse rindo, e então bateu a porta na minha cara. Ouvi Kellin rindo atrás de mim, me virei para ele. Comecei a rir também, mas logo ficamos em silêncio, sem saber o que fazer ou falar.
- Sobre aquilo que o professor disse... Bem, se você quiser, eu posso te ajudar... - ele coçou a nuca olhando para o chão.
- Ah. Pode ser... - eu respondi hesitante. - Mas eu vou tomar um banho primeiro.
- Tá bem. - ele respondeu simplesmente e eu entrei em meu quarto.
Tomei um banho longo e vesti roupas confortáveis. Algum tempo depois, ouvi duas batidas na minha porta, e ele murmurou um "licença" antes de entrar, olhando em volta e encarando meus pôsteres com um sorrisinho. Eu estava sentado na mesa do computador, girando minha cadeira e mastigando a tampinha da caneta distraído, enquanto uma música aleatória do Red Hot Chili Peppers tocava ao fundo. Kellin parou atrás de mim, olhando para meu caderno e livros abertos em cima da mesinha.
- Adoro essa banda - ele comentou e eu sorri, por que eu também a amava. - Ahm, no que você tem dificuldade? - perguntou, olhei de soslaio para trás, encontrando seus olhos claros brilhantes transparecendo simpatia. Ele tem olhos bonitos e seu azul se torna mais intenso quando ele está feliz e opaco quando está triste.
- Bom, em tudo. Não entendo bulhufas. - respondi e ele ri. - Você quer que eu vá buscar uma cadeira para você? Vai ser ruim ficar virando para trás para te olhar. - falei.
- Não precisa. Se você não se importar, posso me sentar aqui, com você.
- Tudo bem. - falei indo um pouco mais pro lado e Kellin se sentou, jogando a franja úmida em seguida, num tique que percebi ser típico dele. Senti meu corpo esquentar por causa da nossa proximidade corporal e por seu perfume me sufocar de um jeito bom. Com certeza meu nível de anti-socialismo se elevou, puta merda.
Ele encarou meu caderno por um curto espaço de tempo. - É bem simples na verdade, você só precisa...
Kellin começou a falar e eu não fazia ideia do que eu deveria prestar atenção: se era em sua boca se mexendo, na sua voz, no seu cheiro de doces ou na explicação.
- Entendeu? - ele perguntou me fitando.
- Ahm? Ah, claro. - eu disse piscando algumas vezes e franzindo o cenho. Concentração nunca foi meu forte e com ele por perto parece bem mais difícil de o fazer.
- Tem certeza? - ele ergue as sombrancelhas, divertimento refletindo em seus olhos como se ele soubesse que eu estava mentindo. Eu dou uma risadinha sem graça. - Eu posso explicar mais uma vez, se você quiser. - ele parecia disposto e estranhamente empolgado. Eu apenas assenti e ele começou a falar novamente. Dessa vez, eu prestei atenção.

~

Depois de estudar até meu cérebro começar a sair fumaça, acabamos sentados na minha cama, rindo e assistindo The Big Bang Theory. Kellin havia me explicado tudo, e em partes eu tinha conseguido pela primeira vez prestar atenção e me importar o suficiente para entender uma matéria. Raro e bem estranho de se acontecer. Eu durmo metade das aulas.
Tínhamos acabado de comer uma pizza, Mike estava conosco, mas voltou pro quarto dele para atender a ligação de Tony. Eu e ele comemos a caixa inteira, mas Kellin mal tocou em seu pedaço. Essas pessoas enjoadas pra comer não sabem o que perdem, mas não é como se eu tivesse reclamando. Bom que sobra mais pra mim.
- Acho que vou ir dormir. Tá ficando bem tarde. - ele disse baixo quando uma crise de risos dele cessou. Kellin era tímido e suas bochechas estavam coradas. Eu não o odeio como achei que odiaria, mas não posso dizer que gosto dele ou algo assim, ainda. Não sei bem qual é minha opinião sobre ele, mas posso dizer que tivemos um momento legal e que talvez tenhamos nos aproximado um pouco.
Tanto faz. E isso nem é uma boa idéia. Se aproximar de pessoas sempre trazem problemas... Experiência própria. Eu só tenho amigos por causa de Mike.
- Ah. Ok. Boa noite, então. - eu digo e percebo que não ia ligar se ele ficasse mais um pouco, porém não insisto e nem demonstro isso. Kellin caminha até a porta do meu quarto, e eu franzo o cenho por me pegar olhando em suas pernas. Belas coxas. - Valeu pela ajuda. - eu tento sorrir pra ele, ignorando a merda que pensei.
- Não tem de quê. - ele responde sincero, me olhando nos olhos com um ar pensativo. E, pela segunda vez na noite, eu me pego pensando que ele tem belos olhos. - Boa noite, Vic. - ele beija minha bochecha e meu coração falha uma batida. Seus lábios são quentes e macios, posso perceber no simples toque, embora tenha sido tão rápido como um vento e suave como uma pena.
- Boa noite, Kellin. - eu respondo sorrindo automaticamente. Observo ele virar as costas e, inconscientemente, toco o lugar onde sua boca tocou com a ponta dos dedos, me sentindo estranho e com o estômago revirando de um jeito bom.

Broken Pieces • KellicOnde histórias criam vida. Descubra agora