25. Recovery - o ponto de vista de Kellin.

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notas: oioioi gente tudo bom?
como prometido a quinhentos anos atrás aqui tempo um capítulo todinho narrado pelo Kellin e tem ótimas notícias nele ebaa (apesar de eu ter achado meio curto :/
o último também vai ser narrado por ele eu acho?
espero que gostem e boa leitura 💖

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Admitir pra mim mesmo que eu estava doente foi a pior parte de aceitar ajuda, porque me sentia inválido constantemente - até atingir o fim do poço. Precisei chegar ao meu limite pra acreditar que minha doença não era uma frescura como meu meio irmão mais velho costumava dizer depois que descobriu o que eu fazia. Precisei quase morrer pra querer estar vivo. Ironias da vida.

Cresci com uma família conturbada. Brigas, separações, bullying e solidão (é por isso que eu sou emo). Minha mãe foi sempre muito inconstante, viajava e trocava de namorado várias vezes por ano. Ela teve três filho: eu, um irmão do meio chamado Colin e o mais velho, o Isaac. Isaac foi meu pior pesadelo na infância porque me batia sempre quando não tinha ninguém olhando. Detalhe: nunca tinha alguém realmente olhando. Além de me colocar todos os apelidos possíveis devido ao meu peso naquela época. Pra complementar meu pacote inferno, na escola não era muito diferente. Não tinha muitos amigos, mais apelidos e discretos chutes na educação física porque segundo os meninos eu era uma "bicha afeminada" devido minha voz aguda e pela minha falta de jeito com exercícios - como se eu tivesse escolhido minha voz antes de nascer. Como se eu tivesse escolhido nascer, aliás.

Como cresci entre humilhações e agressões verbais (às vezes física) me tornei um grande inseguro. Não demorou que essa insegurança abrangesse todos os sentidos da minha vida e logo comer parecia aterrorizante. Sofria horas e horas de culpa e martírio, pensando em como me sentir mais leve e revivendo na minha cabeça todos os xingamentos e agressões que recebi. Até que tive a brilhante ideia de forçar o vazio.

A balança era meu inimigo número um. Toda vez que qualquer número aparecesse nela eu surtava. Só me sentia bem quando eles diminuiam, mas nunca era o suficiente. Eu queria mais, sempre mais. Me enxergava enorme e me sentia dessa maneira, achava que eu era um peso na vida de todos e procurava me punir de todas as maneiras possíveis. Me destruir, deixar de ser aquilo que as pessoas tanto sentiam nojo... De certo modo eu consegui deixar de ser aquilo, mas por dentro me sentia da mesma maneira. Eu ainda me sentia o mesmo garotinho acima do peso de antes, a sociedade é uma merda. Isso não devia ser um problema, ser você mesmo não deveria ser um problema, mas os padrões fazem você se odiar por não se encaixar nele.

Mesmo com todos os meus problemas consegui fazer amizades legais, consegui arranjar outro propósito na vida que não fosse ser magro: ter uma banda. E logo conheci Vic, um baixinho emburrado que mudou tudo. É óbvio que eu continuava me odiando e achando que era indigno de amor por ser tão horrível. No fim das contas mudar minha aparência não mudava o que eu achava de mim mesmo porque eu precisava de terapia.

Quando eu fiquei na casa deles, na verdade me senti em casa pela primeira vez na vida. Eu sentia que não pertencia a lugar nenhum, parecia que era a peça que não se encaixava em nenhum quebra cabeça mas estar ali parecia fazer sentido na minha cabeça fodida. Então eu fiquei bem por um tempo, por um mês mais ou menos, mas quando voltei pra casa tudo desmonorou. Me vi sozinho naquele ninho de cobras com todos aqueles comentários ridículos sobre como eu estava comendo de novo e que tinha "ganhado peso", o que pra mim não foi motivo de vitória. Parecia que eu estava fazendo tudo errado de novo e que tudo aquilo ia voltar a acontecer, os abusos, os xingamentos, os números altos... e com tudo isso logo surtei.

E agora estou aqui. Internado. Vou ficar aqui por três meses pra me recuperar da anorexia e da bulimia. É óbvio que não foi uma escolha (apesar de ter o meu consentimento), mas foi a solução que acharam pra salvar minha vida. Meus órgãos poderiam literalmente parar. E eu não quero morrer agora... Eu sempre achei que quisesse. Mas só de pensar em como Vic ficaria destruído essa ideia fugia da minha cabeça.

Meu corpo está definhando. Falta de vitaminas, de nutrientes, gastrite, problemas na garganta, um monte de merda. Agulhas, remédios, ter que comer pra ficar bem logo. Era uma tortura diária e eu comecei um diário – o qual estou escrevendo agora – pra conseguir lidar melhor com meus pensamentos e sentimentos, estava sendo muito bom ter esse apoio. Tudo parecia uma luta, eu chorava horas querendo ir pra casa, chorava de dor, chorava de saudade, chorava por ter que comer. Me tornei um grande chorão. Chorar era tudo que eu sabia fazer no primeiro mês, eu só ficava bem quando Vic e os meninos iam me ver mas aí chorava quando eles iam embora.

Até que eu cansei de chorar e comecei a me esforçar pra ficar bem. Fiz amizades na clínica, comecei a me sentir mais confortável ali e meu corpo parecia estar se recuperando bem. Parei de sentir tantas dores e logo os medicamentos e exames foram diminuindo de frequência. Logo, os meses foram passando rapidamente como um borrão e eu poderia ser liberado dentro de algumas semanas. Confesso que chorei bastante nesse dia com medo de voltar pro mundo real, já que ali era uma bolha e sinceramente não me sentia pronto e nem bem o suficiente. De qualquer forma, ainda tem a terapia que vou fazer do lado de fora, acho que vai me dar um suporte pra aguentar a realidade.

Finalmente tinha chegado o dia de ir embora. Recebi muitos abraços e cartões com glitter dos pacientes mais novos com energias positivas e frases fofas que eu definitivamente levaria para a vida toda como uma ótima lembrança de superação.

– Espero que você fique bem logo, Katy. – beijei a cabeça de uma baixinha de 13 anos que estava chorosa com minha partida, a gente sentava junto em todas as atividades em grupo. Ela sorriu.

– Vou sim e você também vai ficar. Boa sorte e beije muito seu namorado por mim, ele é um gato com todo o respeito. – rimos muito disso.

– Pode deixar. – dei uma picadinha.

Ao sair na rua após meses me senti nervoso e enjoado, mas eu estava feliz por estar de volta a minha vida normal. Estava segurando umas malas e meu urso – o urso se tornou algo de valor sentimental tão grande ali que eu me sentia mais seguro segurando ele constantemente no hospital pra cima e pra baixo. Bom, eu não ia ter mais esse problema já que Vic tinha acabado de chegar para me buscar. Ele sim era meu porto seguro, o urso só estava substituindo o lugar. Sinto muito te magoar Sr. Fred, mas é a verdade.

Olhei nos olhos do urso e ele parecia chateado então o abracei, levando um susto gigante quando Vic veio correndo em toda a velocidade.

– Oi meu amor! – ele disse me abraçando tão forte que me tirou do chão e me rodou no ar, me fazendo rir.

– Que saudade que saudade que saudade. – eu repeti o beijando, ignorando o fato que a gente se viu ontem (ele veio pra fazer terapia). E então Vic me ajudou a levar as malas pro carro que estava no estacionamento.

– Oi Kellin! Como você tá? – Mike estava apoiado no carro e também me abraçou bem forte. – Cara, você tá lindo. Que urso fofo. – ele riu carinhoso.

Dei uma risadinha sem graça e agradeci. – Tô bem melhor. Ansioso demais pra ver os meninos, irra. – falei entrando no carro. Fomos o caminho inteiro conversando sobre a clinica, sobre a escola e as novidades que perdi. Tinha muita matéria atrasada, o que era bem triste pra mim.

Fui recebido com abraços calorosos e bagunçadas de cabelo na casa de Tony, onde descemos pro clássico porão [cap. 5] para tocar algumas musiquinhas – relembrar os velhos tempos é ótimo. Era bom estar de volta.

Depois disso fomos pra pista de skate e Vic me ajudou a andar novamente e dessa vez eu não cai porque estava mais forte. Me permiti tomar um sorvetinho sem querer me matar e depois fomos nos beijar escondidos atrás de um coqueiro bonito. Vic tinha suas mãos em minha cintura enquanto me beijava ardente e não me senti tão desconfortável como das outras vezes, eu sentia que meu corpo era apenas uma parte necessária de mim, mas o que importava realmente era meu interior. Nós não precisávamos verbalizar em palavras o quanto nos amávamos. Aquilo ficava explícito em cada gesto, cada olhar, cada toque, cada beijo. Sem falar da prova de amor de Victor ao aceitar me acompanhar na terapia pra me dar apoio. Ele é um garoto incrível e provavelmente vamos ficar juntos por muito, muito tempo. Isso é só o começo.

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notas: ITI DHAKBDM
ai eu tava ansiosa pra escrever isso e só tô chateada que não achei uma fanart que recebi do Kellin (já faz tempo)
se tiveram alguns erros foi pq minha mãe ficou falando enquanto eu revisava HDKSNDN comentem que eu amo ler
até logo bebês 💖💖💖

Ps: esqueci de comentar que peguei inspiração de relatos reais

Broken Pieces • KellicOnde histórias criam vida. Descubra agora