Capítulo 4: Espectrofobia

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Quando a nave pairou sobre o teto do prédio, TalkieWarrior saltou na frente, puxando a espada que carregava nas costas. Virou-se para trás, fazendo sinal para que os quatro a seguissem, fuzilando-os com o olhar. Rylai quase pôde ouvir telepaticamente a ameaça de morte lenta caso ela lhe desobedecesse.

Ela andou lentamente até um buraco no chão que se completava com uma rampa para o andar de baixo. Parando ao lado da entrada, apontou os dedos da mão esquerda para o chão e ergueu a mão repetidamente. Rylai não precisava saber sinalização tática de mãos para saber que ela os estava mandando entrar.

Com a marreta apoiada no ombro, desceu pela rampa. Seguida pelos outros três metahumanos e TalkieWarrior atrás de todos, Rylai se esgueirou para perto de uma parede. Talkie passou pela frente de todos, agachando-se ao lado de Rylai.

– Eu vou seguir para o andar de baixo com um, você vai limpar esse andar com os outros dois. Você não tem permissão para matar, portando controle seus poderes – sussurrou.

Apontou para o metahumano ao lado dela, apontou para si mesma e fez sinal para a direção que estavam seguindo. Quando os dois partiram, Rylai fez sinal para que os outros dois a seguissem.

Como o prédio não tinha paredes, somente pilastras de sustentação e uma grande coluna no meio que tomava conta de quase toda a extensão do andar, ela teve a ideia de rodarem o local até voltarem ao ponto de início para descerem de andar.

Assim que viraram à direita, viram um homem de costas mexendo em um barril verde. Rylai ergueu a mão, lançando uma nuvem de gelo na direção dele. Não foi suficiente. Em um susto, o homem se virou e atirou na direção deles.

Indo para cantos aleatórios, se dispersaram. Rylai foi para a esquerda de costas, pisando fora do piso e caindo para fora do prédio. Ao bater no chão, quatro andares abaixo, sentiu uma leve pressão na parte de trás da cabeça. Olhou em volta, erguendo as mãos e analisando-as, observando que não sofrera nenhum dano.

Lentamente se levantou, um tanto quanto em choque. Gotham estava escura à sua volta, e só voltou a si quando ouviu um grito alto vindo de cima. Se a ideia era não serem notados, alguém havia feito besteira.

Correu imediatamente para dentro do prédio, torcendo para que todos estivessem vivos. O térreo estava lotado de capangas e, quando viram ela, partiram em sua direção. Imediatamente deu meia volta, correndo para longe. Os dez ou quinze que a seguiam não conseguiam acertar os tiros (ou conseguiam? Ela pensou ter sentido algo), mas pareciam alcançá-la.

Após correr muito pela rua com a arma pesada, começou a se cansar. Virou à esquerda em uma esquina e sentiu seu braço ser puxado com violência para dentro de um beco. Uma mão pressionou sua boca por dois segundos, até que ela entendesse que era um aliado.

TalkieWarrior puxou seu pulso por um segundo e correu até o final do beco, levantando uma tampa de bueiro e saltando. Ouvindo os passos dos capangas se aproximarem, ela também entrou e fechou a passagem.

– É aqui – TalkieWarrior disse. – Espantalho está aqui, eu interroguei alguns dos capangas. Vamos, não temos tempo a perder.

– E os outros três garotos? – Rylai disse um tanto quanto alterada. – Não podemos deixá-los lá.

– Eles provavelmente já estão mortos a essa altura – respondeu e passou a entrar no local.

– É assim que você lidera uma missão? Deixando eles para trás? – Correu para sua frente e bloqueou seu caminho. – Quem você acha que é, descartando vidas assim?

– Você pode me chamar de General das amazonas, Jessica Prince de Themyscera. Se tem algo de que eu entendo é de missão em campo. Quem você acha que é para questionar a minha autoridade? Se você não tem coragem, saia daqui e vá fazer algo útil da sua vida. Não me atrapalhe.

– Não, eu estou fazendo algo útil da minha vida. Isso engloba tentar salvar as vidas que você deixa para trás como se fossem apenas números – tentou não respirar muito forte para não deixar transparecer que seu coração parecia quase cavar sua pele para bater além dos limites. – Como vocês planejam fazer algo útil de nós se forem nos deixando pelo caminho para morrer?

– Essas são as ordens que eu recebi para essa missão. São as ordens do meu treinamento – ela levantou o dedo indicador para ela, bem próximo a seu rosto. Em um estalo, uma pequena chama se formou em volta da ponta de seu dedo. Fogo. Finalmente Rylai percebeu que ela também era uma metahumana nova. Podia ser general de um exército, mas também acabara de ganhar poderes. – Se você não sair... – TalkieWarrior voltou a falar, mas seus olhos foram parar atrás da garota. Parecendo com medo, puxou a espada e armou-se.

Seus olhos estavam arregalados. Quando Rylai se virou para olhar, viu um humanoide se arrastando em sua direção, como se fosse um morto-vivo coberto de sujeira. Ao olhar para trás, viu cerca de dez vindo de onde elas vieram.

– Gás do medo – TalkieWarrior disse. – Aqui está cheio de gás, suponho que você sabe como ele funciona, garota de Gotham. Precisamos limpar a área.

– Como fazemos isso se nem sabemos quais dessas coisas são pessoas reais que estamos vendo distorcidas e quais são só alucinações? E como você sabe que eu sou de Gotham?

– Bata em todos – ela puxou um escudo das costas e jogou na direção do que estava na frente, fazendo-o cair no chão e abrindo caminho. Ignorou a segunda pergunta.

Ambas correram dos dez que vinham de trás para dentro do local. Vendo cada vez mais deles e vendo-os se aproximar cada vez mais, finalmente avistaram barris que soltavam gás. Indo até eles, fecharam as válvulas, vendo-se cercadas.

Ao mesmo tempo, avançaram nas figuras, batendo em tudo que viam pela frente e de todas as formas que podiam. Andando cada vez mais para a frente e procurando um local seguro, começaram a se afastar. As coisas ao redor de Rylai pareciam cada vez mais distorcidas e as paredes pareciam mudar de lugar toda vez que ela olhava.

Quando percebeu que eles não iriam parar de vir, em pânico, pôs-se a correr para a primeira direção que viu. Foi parar em corredores aleatórios, fugindo desesperadamente das imagens que continuavam a aparecer. Ao ver uma porta entreaberta, não hesitou em entrar.

Deparou-se com uma mulher parada no meio da sala que havia entrado. Ela vestia uma roupa preta completamente colante que cobria todo o seu corpo e seu pescoço. Rylai congelou, olhou-a de cima a baixo, sentindo um terrível nó na garganta e começando a ter a vista embaçada. Antes que percebesse, várias lágrimas caíram rapidamente e ao mesmo tempo. Num fio de voz, chamou:

– Mãe?

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