Capítulo 13: Dia mais claro

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Quando acordou, tentou se erguer nos joelhos trêmulos. Conseguiu com alguma dificuldade, então ajudou o garoto a se levantar.

Ouviu um grande estrondo. Olhou em volta, vendo uma casa distante em chamas. Depois mais um... e mais um.

Bombardeio – disse pra si mesmo, tentando focar os olhos em alguma coisa e falhando.

– Siga... eu. Seguro! – O garoto soltou com alguma dificuldade. Jay o olhou e percebeu que ele corria na direção de onde tinha vindo antes, então o seguiu.

Assim que chegaram a um beco sem saída, o garoto puxou uma tampa de bueiro e ambos entraram. O local acabou se revelando não o esgoto, mas um cômodo escondido no subsolo. Parecia ser uma pequena casa, ou um local de refúgio.

Três crianças apareceram, saudando o menino que trouxera Jay. Uma jovem menina apontou para o soldado e disse algo. O garoto negou e pareceram discutir de forma breve. Claramente, a presença dele ali causava algum tipo de discórdia. Talvez não confiassem nele.

– Estes, meus amigos – o garoto disse e deu um fraco sorriso pra Jay. – Morar juntos, a bomba matou mãe e pai nossos.

Jay sentiu um pesar gigantesco sobre si. Ainda que o garoto não falasse fluentemente sua língua, ele podia entender que eram órfãos. Órfãos por causa da guerra... como ele próprio. E nem sequer pareciam ter dez anos completos cada um.

Um dos meninos foi com um sorriso travesso ao garoto que trouxera Jay e cochichou algo ao seu ouvido. Este riu e falou para o soldado:

– Ele disse você parece Ririo.

Ririo? – Sentiu-se confuso.

– É personagem de jogo. Antes, nós jogar vídeo game. Hoje, não tem – o garoto explicou e Jay concordou, sentindo-se cada vez mais culpado pela situação das crianças. – Parece por causa do cabelo – o garoto apontou. – Sujo de branco. Tinta.

Jay exclamou "ah!" quando entendeu e levou a mão à cabeça, tirando o capacete e deixando as crianças verem o resto do cabelo a sujo pela tinta branca. O garoto que havia cochichado soltou uma gargalhada amigável e foi até Jay, tocando-lhe os cabelos.

De certa forma, vê-lo dar aquela gargalhada em meio a tanta dor fez seu coração se acender de alegria. Deu um largo sorriso de volta, permanecendo imóvel e deixando a criança analisar seu cabelo.

Sieghart! – Ouviu o comandante dizer pelo walkie talkie.

– Senhor – Jay respondeu após alguma resistência em levar o objeto para próximo ao rosto.

– O que diabos você estava pensando? – Seu superior bravejou do outro lado.

– Em salvar um civil – Jay respondeu sem desviar os olhos das crianças à sua frente.

Insubordinado! – Berrou. – Eu não tolerarei esse tipo de comportamento em minha tropa! Se todos resolvessem bancar o herói quando bem entendessem, essa guerra estaria perdida. Amanhã mesmo você volta!

– Talvez seja melhor perder – disse em um impulso.

Perdão?!

– Então todos devessem ser heróis e perder a guerra – disse sem mover um músculo, ainda encarando as crianças. – Não vou ser parte dessa guerra injusta.

– Você está desertando?!

– Estou – falou sentindo um arrepio percorrer sua coluna.

De repente, enchera-se de coragem. Coragem que não sentia há anos. Sentia-se culpado por ver o que a falta de coragem dele e de todos os seus companheiros causava aos inocentes, e talvez justamente por isso, parecia não ter o que temer. Não ter o que perder.

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