Após chegar à Torre, Templarix teve que completar o relatório da missão que Talkie deveria dar. Em uma sala metálica com uma mesa metálica e cadeiras metálicas, se encolheu para contar com detalhes desnecessários sua luta com Espantalho.
Desligou-se das emoções a ponto de contar tudo que acontecera com uma voz firme – contudo, baixa. Olhou para a mesa o tempo inteiro enquanto falava, sentindo a pressão do olhar de Talkie não muito longe dela.
Quando os procedimentos terminaram, saiu sem destino certo pela Torre. Caminhou por alguns lugares aleatórios antes de parar em frente a uma enorme janela na ala central. Observando a Terra girar quase que imperceptivelmente, parou. Enquanto fitava o esplendor da enorme visão à sua frente em tons de azul, verde, amarelo e branco boiando em uma infinita escuridão, não percebeu quando a General parou ao seu lado. Talvez não estivesse apenas observando a Terra, afinal. Talvez nem sequer estivesse observando a Terra mais.
– Deve ser um momento difícil para você, então serei breve – disse da forma menos ríspida que pôde. – Seu desempenho com Espantalho foi admirável para uma iniciante. Seus movimentos e táticas são razoáveis, mas você tem potencial. – Fez uma pausa. – Isso é um convite para permanecer em uma possível formação de equipe... de recrutas – observou Templarix por alguns segundos. Ao perceber que não conseguiria nada além de seu silêncio, completou: – Caso sua resposta seja positiva... qualquer amazona nessa nave pode te levar até mim.
– O que você viu lá? – Desviou os olhos da Terra pela primeira vez, levando-os à direção dela, observando-a de rabo de olho. – Quem te atacou?
– Não muito diferente de você... – respondeu de forma menos altiva – família. – Percebendo que a conversa havia finalizado, deu um passo para trás e partiu em retirada.
Família.
Talvez Rylai tivesse medo daquilo porque talvez sua mãe realmente tivesse dado a entender. Talvez fosse verdade, de alguma forma.
Sabia que se começasse a chorar, não iria parar. Não queria chorar na frente de todos. Engoliu em seco e se apoiou na janela, desejando ser sugada para o espaço para chorar e gritar sem ser ouvida até seus órgãos falharem e morrer por asfixia.
Tentou pensar em alguma outra coisa. Qualquer coisa. Não conseguia pensar em nada além dela. Nada. Nada parecia maior do que ela, nada parecia mais doloroso, nada parecia mais real. Era como reviver o luto.
– Se você aceitar – ouviu uma voz puxá-la do redemoinho de pensamentos que parecia consumi-la de dentro para fora – será meu dever garantir seu bem-estar – desapoiou-se da janela para se virar, vendo Talkie. – Posso tornar esse efeito retroativo.
– Você não tem que sentir pena, General – sua voz saiu em um fio e mais frágil do que gostaria. Imediatamente se arrependeu de ter respondido em voz alta.
– É dever de um líder olhar por seus subordinados. Preciso de você estável se quisermos fazer coisas úteis.
Ao fim, Rylai quis dar uma resposta sarcástica. Quis dar de ombros e deixá-la sozinha. Quis perguntar quem ela achava que era, mas sabia exatamente as respostas que obteria. Subordinada? Sério?
– Há qualquer coisa que eu possa fazer por você, Rylai? – Repetiu um tanto quanto séria.
Rylai a encarou. Não havia contado seu nome. Chegou a teorizar onde ela teria obtido aquela informação, mas logo desistiu. Ela era a general das amazonas, deveria saber de tudo que acontecia na Torre e tudo em um raio de quatrocentos mil quilômetros dela. Então também deveria saber sobre Kyle Vengeance, o único familiar vivo de Rylai Vengeance. O primo que estava presente em suas memórias de infância, que a acolhera após a morte dos pais, que a sustentara e dera tudo o que podia.
– Eu quero encontrar Kyle Vengeance – não hesitou para falar.
– Deck da Asa Meta, daqui a meia hora – respondeu enquanto colocava as mãos para trás e se retirava. Deu alguns passos antes de fazer sinal para algumas amazonas próximas.
Rylai se questionou como localizariam seu primo na Terra e o levariam para a Torre em menos de meia hora sem que ele precisasse ser dopado. Desejou gritar para TalkieWarrior e pedir que o trouxessem ileso, mas temeu que ela fizesse o exato contrário pelo simples fato de ter pedido. Em um pesaroso suspiro, agachou-se e se encostou na janela gelada, contando mentalmente os segundos e esperando por meia hora.
Quando o tempo se esgotou, caminhou temerosa até uma das portas da Asa Meta, localizada ao sul da nave. Mais parecendo um animal assustado, esgueirou-se por entre as paredes metálicas até que viu um rapaz parado de costas no meio do pequeno salão vazio que conduzia para a Asa Meta. Em um impulso, antes de partir correndo em sua direção, gritou:
– Kyle! – Então, assustado, o rapaz se virou. Era ele.
Quando Rylai o alcançou, deu impulso e se esticou para abraçá-lo com braços sufocantes em torno de seu pescoço. Imediatamente, o Vengeance mais velho correspondeu o abraço, sentindo a ponta dos pés dela, que pendiam, bater no meio de suas canelas. Levou uma das mãos à cabeça dela enquanto sentiu um nó se formar em sua garganta.
Deixando-se descer lenta e gradativamente, ela disse:
– Está tudo bem? Você está bem?
– Estou – ele respondeu assim que a pôs no chão. – E você? – Analisou-a com cuidado, claramente confuso. – Como trouxeram você para a Torre tão rápido? Como você esteve na minha ausência? As pessoas sabem o que aconteceu?
– Bem... como assim? – Rylai tomou parte em sua confusão. – Como trouxeram você para cá... certo? – Então a ruga confusa entre suas sobrancelhas se desfez em uma expressão de surpresa enquanto ela arregalou os olhos. Finalmente entendeu que ele também estava na Torre aquele tempo todo... e que ainda não havia saído dela. – Kyle... você também pegou um exobyte?
– Também? – Ele enrijeceu a postura. Entendeu o que ela quis dizer.
Imediatamente, Rylai olhou para trás. Tinha certeza de que a general estaria supervisionando a conversa. Estava certa. Quando seus olhos pousaram sobre a figura totalmente de preto encostada no arco por onde ela passara, marchou até ela:
– Ele estava aqui esse tempo todo? – Apontou para trás. – Como vocês puderam?
– Não ficamos promovendo encontros familiares aqui – ela respondeu sem se mover. – Tem milhares de pessoas novas nessa nave.
– Ele nem saiu daqui – quando chegou perto o suficiente, parou. Enquanto Rylai gesticulava e apontava, Jessica, imóvel, mantinha os braços cruzados e o ombro encostado na estrutura da nave.
– Ele está entre os selecionados para as próximas missões que surgirem, se saber disso vale de algo para você.
– Como posso garantir que ela e eu fiquemos juntos? – Kyle disse enquanto se aproximava de Jessica. – Ela é menor de idade, eu sou o tutor dela. Acho que tenho alguns direitos.
– Isso não vale de nada aqui, cidadão – Jessica o encarou. Passou o olhar da direção dele para a dela e da dela para a dele lentamente. Aos olhos de Rylai, ela parecia uma estátua fria e sem sentimentos. Parecia resolver tudo de uma forma que Rylai não era muito familiarizada. – Mas posso fazer da próxima missão um teste com você...
– Aceito – Kyle respondeu de forma firme.
– Quando será a próxima missão? – Rylai puxou a atenção de Jessica. – Você já tem dois na equipe.
– Certo – deu impulso para o lado. – Vocês serão chamados na hora certa – passou os olhos pelos dois antes de lhes dar as costas. – Esteja pronto para mostrar o que você sabe... Zenith.
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Beyond Heroes: Origins
Science FictionTrailer no primeiro capítulo! Nenhum herói nasce herói. Um herói é construído, moldado, forjado, testado. Um verdadeiro herói renasce das cinzas, da dor, da decepção, da perda. Um verdadeiro herói é aquele que luta para que os outros não passem pel...