Capítulo I - A tempestade

62 5 2
                                    



Um clarão cortou o céu porem poucos perceberam e ninguém deu importância, estavam muito preocupados com seus problemas cotidianos, foi quando uma estranha sombra apareceu e se moveu sem ser notada, ela ia rapidamente passando pelos becos e se deparou com um pequeno abrigo improvisado, um mendigo catava comida e coisas úteis em uma lixeira próxima e congelou ao sentir um arrepio percorrer toda sua espinha, seu corpo estremeceu, alguém com certeza o observava. Ele respirou fundo e bem devagar se virou segurando uma lata de ervilha fora da validade bem forte em sua mão, começou a gritar insultos para aquele que ousava invadir sua casa. Ele se virou e ia jogar a lata quando se assustou.

- Minha nossa! Quem ou o que é você? – Disse o pobre mendigo antes de ser vaporizado por uma estranha energia.

- Só mais uma marca. – Disse a sombra.

A lata rolou pelo chão fumegando e a sombra desapareceu deixando uma poeira negra no ar, a marca do corpo do pobre homem na parede do beco e um desenho de um pentagrama feito com sangue no chão.

Era ano 200 pelo novo calendário e a cidade de Zoran estava muito movimentada, todos estavam atarefados por causa da festividade que iria acontecer, enquanto uns faziam a colheita outros bebiam e se divertiam comemorando todo tipo de coisa contanto que se pudesse brindar. Nada parecia afligir os moradores da pacata cidade, eles estavam felizes com a chegada da festa da colheita que era o maior acontecimento da cidade. Não muito longe dali em seu barco pesqueiro estavam En de Lisarb e seu filho Zariel, eles eram moradores da cidade de Zoran e responsáveis por boa parte dos peixes comercializados ali e em algumas cidades vizinhas, ambos estavam de certa forma contentes pela chegada da festa da colheita apesar de não parecer. Zariel com seus doze anos de idade ajudava seu pai com os afazeres, após a morte prematura de sua mãe, seu pai e seu avô ficaram responsáveis pela sua educação. Ele era bom em praticamente tudo que fazia, muito astuto e com uma força fora do normal para um garoto de sua idade e seu porte meio franzino, não tinha dificuldades com o trabalho mais pesado e o fazia com alegria. Porem havia um problema, as crianças sempre implicavam com ele e na maioria das vezes sem motivo algum, ele preferia não arranjar confusão, os garotos sempre o chamavam de fraco o empurravam e as vezes chegavam a bater nele. Ele arrumava um jeito de escapar, prometeu a seu pai que não usaria sua força contra os mais fracos, apesar de no fundo não aguentar ser chamado de fraco, aquilo de alguma forma tocava seu ego, conhecia sua força e sabia o quão longe podia ir. Os garotos da cidade vizinha, Tristan, se aproveitavam que ele não revidava e faziam o que bem entendiam, talvez eles tivessem inveja da vida que Zariel levava, que apesar das responsabilidades ele era livre para fazer o que quisesse e sempre tinha dinheiro uma vez que seu pai lhe dava parte dos lucros da venda dos peixes. Ele era popular com as garotas apesar de nunca ter namorado nenhuma, era tímido e sempre que uma menina se aproximava ele a driblava melhor que quando era alguma briga. Os garotos que andavam em grupinhos geralmente mais velhos adoravam arrumar briga e se gabar, Zariel podia dar uma surra neles sozinho, mais para manter a promessa por vezes apanhou calado, algumas para ajudar um amigo que se meteu em encrenca outras apenas por estar no lugar errado na hora errada. Os garotos da cidade de Tristan eram muito encrenqueiros e davam pequenos golpes, sua má índole era conhecida nas cidades vizinhas. A cidade de Tristan era maior que Zoran e seus moradores eram na maioria de lugares diferentes, imigrantes foragidos de sua terra natal ou apenas pessoas em busca de uma nova vida.

No barco de pesca dos Lisarb Zariel estava pensativo com os olhos fixos na linha do horizonte, alguma coisa não estava certa. O tempo estava perfeito. O vento, o céu, era um dia maravilhoso, mais ainda sim alguma coisa o avisava para tomar cuidado, sempre teve um sentido aguçado como se sussurrassem em seus ouvidos, porem foi cortado de seus pensamentos por embolado de trapos que o acertou em cheio na cara.

Zariel - O espírito do lago de cristalOnde histórias criam vida. Descubra agora