Zariel agora estava no centro da floresta esmeralda, a beleza era indescritível e por um momento se lembrou da sua terra natal e da beleza de sua praia, uma nostalgia tomou conta de seu coração e ele se deixou levar. A floresta esmeralda tinha uma vegetação exuberante e seu verde diferente tinha um brilho especial que não se encontrava em nenhum outro lugar mesmo em Aradar. Tipos diferentes de plantas só sobreviviam ali assim como espécies raras de animais como o pavão arco-íris, Zariel hipnotizado pela beleza que encontrara esqueceu o que fora fazer ali por alguns minutos ficou apenas observando, pensava como aquilo podia se manter tão belo se todo resto da floresta se encontrava desfalecendo a cada dia. Uma dor mortal o trouxe de volta, sentiu o aço atravessar-lhe as costas e derrubar lhe no chão. Não devia ter baixando tanto a guarda, a floresta guardava muitas surpresas algumas boas e outras muito más. O Esfinter que ele deixou escapar o seguira e não veio sozinho, um ser pequeno e forte que mais lembrava uma mistura de rato com coelho viera junto.
– Me entregue o ouro que você roubou do Esfinter.
- Não há ouro nenhum, você caiu nas mentiras desse maldito. Eu estou aqui para acabar com quem está destruindo tudo na ilha porque andaria com dinheiro?
O pequenino olhou para o Esfinter o qual tentou correr mais já era tarde, o pequeno ser com uma velocidade incrível o cortou em três. Ele se aproximou de Zariel e pediu desculpas mais levou sua espada e sua mochila só lhe restando o cordão de Efiuz que o pequenino não arriscou pegar sumindo assim de sua frente e o deixando gravemente ferido.
A noite caiu sobre Aradar e só os espíritos dos aventureiros mortos vagavam pela floresta esmeralda, onde o sinistro habita e o mal não dorme. Zariel continuava caído tentando evitar sangrar até a morte o que não estava dando muito certo.
- Levante-se ainda não chegou a sua hora, estenda sua mão e evoque os espíritos, pois através deles será invencível. Erga-se!
Ouviu mais uma vez a voz que lhe chamava. Há última frase se repetia em sua mente e com a pouca força que lhe restou se levantou e olhou para o lago de cristal que estava a poucos metros a sua frente, a lua tentava aparecer por de trás das nuvens escuras e os raios que passavam refletiam na agua. Ali em algum lugar do lago estava o objeto que lhe daria a força necessária para derrotar qualquer um que se opusesse, talvez tivesse se superestimado e uma ajuda não cairia mal. Uma voz soou como um leve sussurro nos ouvidos de Zariel.
- Para ter o poder seus propósitos têm de ser nobres o suficiente para que ela venha até você, que ela o escolha, olhe dentro do seu coração e me mostre o seu desejo.
Zariel sentiu os espíritos dos aventureiros mortos dizendo para ele evocar a espada mais nem todos os espíritos queriam ajudá-lo, um instinto assassino tomou conta do local e quando ele tentou invocar a relíquia alguns espíritos o atacaram enquanto outros tentavam ajudá-lo. Dizem que quando se está à beira da morte pode-se ver os espíritos daqueles que já se foram e a morte vindo buscar a sua alma. Zariel esboçou um pequeno sorriso irônico e se lembrou que já era bem conhecido da morte. Ele ficou de pé com muita dificuldade, a ferida não parava de sangrar. Um conflito entre as entidades começou, ele podia ver perfeitamente os espíritos lutando e estava no meio deles. Devagar ele tentou se aproximar do lago, andava com dificuldade e a cada passo um jorro de sangue saia de sua ferida antecipando sua morte. O golpe que o pequenino lhe desferiu acertou justamente na fresta que o lobo abriu. Um espírito veio em sua direção e Zariel tentou acertá-lo, não funcionou, além do movimento ter sido muito lento o espírito passou por dentro do soco de Zariel que sentiu a ferida e o gosto de sangue em sua boca. Outro espírito veio rindo em sua direção e o atacou diretamente no coração fazendo com que caísse de joelhos diante do lago, ele pode ver a marca do soco em seu peito, dessa vez ia morrer e tudo que havia passado seria em vão, sentiu raiva de si mesmo, sempre se achou capaz de qualquer coisa e começou a se apiedar de si mesmo, lembrou de sua mãe que não chegou a conhecer e do destino levando também seu pai, lembrou das crianças que o maltratavam e de não poder revidar, começou a sentir raiva, muita raiva do mundo e uma aura negra começou a envolve-lo.
- Todos são culpados, malditos sejam. - Dizia Zariel que já não parecia ele mesmo, uma áurea negra o cobriu completamente e até mesmo os espíritos malignos se afastaram. Uma risada maléfica ecoava no fundo de seus pensamentos nublados.
- Isso garoto, deixe que a raiva o domine, você verá como o poder dela e devastador.
– Você não é assim Zariel acorde, não deixe que brinquem com seus sentimentos, lembre-se de porque você está aqui, lembre-se do amor de seus pais.
E ele lembrou, foi até o momento de seu nascimento e do amor materno que pode sentir mesmo sendo um bebê, lembrou do sorriso de seu pai e de abraço caloroso, lembrou de seu avô com carinho e despertou do transe, a aura negra sumiu e ele em um último ato aproveitando a oportunidade evocou o que era sua única esperança de tentar salvar Aradar e talvez reencontrar seu pai. Zariel fechou os olhos e pensou qual era seu desejo naquele momento, pensou em seu pai e nas pessoas que habitavam Aradar. Salvar aquelas pessoas era seu destino e desejou do fundo de sua alma o poder necessário para isso e nada mais.
A voz que o falara antes havia escutado seus pensamentos e teve a certeza que ele era sincero e não queria poder por ambição ou glória.
- Darei o que me pedes filho de Aradar.
Zariel escutava uma voz em sua mente e em voz alta repetia o que ela dizia.
- Das profundezas do lago de cristal, sobre a proteção dos espíritos dos aventureiros mortos eu evoco a maior das bênçãos divinas. Relíquia ancestral venha até mim, revele-se!
Tudo ficou como em câmera lenta e o lago se abriu, a luz da lua iluminou a escuridão onde só se enxergava o brilho das almas dos espíritos, uma espada saiu do fundo do lago e se ouvia o som de vento sendo cortado enquanto ela ia em direção a seu invocador, a espada veio como um relâmpago com seu brilho verde até a mão de Zariel, que ao tocá-la sentiu toda sua energia recuperar-se, a ferida se fechou e uma voz que parecia sair da espada lhe disse:
- Agora somos um.
Um brilho cobriu o corpo de Zariel, os ferimentos desapareceram por completo e a voz continuou.
- Aos espíritos que tão bem me guardaram eu vus liberto de seu juramento, aos espíritos malignos que assolam esta floresta eu os condeno.
- Zariel eu sou você e você sou eu.
Os espíritos que até então estavam ajudando Zariel sumirão com o vento, mas os espíritos que o atacavam agora voltavam mais uma vez sua atenção para ele, o brilho maléfico em seus olhos só não era superior a suas feições de ódio. Todos os espíritos investiram contra ele de uma só vez que não sabia o que fazer, quando de repente involuntariamente, prendeu a espada em suas costas, seu cabelo e seus olhos ficaram brancos e uma tatuagem em forma te pentagrama apareceu em suas costas, os espíritos iam matá-lo, mas em um movimento lançando um soco em direção ao chão pronunciou. - Domo de esmeraldas. E um domo o circundou e o protegeu dos ataques jogando também todos os espíritos para trás, rapidamente ele retirou a espada da bainha e apontado para os espíritos esbravejou. - Reflexo lunar! Acertando todos os espíritos ao mesmo tempo, quando a luz do golpe se dissipou não havia mais nenhum espírito, ele olhou para o lago e a lua brilhou por alguns instantes no céu permitindo que ele visse seu reflexo na água enquanto sua aparência voltava ao normal. Ele olhava para seu reflexo sem entender muito bem o que aconteceu, uma voz em sua mente dizia que não se preocupasse que com tempo se acostumaria, Zariel lembrava-se apenas de ter evocado a relíquia e que uma voz a mesma que lhe falara agora também saiu da espada, mas agora falava direto na sua cabeça e tudo ficou claro. O espírito que habitava a espada dividia o corpo com ele, no começo não gostou muito da ideia de dividir o corpo mais agora tinha um forte aliado não só do seu lado mais dentro de si.
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Zariel - O espírito do lago de cristal
FantasyZariel nem imaginava que sua pacata vida de pescador seria bruscamente alterada por uma tempestade misteriosa. Quando um círculo de magia é finalizado, o primeiro passo para o cumprimento de uma antiga profecia é dado. Um novo mundo se abre diante d...