Capítulo 3

24 1 0
                                    

Lembro-me do dia em que eu tentei pela primeira vez dar cabo da minha vida. Eu tinha 11 anos na época, e na saída da escola eu tentei me aproximar da garota que eu gostava e que estudava junto comigo, a Sara. Ela era linda, tinha o cabelo liso e longo, e seu rosto angelical me fascinava. Ela até me percebeu chegando, mas uns moleques da sexta série me agarraram e começaram a me bater ali mesmo. Pela primeira vez eu havia tomado coragem e denúnciei o grupinho na diretoria, pois eles roubavam nosso dinheiro do lanche no pátio da escola durante o recreio. Os três tomaram advertência, e agora eu é que estava sofrendo as consequências.
Eu já estava acostumado a apanhar, mas na frente da Sara, foi a gota d'gua. Eu não suportei tamanha humilhação.

Naquele momento eu só queria morrer

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Naquele momento eu só queria morrer. Pra mim não tinha mais volta, eu tinha que morrer logo e rápido, a dor daquela humilhação se uniu a tudo que eu passei e estava passando. Eu não aguentava mais a minha vida. Então eu corri, corri pra bem longe dela, eu corri sem direção. Eu não parei nem por um momento, não ousaria jamais olhar pra trás e ver de novo aquele olhar de pena. Não. Ver aquele olhar das outras pessoas tudo bem, era suportável. Mas ver a Sara me olhando daquele jeito, isso eu não aguentei. Eu não consegui suportar.
Eu só parei quando me aproximei de um cruzamento, eu fiquei ali parado, tentando me recompor. E lembrando da cena. E o olhar dela quando eles me deixaram ali no chão.

- Se mata! - era aquela voz de novo.
- Se mata!

Dessa vez, eu estava de acordo. Eu não ia resistir como das outras vezes. Não existia nada que me prendesse, ninguém por quem viver.
Era hora de acabar com essa vida sem sentido. O sinal do farol de pedestre ainda estava avermelhado, um ônibus enorme estava vindo, ia passar em velocidade máxima. A idéia foi soprada e eu nem questionei. Entendi como uma chance imperdível de não mais existir. Acho que a minha mãe nem ia chorar! assim pensei.
Quando perto chegou, me joguei.

Spirit CodeOnde histórias criam vida. Descubra agora