1 de junho de 1976 - Taça das Casas

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Eu havia me revirado umas duzentas vezes na cama em uma tentativa desesperada de pegar no sono. Eram quase duas da manhã quando acordei com o sussurro de Dorcas em meu ouvido.

-Lílian! - murmurou -Snape está no corredor. Disse que não sairia de lá até que você fosse falar com ele.

-Que horas são? - perguntei, esfregando os olhos -Como diabos você sabe que Severo está no corredor?

Mesmo no quarto escuro, pude ver que Dorcas corava. Levantei da cama, calcei o primeiro sapato que vi e me dirigi ao buraco na parede do Salão Comunal. Na mesa haviam livros e penas, garrafas vazias de Cerveja Amanteigada e um pedaço velho de pergaminho dobrado muito bem.

Sai pelo buraco sob reclamações da Mulher Gorda, que parecia particularmente irritada nesta noite, provavelmente pelo horário em que eu saia. A mulher do quadro a seu lado abriu os olhos, irritada. Ao sair, deparei-me com uma figura pálida com cabelos pretos vestindo ainda o uniforme da escola, a cabeça recostada na parede ao lado do quadro da Mulher Gorda, os olhos fechados.

Estava imerso em uma escuridão assustadora e, tratando-se de Hogwarts, nunca era bom permanecer no escuro. Peguei minha varinha e sussurrei o feitiço "Lumus", fazendo uma pequena bola de luz surgir em sua ponta.

-Snape - chamei. Ele abriu um olho e olhou para mim com alívio aparente -Pelas barbas de Merlin, o que você está fazendo aqui?

-Lily! - exclamou, levantando-se com dificuldade. Ele tentou se aproximar mas eu me afastei bruscamente -Lily, por favor...

-Não sabe que é perigoso ficar no corredor à noite? - falei, irritada - Filch poderia te ver, sabe...

-Vocês dois podem fazer o favor de calar a boca? - falou a Mulher Gorda rispidamente. Ela estava com um pijama de flores e parecia decidida a dormir as essenciais oito horas diárias.

-Desculpe - murmurei entredentes -Sabe, Severo, eu sou monitora agora. Posso tirar vários pontos da Sonserina por te encontrar fora da cama a essa hora, sabe?

-Eu sei, mas era preciso - ele falou em um sussurro. -Eu preciso que me ouça, Lily. Estou arrependido pelo que aconteceu no dia dos NOM's, de verdade, eu não queria te chamar de... de...

-Sangue-ruim? - falei, cuspindo aquela palavra nojenta -Mas é o que sou, não é? Sou uma Sangue-ruim.

-Lilian, eu estou arrependido, eu  juro - ele falava, passando as mãos desesperadamente pelo cabelo.

-Não parece.

-Perdão? - ele perguntou, confuso.

-Você não me parece nada arrependido - retruquei - Continua andando com aquelas pessoas odiosas da Sonserina. Avery, Mulciber, Bellatrix... Eles não são boa gente. E eu sei que, no fundo, você acredita que eu não merecia estar aqui apenas por causa de meu sangue.

Severo respirou fundo, fechando os olhos. Eu o encarei, a mão fechada em torno da varinha que eu tinha erguida entre Severo e eu. Abriu os olhos e olhou de novo para mim. Eu estava a beira de um ataque de nervos.

-Não é tão fácil - ele disse -Você não entende...

-Eu não entendo? - perguntei irônica -Realmente não entendo. A única coisa que entendo é que é sua escolha estar andando com essas pessoas. Você está escolhendo o lado errado.

-Lado errado em que?

-Você acha que eu sou idiota? - sibilei, fechando a mão em volta da varinha -Acha que não sei que estamos à beira de uma guerra? Que pessoas estão tomando partido? Acha que não sei que seus amiguinhos da Sonserina estão ansiosos para se juntar ao lado das trevas e que você vai com eles? Que Narcisa Black e o noivo dela, o Malfoy, já se juntaram a esta seita ou seja lá o que for?

O Diário de Lílian EvansOnde histórias criam vida. Descubra agora