O Diário de Lílian Evans

2 de outubro de 1976 - Aula do Slug

Saí da aula do professor Slughorn o mais rápido que pude. Desviei de uma ou duas pessoas que tentaram me perguntar o que havia acontecido. Abri a porta do banheiro feminino e logo em seguida fechei-a com tudo. Joguei minha bolsa com todos os livros e rolos de pergaminho no chão. Encostei a cabeça na parede úmida e fechei os olhos, rezando para acordar em minha cama e o dia de hoje não ter passado de um sonho. Era tudo que eu queria.

-Lílian Evans - chamou uma voz fantasmagória que vinha de um dor compartimentos do banheiro feminino. Dei um pulo de susto e a fantasma deslizou em minha direção.

-Murta - cumprimentei, tentando me recompor -Como vai a vida? Quero dizer, a morte? Quero dizer... Como vai, Murta?

-O mesmo de sempre - ela suspirou -Sabe quem eu vi passeando pelos banheiros femininos outro dia? Tiago Potter!

-Murta, Potter é muitas coisas, mas estou certa de que não é uma menina...

-Quero dizer que estava fazendo algo suspeito - interrompeu ela -Era mais de meia noite e ele estava aqui, procurando alguém.

-Provavelmente alguma menina - resmunguei, cruzando os braços -Não seria novidade alguma.

-O que quer dizer? - Murta abriu um sorriso trêmulo entre uma risada e um arquejo. A curiosidade de Murta e sua ansiedade por descobrir todas as fofocas da escola eram tão grandes que com certeza me ajudariam naquele plano: destruir o romance entre Potter e aquela Malfoy.

-Quero dizer que ele é um idiota - disse para Murta, fazendo seus olhos brilharem -Claro que você conhece todos por aqui...

E foi assim que eu tornei o dia pior do que já estava. Mas antes de tudo isso, tenho que explicar o que aconteceu antes. Antes da aula do Slug, antes de eu entrar na sala do Flitiwick.

Tudo começou ao fim da aula tediosa de História da Magia ontem de manhã. Era nossa penúltima aula, sendo que a última era aula de Feitiços junto com os alunos da Sonserina. O professor Binns certamente havia perdido a cabeça completamente pois, mais uma vez, nos ensinava sobre a Revolta dos Duendes (algo que aprendemos no primeiro ano) e ameaçou colocar-nos nas masmorras com Filch se continuassemos interrompendo sua aula. Mas isso nem é o mais importante.

O que realmente importa é o que aconteceu na aula de Feitiços. Por incrível que pareça, eu realmente não me importava se Potter aparecia ou não nas aulas, mas aquele dia eu notei que ele não estava lá. Notei também que Nojentinha Malfoy nos dera o prazer de desaparecer do mapa. Mas foi então que fiz as contas.

-Professor Flitwick - chamei-o. O professor, que se equilibrava sobre a pilha padrão de livros para poder ver os alunos, se virou, segurando a pena com maestria -Potter faltou novamente na aula. Como monitora-chefe da Grifinória é meu dever ir conferir se tudo está bem.

-Melhor não - gritou Sirius imediatamente. Remo deu um chute no pé dele por debaixo da mesa e ele resmungou -O quê? Pontas mandou dizer isso.

-Cala a boca - disse Remo entredentes. Ele limpou a garganta e continuou, num tom mais elevado -O que queremos dizer é que não vale a pena a Lily perder uma aula tão importante. Podemos cuidar de Tiago mais tarde.

Naquele momento tudo ficou óbvio. Potter estava com a Malfoy nojentinha. Quanta hipocrisia da parte dele, não é? Passou a vida me recriminando por andar com Severo e agora começa a andar com a Malfoy, que sem sombra de dúvidas é pior que Severo.

Acho que nunca comentei muito sobre a Malfoy. Seu nome inteiro é Roxanne Malfoy, mas eu faço questão de chamá-la de Nojentinha. Tem cabelos loiros perfeitamente lisos e olhos tão azuis que pareciam de porcelana. Todas as meninas queriam ser ela e todos os meninos queriam ter ela, e ela nem era tão bonita assim. Mas, claro, ninguém é perfeito. Sendo quem é, Malfoy tem como irmão um dos mais conhecidos e influentes Comensais da Morte: Lúcio Malfoy. Não restava dúvida, pelo menos não a mim, que Roxanne Nojentinha Malfoy tomaria, cedo ou tarde, o mesmo caminho que o irmão.