Três dias depois...
O tom amarelado das folhas das árvores e o clima ameno do outono pareciam desacelerar o ritmo frenético da metrópole. O vai e vem de pessoas na Avenida Paulista, naquela tarde, aparentava estar menos agitado. As pessoas caminhavam, em vez de correr.
Eva deixou a estação do metrô com passos tranquilos. Observar o pulsar da vida na grande cidade sempre a fascinava. Ouvia a sinfonia em movimento, nos passos, gestos, conversas e declarações. As notas presentes nos sons das buzinas e no movimento incrivelmente rápido dos trens do metrô. A música da vida, com suas chegadas e partidas. Tudo isso encantava sua alma de artista. Ainda criaria uma música que refletisse toda a energia, mistério e sedução que faziam de São Paulo, a maior cidade do país.
Sorriu ao parar diante da Floricultura Maria Flor. O imóvel de arquitetura antiga destoava dos edifícios modernos que o circundavam. Em meio ao apelo contemporâneo e urgente da Paulista, a charmosa floricultura convidava a uma volta no tempo, quando a vida tinha outro ritmo e os homens e mulheres, outros valores.
O som alegre dos sinos anunciou sua entrada. Imediatamente foi cercada pela festa de cores, aromas e textura das flores, plantas e folhagens. Ao se deparar com os rostos familiares, seu sorriso se ampliou.
- Hoje é dia de festa? – Perguntou divertida ao cumprimentar Maria Flor, dona da floricultura e o noivo Miguel, advogado especializado em direito corporativo.
A história de como aqueles dois se conheceram e se apaixonaram, sempre provocava seu riso. Imaginar a expressão furiosa da amiga ao inquirir o “pobre consumidor” que teve a “má sorte” de entrar em sua floricultura no “dia errado”, sempre a divertia. Cumprimentou também Rafaela, sócia de Maria Flor e seu noivo Henrique. O homem informou ter entrado menos de dois minutos antes dela, para deixar uns documentos e já estava de saída. Mauricio, irmão de Miguel e também advogado, porém, especializado na área de direito de família e sua esposa, Sandra, a saudaram. A mulher trabalhara para o escritório de advocacia Lins e Silva por oito anos e durante seis, fora secretária do exigente e workaholic Doutor Maurício. Somente após a então secretária pedir demissão e ambos passarem pelo trauma de um incêndio, o bem sucedido advogado tomou coragem e lutou pela mulher pela qual era apaixonado há anos. Outra história de amor que daria um livro, Eva pensou.
A pequena e linda, Yasmim Evaristo Medeiros Lins e Silva, de apenas seis meses se remexia inquieta no colo do pai. Fazendo os encantadores ruídos característicos dos bebês.
- Ela está tão linda! Uma princesa – Eva comentou ao se aproximar do bebê que estendeu os braçinhos rechonchudos em sua direção.
Assim que recebeu o precioso pacotinho em seus braços, a menininha aninhou a cabeçinha repleta de fios negros, como os do pai, em seu ombro. Sentir o cheirinho delicado, acariciar o corpinho gordinho e frágil fez uma emoção diferente nascer em seu coração.
- Me dê seu preço – Mauricio pronunciou as palavras com um falso ar de desespero, provocando o riso das mulheres.
- Não ligue para ele Eva – Sandra se aproximou e com cuidado próprio das mães, colocou um delicado protetor sob a cabeça da bebê, protegendo a roupa da violoncelista. – Ela é agitada porque você a provoca o tempo todo – retrucou com o marido – Ele está encantado por essa fase em que ela começa a fazer gracinhas – Sandra proferiu a desnecessária explicação a “corujice” de Maurício.
- Confesso. Sou apaixonado pela minha princesinha - declarou acariciando o rostinho da filha que, com a cabeça no ombro de Eva, bocejou de uma maneira nada delicada.
- Quero só ver se vai continuar apaixonado assim quando ela for uma adolescente chata, teimosa e mimada – Sandra provocou disfarçando o sorriso.
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DEGUSTAÇÃO - Meu Destino é Você
Tiểu Thuyết ChungVocê acredita em amor à primeira vista? Ele não. Theodoro Santini, apesar de pertencer a uma família com uma confortável situação financeira, sempre apreciou as coisas simples da vida: família, amigos, uma cerveja gelada, sexo sem compromisso e suj...