Capítulo 1 - Uma manhã comum?

11.9K 342 17
                                    

 Theodoro Santini contemplou o reflexo de sua imagem  no amplo espelho da bancada do banheiro. O homem elegantemente vestido que o olhava de volta, parecia encarcerado em uma prisão de tecidos caros e gravata de seda.

- Merda! – resmungou ao ajeitar a gravata.

Ele era um homem de jeans, camisetas e sapatos informais. Porém, naquela manhã não tinha escolha. A reunião com o responsável pelo patrimônio da Casa das Rosas exigia uma boa apresentação.

A Casa das Rosas era um antigo e elegante edifício localizado na tradicional Avenida Paulista. O imóvel, tombado pelo patrimônio histórico, possuía um grande e infelizmente esquecido jardim. Atualmente o prédio era administrado pela secretaria de cultura do governo do estado.

Theo olhou novamente para seu reflexo. Praguejou ao perceber que o nó da gravata estava horrível. Irritado soltou a peça e recomeçou.

Fazia um bom tempo que um projeto não o deixava tão entusiasmado. Sentia o sangue correr mais rápido em suas veias, toda vez que pensava nos planos que tinha para aquele trabalho.

Há anos cobiçava a chance de por as mãos naquele jardim...

Desde que Sarah, sua irmã mais velha, assumira o cargo de coordenadora de projetos literários, ele visitava regularmente a Casa das Rosas, esperando a oportunidade que o faria concretizar os planos que tinha para o lugar. O jardim, apesar de abandoando nos últimos anos, tinha potencial. Sob suas mãos, ficaria de tirar o fôlego. As cores e perfumes seriam uma tentação para os sentidos. Planejava plantar espécies raras de rosas e instalar um sistema de irrigação, que manteria as flores e vegetação frescas e vivas. Mesmo no auge do verão ou do inverno.

- Você tem de ganhar o contrato primeiro - Repreendeu à imagem refletida no espelho.

Queria muito ganhar aquele contrato. Não era pelo dinheiro, financeiramente, não era tão atrativo assim. Mas, pela satisfação e realização que representava. Todo profissional deveria experimentar a sensação libertadora de trabalhar por puro prazer.

Apesar de formado em arquitetura paisagista, sabia possuir mesmo, era um coração de jardineiro. Amava trabalhar a terra, prepará-la para receber as sementes e mudas. Transformar um pedaço estéril de chão em um espaço vivo, repleto de plantas de cores vibrantes, trazia uma sensação de realização única.

Esse era um dos motivos de não haver montado um escritório, apesar de possuir documentação como pessoa jurídica. Não desejava um. Assim como não desejava ficar preso oito horas por dia, atrás de uma mesa, desenhando projetos para outros executarem.  Trabalhava em casa, quando o projeto exigia plantas ou documentação específica. Sua equipe contava com cinco funcionários. As reuniões, quando necessárias, eram realizadas nos locais aonde o serviço seria realizado, pois, se ocorriam problemas ou imprevistos, tudo era resolvido com o conhecimento do espaço e material que sabiam dispor. Um escritório de contabilidade lidava com toda a burocracia, impostos e taxas inevitáveis. 

Apesar do sobrenome tradicional e das comodidades de ter nascido em uma família com recursos financeiros, era um homem simples, que gostava de coisas simples. Amava o trabalho braçal e estar ao ar livre.

Não suportaria ficar preso entre quatro paredes.

Um malvado sorriso se desenhou em seu rosto. A não ser é claro, que elas fossem de um quarto e estivesse em companhia de uma bela mulher.  Pensou com típica arrogância masculina. 

- Foda-se! – Xingou tirando a gravata. 

Ele não era aquele homem elegante.

As mãos calejadas e os cabelos que há muito precisavam de um corte, contradiziam a imagem sofisticada.

DEGUSTAÇÃO - Meu Destino é VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora