Capítulo V

858 67 50
                                    

ABRIL DE 2010 — LONDRES

O céu de Londres continuava cinza e com cara de poucos amigos, eu estava no gramado na frente da Escola de Arte e Dramaturgia William Shakespeare decidindo se eu rasgava o roteiro que tinha nas mãos ou me jogava na frente de um táxi inglês.

— Eu sou um lixo, lixooo. — Cantarolei

Minhas aulas na escola de atores tinham começado já há duas semanas e eu continuava sendo a pior aluna, não conseguindo me desenvolver nas cenas muito menos estudar aqueles roteiros absurdamente chatos britânicos, na verdade, não eram chatos, eu que precisava arranjar alguma coisa pra colocar culpa do meu mau desempenho naquele curso.

— Ann! Aí está você.

Me virei na direção da voz. Era Sophie.

— Você sumiu, pensei que tivesse ido embora? — Sentou ao meu lado no gramado. — Está bem?

— Tô tentando entender qual o propósito do universo pra mim. — Entreguei o roteiro para ela.

— Você quer que eu te ajude a estudar? — Disse.

— Não. Mr. Collins disse que é uma apresentação individual, você tem que se preocupar com a sua.

— Mas eu não me importo. — Disse e começou a ler o roteiro.

Eu tinha conhecido Sophie Hunter nas aulas, a nossa turma tinha sessenta alunos e todos eram bem simpáticos e talentosos, mas a única que eu tinha feito realmente amizade era com Sophie. Ela era doce e atenciosa, um pouco tímida, mas muito, MUITO, talentosa.

— Você deveria estar em Hollywood. — Falei. — Com certeza já teria estrelado algum filme do Woody Allen.

— Por que vocês americanos acham que o universo gira em torno de vocês?

Tudo bem, ela não era tão doce assim.

— Nem venha, nós fomos colonizados por vocês ingleses. — Me defendi.

Depois que repassamos algumas falas do meu roteiro, concordamos em sair para almoçar. No restaurante, depois de feito os nossos pedidos, Sophie me contou de sua relação de anos com o seu namorado.

— Não que eu esteja desesperada, sabe? Mas são sete anos de um relacionamento que não tem mais para onde crescer a não ser...

— Casamento? — Completei.

— É, não que eu queira pressiona-lo... Mas... Tipo, eu preciso pressiona-lo. — Bufou.

— Então você tem que tomar a frente, coloca ele contra a parede ou joga um anel na cara dele, pode ser que se toque.

Ela riu.

— Queria que fosse tão fácil assim. — Tomou um gole da água. — Mas e você e o Benedict?

— Muito boa essas pedras de gelo, não? — Desviei a atenção para meu copo de água onde algumas pedras de gelo boiavam. — Incrível como elas são quadradas.

— Não! Pode me contar como vocês estão...

— Somos bons amigos. — Suspirei.

— Amigos? Tipo, amigos coloridos?

— Não, tipo, amigos, só amigos mesmo.

— Pensei que você gostasse dele.

— Pois é, eu também. — Suspirei.

*****

POV'S BENEDICT

— Você é muito mole, sabia? — Robin disse enquanto tentava se livrar da escova de cabelo que havia ficado presa em uma mexa. — Fica nesse chove não molha com a minha irmã.

— Não posso fazer mais nada, a Ann sabe que eu gosto dela. — Me joguei no sofá. — Já mandei flores, já cozinhei, já fiz de tudo...

— Você se declarou, Benedict?

— Eu tenho 34 anos, Robin, não sou mais um adolescente.

— Bom, tem 34 anos, mora em um apartamento minúsculo, bagunçado e ainda usa blusa de bandas. — Apontou para minha camisa do Pink Floyd. — Quem que não é mais adolescente que você disse?

— Não pode falar nada, você está em depressão por causa de um namoro. — Disse.

— De cinco anos onde minha namorada, quer dizer, ex-namorada foi uma filha da puta e me abandonou. —As bochechas de Robin começaram a ficar vermelhas e os olhos úmidos.

— Certo, me desculpe, não fique assim, por favor... A Ann me mata se souber que te deixei ruim.

Corri até ela e a abracei.

— Ok. — Respirou fundo. — O negócio é o seguinte, Benedict, você tem que fazer mais do que só jogar indiretas ou matricular a Ann em um curso que ela nunca demonstrou interesse.

— O que? Ela disse alguma coisa?

— Não... Pelo menos nada pra mim.

— Tá, e o que eu tenho que fazer?

—A[i eu não sei, já tenho que lidar com a minha cabeça em luto para poder pensar no que você pode fazer, invente, seja criativo e me deixe ir me trancar no quarto e mastigar as toneladas de aipo que a Ann comprou pra mim, por favor.

— Não senhora, eu prometi a Ann Rose que cuidava de você enquanto ela estivesse fora.

— Cara, você realmente precisa de uma namorada. — Bufou. — O pior já passou Benedict, eu realmente estou melhor, vê? Já não saio mais de casa sem vestir calças. —Apontou para as calças de moletom verde musgo que estava vestindo. — Agora saia daqui e vá descobrir o que fazer para conquistar a megera da minha irmã.

Parei alguns segundos e me imaginei dali uns dez anos ainda sozinho, morando no mesmo apartamento, vestindo as mesmas blusas e reclamando de como era difícil arranjar alguém. Lembrei de Olivia e de como eu cheguei a imaginar que seria com ela que eu passaria o resto da vida.

— É, eu me imagino passando o resto da vida com a Ann.

Robin sorriu.

— Isso é amável, Benedict. — Suspirou. — Você tem mais da metade da minha altura e consegue falar algo desse tipo, é tão amável. — Sorriu. — Mas não fale isso para a Ann, vai amedronta-la. — Apontou para a porta. — Agora saia daqui, vou assistir Grey's Anatomy e chorar chamando pela Lana.

— O que?

— Eu tô brincando. Nem lembro mais tanto do rosto da Lana. — Mentiu. —Agora fora do meu apartamento! — Gritou.

Here With Me - Benedict CumberbatchOnde histórias criam vida. Descubra agora