Arthur

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Arthur veio ao mundo em uma tarde de sábado em meados de abril.

Anna não conseguia acreditar na sorte. Será que era sorte mesmo? Ou aquilo era algum sinal? Seu filho nasceu em um dia quente de céu azul e límpido. Talvez Londres começava a fazendo sentido para ela, talvez tudo começava a se encaixar.

A dor. Lancinante. Excruciante. E todas as palavras bonitas que os ingleses costumavam usar quando menos necessário. Ann não conseguia pensar, raciocinar nem mesmo entender o que estava acontecendo além da dor do parto. Da dor de colocar um ser humano no mundo. A bolsa estourou e ela entrou em choque. Benedict entrou em choque. E Robin, graças a Deus, conseguiu enfiar os dois no carro e correr para a maternidade.

A euforia de finalmente ver o rostinho do filho roubou lágrimas de Benedict que prometia a Ann que a criança seria a mais feliz do mundo - e ela acreditava nisso, não naquela hora, claro, afinal, a dor não a deixava pensar.

- Só o pai, por favor - o enfermeiro barrou Robin que tentava invadir a sala de parto.

- Mas eu sou quase a mesma coisa - ela protestou.

- Você é o que? - o enfermeiro insistiu.

- Tia! - ela bateu os pés.

- Então não é o pai, com licença - e soltou a porta dupla que empurrou Robin até o meio da sala de espera.

A equipe instigava Ann Rose a fazer força e ela revidava agarrando a mão de Benedict. O inglês sentia seu estômago revirar de tanta emoção, ansiedade e expectativa. Ele suava, até mais que a própria obstetra.

- Doutora Alicia, muita atenção no paizinho da criança. Aparentemente ele está mais nervoso que a mãezinha - a médica que fazia o parto de Ann brincou e todos riram, menos Benedict que estava concentrado em não desmaiar e Ann, claro, que agora só queria ouvir o choro de seu filho.

Mas Arthur William Cumberbatch não chorou.

Todos ficaram em silêncio quando o último esforço de Ann findou em um grito esganiçado e a criança veio ao mundo. Benedict fitou a obstetra que corria com o bebê para uma espécie de incubadora e Ann, se recuperando, começou a perceber que algo estava errado.

- Meu filho está bem, doutora? - ela falou tentando se levantar da maca, mas sendo impedida por Benedict e as enfermeiras que monitoravam seus sinais vitais. - Posso segurá-lo?

Sem resposta, imediatamente Ann Rose se entregou a um choro descontrolado.

- Arthur! - gritou. - Meu filho. Eu quero ver o meu filho! Arthur, é a mamãe... Arthur, acorde, por favor.

O inglês estava estático. Imóvel. Sem saber o que fazer. Sentia que seu chão desmoronaria se não ouvisse o choro de seu filho nos próximos segundos.

- Arthur...

O choque de Ann havia causado um fino sangramento que se agravava conforme o choro da mãe se tornava mais estrondoso. O coração de Benedict estava aos frangalhos. Será que seu filho...

- Arthur...

Benedict abraçou Ann o mais forte que conseguiu. Queria consolá-la. Queria a sua dor desaparecesse. Queria saber o que havia feito de errado.

- A culpa é minha - Ann gritava. - É só minha. Me perdoa, Ben... Eu não queria...

Ele selou seus lábios nos dela, queria que o sofrimento de Ann terminasse e que seu coração não doesse mais. As enfermeiras estavam agitadas se revezando no auxílio à obstetra que lidava com Arthur e nas súplicas para que Ann Rose se acalmasse senão o sangramento não cessaria e sua pressão iria para o espaço.

- Não é sua culpa - ele sussurrou.

Ann se calou, engolindo a dor ao sentir as bochechas molharem com as lágrimas silenciosas de Benedict. Ele também sofria.

E como um raio de sol que foge pela fresta da janela e se espalha iluminando a casa quando a porta se abre, Arthur respirou.

E Arthur chorou trazendo alívio e alegria.

Trazendo também o sorriso mais sincero e apaixonado de Benedict ao fitar Ann Rose.

Ele decidira naquele instante, com o choro de boas-vindas de Arthur e o desejo avassalador de Ann por tomar seu filho nos braços, que sim, sua família era possível.

Here With Me - Benedict CumberbatchOnde histórias criam vida. Descubra agora