Acordo antes mesmo do despertador tocar. Olho para o teto e me pergunto pela milésima vez se vou me adaptar no centro da cidade, mas aí me lembro que já perturbei a Chris em nível estratosférico por dois anos e meio. Já está na hora de eu me virar sozinha.
Deixo a minha cama e me arrasto pro chuveiro e tomo um banho rápido, ainda tenho algumas coisas para arrumar. Hesito antes de bater na porta do quarto da Chris, crio coragem de acordá-la a essa hora e bato, bato mais umas 5 vezes e nada. Abro a porta devagar e vejo a cama dela arrumada e reviro meus olhos, mas é claro que ela não dormiu em casa hoje.
Volto pro quarto e termino de organizar o que restava. A parte boa da Chris não estar em casa é que não preciso me despedir pessoalmente, eu odeio despedidas e chorar como uma louca. Decidi escrever um bilhete que acabou virando uma super carta pra ela, agradecendo mais um milhão de vezes por tudo. Peço o uber e sofro pra levar as minhas malas enormes pra fora. Eu estou ansiosa, mas com medo de não me adaptar a um ambiente diferente, estive presa na bolha por muito tempo e acabei ficando mal acostumada.
O moço do uber, na qual eu já esqueci o nome, me ajudou com as malas e antes de entrar no carro, dou uma última olhada para a casa da Chris, eu nem fui e já estou sentindo falta. Espero que eu possa rever a Chris logo. O centro da cidade fica a uma hora e meia daqui, então pego meus fones e coloco na minha melhor e mais longa playlist. Como eu já devia esperar eu mal vi o começo do trajeto, acabei dormindo e acordei apenas quando estava prestes a chegar.
Desço um pouco tonta do carro quando ele finalmente estaciona. Infelizmente agora eu tenho que ficar sozinha com essas 5 malas e a minha velha mochila e me virar com duas mãos. Caminho com dificuldade com minhas tralhas até a recepção para me identificar e receber a minha chave. As pessoas passam por mim com ar de riso e amaldiçoo essas malas enormes pela vergonha que estou passando agora.
Os vinte minutos que demorei para acertar todos os detalhes acabou com o resto de ânimo que eu tinha para o dia todo. Por fim, tive mais uma luta para enfiar todas as malas no elevador e conseguir caber lá dentro também. Meu apartamento fica no quinto andar e já vou arrumando uma forma de tirar toda minha bagagem rapidamente. A porta se abre e já tento pegar todas as malas de uma vez, mas acabo me enrolando toda. Vejo uma sombra e olho pro corredor. Um rapaz com um corte de cabelo estranhamente diferente espera pacientemente para que eu saia do elevador, o que me deixa ainda mais afobada e super envergonhada e só piorou quando ele demonstrou impaciência. Ele pega duas das minhas malas e puxa pra fora, como se não bastasse tudo isso, minha mochila pesada solta a alça e joga algumas coisas de algum bolso que não vi que estava aberto no chão.
— Merda — resmungo e agora não sei se saio com as malas restantes ou pego minhas coisas. O garoto, acaba reagindo por mim e puxa as outras malas enquanto cato as tralhas da mochila. — Obrigada — murmuro para ele, nunca me senti tão destrambelhada na vida. O garoto entra no elevador e aguardo a porta se fechar pra ele não precisar me ver toda atrapalhada mais uma vez. Posso jurar que o vi segurando uma risada e agora quero me enfiar num buraco, e esse é só os primeiros minutos aqui.
Adentro o apartamento aliviada e volto a amaldiçoar aquelas malas. Observo o lugar e a ansiedade inicial começa a me invadir novamente, um lugarzinho só meu. Morar com a Chris era ótimo, mas eu me sentia um estorvo todo santo dia e vir para o centro da cidade foi a melhor forma que achei de me obrigar a dar meus próprios passos, até o emprego que tinha foi obra da Chris e depender dela pra tudo estava me incomodando muito.
Sem demora, começo a arrumar minhas coisas, começando pelas minhas roupas. O apartamento é aparentemente aconchegante, conta com um quarto suíte e uma sala-cozinha dividida por um balcão, incluindo a mobília. Foi o melhor que pude pagar. No meio da minha organização, recebo uma ligação furiosa de Chris por ter saído sem me despedir, nem ousei contar que foi de propósito, mas no fim ela acabou deixando de lado e me desejando sucesso nessa nova jornada.
Volto para minha organização e vou para a minha mochila, arrumo a alça e tiro tudo dela, percebo que está faltando a única foto que tenho com a Chris. Coço a cabeça e me esforço para me lembrar, eu podia jurar que eu vi essa foto aqui na mochila antes de vir embora. Ligo de volta para Chris e peço que ela dê uma vasculhada pra mim e como eu imaginei, não deixei nada para trás, antes de desligar ela prometeu que tirariamos outra caso eu não encontrasse, mas pra mim não é a mesma coisa. Provavelmente ela deve ter caído do mesmo bolso que esqueci aberto e me sinto a pior amiga do universo por perder algo tão precioso, principalmente pra mim.
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Emo Love
Teen FictionHelena está cansada de viver nas custas de sua melhor amiga e decide se mudar para o centro da cidade, tudo parece um desastre no primeiro dia, o que tira um pouco do otimismo de Helena. Matthew é um garoto que a sociedade quer bem longe de si, chei...