Sensações diferentes

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Foi difícil dormir a noite todo fodido dessa forma, mas consegui por estar exausto de verdade. Acordo meio arrastado na manhã seguinte, se não fosse pelo período difícil que estou passando em algumas matérias, não iria pra faculdade hoje com esses hematomas.

Caminho pro ponto de ônibus com meus fones estourando Black Veil Brides nos meus ouvidos, balanço minha cabeça pra tirar a minha franja do olho e dou de cara com um par de olhos verdes e um sorriso tímido.

— Helena — Minha voz sai surpresa como se não soubesse que ela frequenta a mesma faculdade que eu e estava a caminho de lá.

— Oi. — Ela finalmente sorri pra mim.

Merda! Para de encarar ela e diz alguma coisa.

— Se sente melhor? — É ela que puxa o assunto.

— Não dói tanto como ontem, se não me mexer tanto posso sobreviver.

Nosso ônibus chega assim que fecho a boca e entramos juntos. Helena apresenta o cartão de estudante e passa pela catraca, eu vou em seguida. Ela se senta e tem um lado vago ao seu lado, ela me olha meio sem jeito e no impulso me sento ao seu lado.

Observo Helena pelo canto do olho, seu cabelo curto balança e cobre seu rosto, logo ela levanta a cabeça e posso notar seu nariz reto estilo italiano e sua boca carnuda entreaberta. Helena se veste como uma garota comum dr faculdade e é muito bonita, de todas as formas. Minha cabeça começa a viajar e sou pego espiando, seu rosto logo toma cor e ela segura um sorriso.

— Tem alguma coisa errada em mim? — ela pergunta.

Fico constrangido com a pergunta, pois não tenho coragem de dizer que é totalmente o contrário.

— Não — respondo sem graça. — Quer um lado do meu fone? — pergunto pra disfarçar.

— Quero sim.

— Não sei se vai gostar, acho que tá meio óbvio o tipo de música que escuto — murmuro e entrego um lado pra ela.

Helena coloca o fone e espera que eu dê o play, observo seu rosto, ela abre a boca com uma expressão curiosa enquanto presta atenção na música, ela sorri e coloca seus olhos nos meus.

— Eu gostei! — conta entusiasmada.

Uma pessoa ao nosso lado que ia em pé me olha estranho, como se eu fosse um dragão de três cabeças, provavelmente se perguntando o que uma garota como Helena faz com um esquisito como eu.

Pareceu questão de minutos chegar na faculdade, pois eu quase não notei que o próximo ponto é o meu. Helena e eu nos levantamos juntos e descemos. A garota que nos levou pra casa ontem estava esperando no ponto.

— Esperava por você, vamos? E você garoto? Tá melhor?

— Estou bem, obrigado pela carona de ontem.

— Não precisa agradecer. — Ela balança a mão pra mim, antes de agarrar o braço da Helena e sair puxando campus a fora.

— Até mais, Matthew — Helena grita por cima do ombro e eu apenas aceno, observando ela se distanciar, quando estava um pouco longe, ela olha pra trás, na minha direção.

Ok, eu conheci ela ontem praticamente e não deveria estar assim, segurando sua foto no bolso do meu moletom pra cima e pra baixo. Ficaria em pânico se ela soubesse disso, ela iria me achar um louco. Se eu não fosse tão sem jeito, convidaria ela pra ver a minha apresentação nesse final de semana. Será que ela iria se eu chamasse?

Parei de ficar imaginando coisas e fui procurar a minha sala pra primeira aula, de longe eu pude ver a turma do Faruk, eles me encaravam de volta, mas não ousariam a chegar perto, não depois de saberem que alguém poderia denunciá-los. Eu mesmo poderia fazer isso, mas isso significava mais uma surra fora da escola. O meu único receio era que Helena fosse prejudicada por isso, Faruk é um filho da puta com qualquer um que cruza seu caminho e Helena não merecia aquele babaca na sua cola.

***

Na minha quarta matéria, pude ver Helena na sala, dessa vez ela balançou a mão pra mim e apontou pro seu lado e não me demorei pra ir até lá, quebrando meu padrão de sempre se sentar nos fundos.

— Oi — cumprimento e recebo um sorriso dela.

— Não vi você nos intervalos — Helena coloca uma mexa de cabelo atrás da orelha e me perco no seu ato.

— Fico num canto, geralmente. Gosto de ficar sozinho.

Me arrependi de ter dito isso quando ela pareceu incomodada e eu entedi o porquê.

— Quero dizer, gosto da sua companhia — me apresso em dizer e fico envergonhado em seguida.

— É bom saber disso, achei que estava sendo invasiva.

— Não, de jeito nenhum — respondo.

O professor entra na sala e paramos a conversa, pensei em como aquilo significava que Helena me procurou no intervalo, então ela queria minha companhia certo? Involuntariamente coloco a mão no bolso canguru do meu moletom e seguro sua foto, já que não seria capaz de levar minha mão até seu rosto e poder tocá-la.

A explicação complicada do professor começa, Helena anotava tudo ao meu lado e ela não parecia preocupada com a matéria complicada pra mim e isso me deu uma ideia.

— Você entendeu tudo o que ele disse? — quis confirmar.

— Sim — ela responde despreocupada.

— Se não for pedir muito, poderia passar no meu apê pra me ajudar? Tô tendo dificuldade nesse módulo e se eu não passar, meus pais me matam.

Parecia uma grande desculpa pra passar mais tempo com ela, mas é a mais pura verdade, a companhia da Helena seria um bônus a mais.

— Posso te ajudar sim — ela concorda e dessa vez sou eu quem sorrio, coisa que não costumo fazer na frente de pessoas que não sejam íntimas.

Paro e penso um pouco, pra quem limpou meus machucados no seu apartamento sem ao menos me conhecer, acho que ela pode ser considerada íntima também. De qualquer maneira, ela me causa sensações diferentes, me deixa nervoso e sem jeito, pela primeira vez me sinto o esquisito que as pessoas costumam me achar.

— Obrigado — agradeço. — Podemos ir juntos.

— hum? — ela questiona.

— Pra casa, pro hotel, quero dizer. Desculpe — digo e fico com cara de idiota.

Helena dá um sorriso com os lábios fechados e olha pra baixo, com sua timidez que a deixa fofa.

— Ah, claro. A gente se espera no ponto de ônibus, caso não nos encontramos no campus.

— Ótimo.

Emo LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora