Garota das malas

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Matthew

— Merda! — É a primeira coisa que sai da minha boca quando percebo que estou atrasado para aquele inferno de faculdade. 

Me arrumo de qualquer maneira e pego a mochila jogada no chão. Cato meus fones de ouvido e estou pronto pra mais um longo dia. No corredor clico várias vezes no botão do elevador, a porta se abre e dentro uma garota com várias malas tenta pegar todas de uma vez, falhando miseravelmente. Pra ela desocupar aquele cubículo móvel logo acabo ajudando com duas malas, puxando elas pra fora. Ela estava prestes a conseguir sair quando sua bolsa se solta e espalha coisas pelo chão, agora eu estava um pouco estressado com a situação e tirei o resto das malas, ela cata tudo com pressa e murmura alguma coisa pra mim que não consegui ouvir. 

Finalmente consigo adentrar o elevador e Observo a garota no corredor, ainda tentando pegar todas as malas de uma vez, sorrio com a situação. A porta se fecha e encaro minha imagem no espelho, no reflexo eu vejo um papel no chão, atrás de mim. Pego o papel que descubro ser uma foto e viro para ver o verso com a imagem. É da garota das malas. Observo com atenção a foto com duas garotas: uma loira e a garota de cabelo preto curto de olhos verdes, até que a garota das malas é bonita. Guardo a foto no moletom quando o elevador abre as portas e sigo para fora do prédio. 

A parte boa de sair atrasado é que os ônibus não estão cheios, e posso ir sentado sem ser esmagado por corpos de todos os tipos. Entro no pátio gigantesco da faculdade e para meu azar o idiota do Faruk está com sua turma de arrombados bem no corredor principal, tento reformular a minha rota sem ser percebido.

— Hey! Franjinha?! — Tarde demais. Continuo caminhando e seguro a alça da minha mochila com força. — Pera aí Franjinha, por que a pressa? — Faruk me alcança e ouço as risadas dos seus cachorros fiéis. 

— Me deixa em paz, Faruk. Não cansa de ser babaca? 

— Olha aqui seu depressivo de merda se me chamar de babaca de novo eu acabo com sua raça, entendeu? — ele ameaça, segurando minha camisa, logo ele me empurra e cambaleio pra trás.

Todo dia eu sou obrigado a passar por esse inferno por culpa dos meus pais. Quando eu finalmente achei que ia me livrar do Faruk, meus pais me obrigam a fazer faculdade e descubro que esse filho da puta vem pra mesma faculdade que eu, sinceramente eu não sei quanto tempo mais vou suportar isso. 

O meu dia na faculdade foi tão comum quanto os outros, suportando as piadas do faruk, estudando sem vontade e quando somos liberados eu sou o primeiro a ir embora. De volta no ônibus, coloco meus fones e enfio as mãos no bolso do moletom, sinto um papel dentro e por um momento me esqueço da foto, tiro ela de lá e tento tirar os amassados das laterais, observo a garota de cabelo preto mais uma vez, sorrio involuntariamente, preciso devolver a ela assim que conseguir vê-la de novo. 

Jogo minha mochila em qualquer canto e ligo para meu amigo Denis, marcando um ensaio para hoje a noite. Me sinto ansioso pra poder tocar, música foi onde me encontrei e não vai haver nada capaz de mudar isso, mas é claro que meus pais não aceitam, como sempre a ovelha negra da família nunca quer ser igual a todo mundo, como eles tanto querem. Suspiro, frustrado por ficar aqui sozinho com tempo de sobra pra poder pensar. 

Saio do meu quarto e desço para o primeiro piso, o restaurante do hotel está cheio e tenho que esperar pra me servir. Enquanto estou na fila que quase não anda, vejo a garota das malas, eu preciso descobrir o seu nome pra não ficar chamando ela assim. Ela come sozinha numa mesa e observo como ela parece tímida, como se soubesse que estava sendo observada ela levanta a cabeça e olha pra mim, mas logo desvia o olhar e cobre um pouco o rosto, acho que é pelo episódio com as malas. Penso em ir lá devolver a foto, mas vou perder o meu lugar na fila. 

Melhor deixar pra outra hora. 

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