Ela é diferente

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Matthew

O meu abdômen inteiro dói, mas por um momento eu me esqueci da dor enquanto observava ela distraída com meu ferimento perto da boca, ela tem algumas sardas no centro do rosto e olhos verdes brilhantes, ela se esforçava para não me machucar ainda mais e isso só me deixou com aquela sensação péssima de culpa por ter sido grosseiro com ela. Sua mão deixou meu rosto após colocar mais um band-aid e então percebi um nervosismo da parte dela. A garota deixou a gaze suja e olhou para minha mão que segurava meu abdômen.

— Eu posso ver? — pediu com a voz baixa, ainda incapaz de falar um A, apenas acenei desajeitado e levantei devagar a camisa. Ela observou e fez uma careta, daí já percebi que isso deve estar feio. — Não tenho como cuidar disso… mas tenho analgésicos que podem aliviar a dor — diz, saindo com pressa da minha frente e sumindo do quarto. Ela voltou com um copo d'água e um comprimido laranja, peguei e engoli ambos com rapidez, devolvi o copo e comecei a criar coragem para agradecer.

— Obrigado — digo assim que ela volta, recebo um sorriso em respostas me deixando claro o quanto fui babaca em maltratá-la hoje cedo.

Faruk, iria me arrebentar mais cedo ou mais tarde por eu desafiá-lo, mas eu já estou cansado das suas piadas ridículas desde o colegial. Essa garota apenas fez algo ao meu favor como ninguém naquela maldita faculdade fez alguma vez. Eu tenho problemas para confiar nas pessoas, sempre com a guarda alta para qualquer um, com ela não foi diferente mesmo que ela desde o início pareceu diferente dos outros babacas dessa cidade.

— Eu… acho que fui a culpada disso, é o mínimo que posso fazer — lamanta, como eu imaginava ela se sentia culpada por algo inevitável.

— Não foi sua culpa, eu iria apanhar de qualquer maneira. Me desculpe por hoje cedo, não sei onde estava com a cabeça.

— Tudo bem — sua voz sai num sussurro, claramente ela ficou desconfortável me fazendo sentir um completo idiota. — Sou Helena — se apresenta.

— Matthew, o grande fracassado — respondo.

— Você não é fracassado.

Observo seu rosto com surpresa.

— Apenas repetindo o que dizem de mim por aí — parece piada, mas é a mais pura verdade.

Helena permaneceu neutra a minha resposta, me levantei e senti a dor aguda, eu preciso esperar esse remédio fazer efeito antes de mover essa parte do corpo de novo.

— Se você repousar o máximo que conseguir, vai melhorar logo — ela volta a dizer, acho que estou meio louco, pois notei preocupação na sua voz.

— Obrigado de novo, por tudo — digo sincero, Faruk ficaria longe de mim por um tempo, tornando meus dias menos péssimos. Sigo para a porta a abrindo.

— Imagina, se precisar de algo, sabe onde me encontrar — assinto, antes de sair dali e seguir para meu apartamento no mesmo andar, somos vizinhos enfim.

Eu mal consegui tirar a camisa e me olhei no espelho, as feridas estavam cuidadas e com os curativos feitos, no meu abdômen marcas roxas do lado esquerdo estavam feias e fiz a mesma careta que Helena. Me deitei na cama para dormir um pouco, mas quando fechava os olhos, a única coisa que minha mente vizualiava era o detalhes do rosto de Helena, me impedindo de ter a concentração necessária para dormir. Ter atenção de outra pessoa pela primeira vez é uma sensação nova pra mim, nem meus pais me trataram assim alguma vez. Eu não sabia o que pensar, é uma sensação incomoda e intrigante
… perturbadora a ansiedade maluca que sinto para poder vê-la de novo, isso me diz o quanto eu sou carente.

Por um instante me lembrei da foto dela, agora que nos conhecemos formalmente posso entregá-la. Procuro a foto na minha mochila jogada no chão, não deixo de encarar por mais tempo Helena, com seu sorriso simpático que me tirou um suspiro frustrado. Ela deve me achar um estranho babaca, incapaz de se defender sozinho e acho que sou isso mesmo. Deixo a foto sobre a cama e troco de roupa, fico mais apresentável para entregar a foto dela, o nervosismo misturado com a ansiedade que nunca senti antes.

Emo LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora