Interrupções

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Helena

Espalho meus cadernos e o notebook sobre a cama do Matthew e começo a explicar os tópicos e começamos os exercícios. Observo Matthew concentrado, reparo no seu rosto visível, começo a sentir meu rosto ruborizar, desvio o olhar. Me concentro na minha tarefa.

— Quer beber alguma coisa? — Matthew pergunta de repente.

— Claro! — Aceito.

Matthew deixou o quarto e foi em direção a cozinha. Pesquiso alguma matéria que explique melhor sobre o assunto da matéria. Puxo o caderno de Matthew pra ver os exercícios, parece que ele entendeu bem a minha explicação. Viro a folha e minha boca se abre em surpresa.

Um desenho. Não era pra ter dúvida, é claramente eu, o cabelo curto, minhas sardas, minha boca… todos os detalhes estampados ali, desenhados em grafite. Não sei bem o que pensar, não tive tempo na verdade. Matthew estava me encarando, com duas caixas de suco na mão. Ele ficou paralisado.

— Helena, e-eu posso explicar… Na verdade… Droga! — Matthew se desespera, fica inquieto, sem jeito.

— Eu achei lindo — confesso.

Ele parou, me encarou surpreso. Voltei a olhar pro desenho, Matthew tem um dom para a arte de qualquer maneira.

— Me desculpe por isso, eu não pedi sua permissão.

— Não tem problema, não me importo — digo, o tranquilizando.

Matthew se aproxima devagar, incapaz de olhar pra mim, me entrega o suco. Não posso dizer que o silêncio que ficou é agradável, pois Matthew ainda estava incomodado. Continuamos fazendo os exercícios.

— Você entendeu bem, é só a gente continuar repassando que vamos nos dar bem na prova — comento enquanto recolho minhas coisas.

— Você tá me salvando nessa matéria — Matthew responde coçando o pescoço.

Minha caneta cai e tanto eu quanto Matthew nos abaixamos pra pegá-la, nossas mãos se encontram. Nós nos encaramos por um tempo, me levanto, Matthew se aproxima devagar, fico imóvel. Vou levantando o olhar até encontrar seus olhos azuis me fitando de volta. Ele pega minha mão e coloca a caneta nela, mas não a solta. Estamos muito próximos. Sinto seus dedos acariciando minha mão, tão devagar que quase não daria pra notar.

— Matthew… — sussurro, corando.

Eu poderia dizer que perdi as esperanças, que misturei as coisas entre nós, mas novamente eu queria que a distância acabasse e um beijo acontecesse, queria ser menos tímida e sem jeito e dizer ao Matthew que eu gosto dele, além da nossa amizade, mas…

— Helena… eu… — Matthew começa.

Meu telefone dispara, Matthew para o que ia dizer, demoro um pouco pra me colocar no lugar. Atendo o telefone.

— Alô. Ah, oi, Arthur…. Tudo bem, eu acho que vou poder sim — digo, meio sem jeito. Observo Matthew que está sério. — Até amanhã. — Desligo o celular.

— algum problema? — A voz de Matthew sai estranha, áspera como só vi uma vez na vida.

— Não, Arthur me chamou pra dar uma volta amanhã.

Pude ver a expressão de Matthew mudar da água pro vinho, está bem evidente que ele não gostou de saber, me sinto mal imediatamente.

— Vou indo, tenho algumas coisas pra fazer ainda.

— Tá bom — responde neutro.

Matthew me acompanha até a porta, antes de ir pra casa, me aproximo dele e dou um beijo na bochecha. Aquele momento há alguns minutos ainda na minha cabeça, o que ele teria dito e não tivesse sido interrompido?

Não foi boa ideia dizer que Arthur me chamou pra sair, acho que isso o chateou talvez, desde que cheguei, além da Val, ele é o meu único amigo. Deixo meus livros sobre a cama e observo a caneta em minha mão, acaricio o plástico, talvez eu devesse dizer a ele.

***
No dia seguinte arrumo meu cabelo, pego a chave e saio do meu apartamento. Recebo uma mensagem do Arthur enquanto estou descendo no elevador, ele já está me esperando lá embaixo.

Ele encara o celular e levanta a cabeça quando percebe minha presença. Arthur sorri e sorrio de volta.

— Oi — Arthur me cumprimenta.

— Oi — respondo.

— Podemos ir? Escolhi um lugar aqui perto pra gente tomar um suco. Quer que chame um carro ou quer ir andando?

— Podemos andar, não me importo — digo.

— Espero que não me ache um chato por te chamar pra sair assim, já passa a semana toda me suportando naquela sorveteria.

— Não vejo problema — respondo.

O lugar que Arthur me levou era bem aconchegante, conversamos um pouco e pedimos um lanche. Foi divertido, mas não conseguia parar de pensar no Matthew. Arthur me acompanhou até o hotel, agradeci pela companhia e voltei pra casa.

Pego meu notebook e abro o Skype, Chris demora, mas finalmente atende.

— Helena! Céus! Achei que nunca ia ligar — Chris exclama.

— Me desculpe, ando meio sem tempo — dou minha desculpa esfarrapada.

Chris sorri, realçando sua beleza.

— Preciso ser atualizada das novidades agora!   — Ela me adverte. — E aquele garoto? Como é mesmo o nome dele?

— Matthew — respondo.

— E então?

Quando contei pra ela sobre Matthew, assim como a Val, Chris jurou que ele gostava de mim, acho que foi disso que alimentei minhas esperanças além da conta.

— Somos apenas amigos, Chris — digo, olhando pro lado.

— Eu me recuso a acreditar nisso. Pra mim está claro que vocês se gostam, o quanto você fala dele, meu Deus!

— Não exagera. Me diz como você está — peço, desviando o assunto.

Chris me conta como anda a faculdade, de como tudo na vida dela parece perfeito, fico feliz que agora ela pode ser livre, sem precisar ficar me arrastando por ai como antes. Agora ambas podemos ter nossa privacidade. Quando desligo o Skype, fico pensando no que ela disse. É tão evidente assim que eu gosto do Matthew? Será que ele percebe? Fico um pouco alarmada com a ideia, ao mesmo tempo queria que ele tivesse sim notado.

***

Pego algumas roupas sujas e saio a caminho da lavanderia, quando saio do meu apartamento vejo a mãe de Matthew em frente a porta dele. Me aproximo e ela me nota.

— Oi, querida. Como você tá? — Emma cumprimenta, sorrindo.

— Bem, obrigada e você? — pergunto, retribuindo o sorriso.

— Ótima. Você sabe do Matthew? Já bati aqui e ele não aparece.

— Acho que ele não deve estar.

— É deve ser isso. Vim aqui pra conversar com ele agora que deve estar de cabeça fria. Não sei se ele te disse, mas ele andou brigando com o Liam, eu não sei mais o que fazer com esse menino.

Matthew estava certo quanto a sua mãe idolatrar o filho mais velho. Não era justo. Me lembro de tudo que Matthew me contou aquele dia.

— Preciso ir, foi bom te ver — respondo, não comentando sobre o assunto.

— Até mais querida, espero te ver de novo.

Dou alguns passos, mas paraliso e volto a olhar pra Emma.

— Olha, Matthew é um garoto maravilhoso, acho que você deveria prestar mais atenção nele, ele se esforça muito pra agradar você e seu marido, ele merece seguir seu sonho na música, Matthew tem talento. E se me permite dizer, acho que estão apoiando o filho errado, se é que me entende, o Bullying destrói vidas.

Não esperei por uma resposta de Emma. Ela ficou surpresa com minhas palavras. Não sei se resolveria alguma coisa, mas me senti muito motivada em defender Matthew, queria que Emma soubesse que existe alguém que o apoia e acredita nele.

Emo LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora