Meio em pânico

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Fui praticamente arrastado pro restaurante pra jantar com meus pais, minha mãe nunca se dá por vencida. Observo o cardápio sem realmente ler os pratos, meus pais conversam entre si e sinto o dedo de Liam me cutucar.

— O que você quer? — pergunto, já impaciente.

— Você bem que podia me passar o número da Helena — Liam pede.

— Vai sonhando que vou fazer isso, se manca Liam, ela não é igual as garotas que você costuma brincar e se tentar alguma coisa eu quebro sua cara — ameaço.

Eu sabia que ele não ia deixar pra lá e isso me irrita de uma forma fodida. Liam sorri e me olha malicioso.

— É um desafio?

— Não tem desafio nenhum, eu tô falando sério, fica longe da Helena, Liam! — Aviso entre dentes.

— Por quê? Nunca se importou antes… Ah! Você gosta dela, não é? Que fofinho, o emo solitário se apaixonou pela vizinha — Liam zomba.

É esse o meu irmão, sempre fazendo chacota de mim pelas costas dos meus pais, eles nunca percebem. Não imaginam que eu escolhi ficar longe por causa do bullying constante de Liam, o filho fingido perfeito. Como eu poderia exigir respeito de outros se dentro da minha própria família eu não o tenho, isso assombra a mim desde a infância.

— Não precisa chorar, Matthew, eu só estava brincando — Liam diz, zombando ainda mais.

Não suporto mais isso.

Quando me dei conta já havia dado um soco na cara de Liam. Meus pais finalmente me notam e me encaram com espanto. Liam também tá surpreso, com a mão no nariz sangrento. E eu, não poderia ficar mais satisfeito.

— Agora quem tá chorando é você, Liam. Seu babaca! — cuspo as palavras.

Saio dali ignorando os olhares chocados das pessoas. Não olho pra trás, pra não ver meus pais em cima do Liam querendo saber se ele tá bem. Agarro meu cabelo quando as portas se fecham, minha garganta também parece fechar e fica difícil respirar. Uma crise começa e realmente gostaria de chorar, fazia tempo que isso não acontecia, mas aqui estou de novo tendo uma crise de ansiedade por causa do meu irmão idiota.

Quando a porta se abre caminho cabisbaixo pelo corredor, segurando a vontade de fazer alguma merda. Esbarro em alguém. Quando vejo o rosto de Helena, queria automaticamente desaparecer naquele momento, ela é a última pessoa que gostaria que me visse bem em meio a uma crise.

— Matthew, o que aconteceu, você não parece nada bem — observa, a preocupação sincera espalhando por seu rosto.

— Nada, eu só… — murmuro, mas o aperto no meu peito começar a incomodar além da conta.

As lágrimas embaça minha visão e trinco os dentes, não suportando mais. Não bastou nem um dia e a presença de Liam fez meses de progresso e paz ir embora por água abaixo. De repente o caos em minha mente parou, Helena envolve seus braços em minha volta num abraço, sinto o seu perfume e afundo meu rosto ali no seu moletom. Eu não esperava por isso, então demorei retribuir o abraço, mas meio sem jeito coloco meus braços em volta dela também e choro mais. Não sei quanto tempo ficamos abraçados, mas nunca me senti tão exposto, porém muito seguro igual aquele momento.

— Vem, vamos sair daqui — Helena desfaz o abraço e puxa meu moletom de leve pra me chamar.

Fomos pro elevador e através da minha franja observo a imagem dela no espelho. Ela deve tá me achando um ridículo agora.

Helena me trouxe até o térreo do prédio, um lugar que conheço bem, já passei horas aqui sozinho com meu violão. Nos sentamos no chão de frente pro outro e Helena espera um pouco antes de falar.

— Eu não quero ser invasiva, mas pode me contar o que aconteceu se quiser. — Sua voz é doce.

— Bati no Liam — começo.

Observo Helena, nunca diria isso a ela se não tivesse me encontrado no corredor no meio de uma crise. Sua boca se abre, mas não sai nenhum som, posso ver que ela tá surpresa.

— Mas por que? — pergunta enfim.

— Nos desentendemos e acabei perdendo o controle… tive uma crise de ansiedade depois disso, mas já passou, não se preocupe, eu tô bem — asseguro. É verdade em parte, já passou graças a ela, mas não sei se tô bem.

— Tem certeza? — ela questiona, cuidadosa.

— sim, relaxa.

Suspiro. Fico dividido. Eu queria contar pra Helena o quanto meu irmão é um otário e o quanto meus pais são desligados, ao mesmo tempo sinto vergonha de dizer isso, não quero que ele saiba disso. Desabafar ou esconder. Observo Helena, se tem alguém que eu posso confiar, é nela.

— Meu irmão faz Bullying comigo desde sempre, especialmente em frente aos seus amigos, ele queria ser o descolado e se eu estava por perto sempre era o motivo de suas piadas de mau-gosto. Eu fui crescendo e isso foi se acumulando em mim. Eu desenvolvi uma depressão por isso, vivia com crises de ansiedade. Quando fiz meus dezoito anos, eu decidi que moraria sozinho longe dele, seguir o meu sonho na música, o único lugar de escape que encontrei. Mas vez ou outra ele aparece por aí, me importunando.

— Matthew, isso é horrível, já tentou falar com seus pais sobre isso? — Helena pergunta.

— Já tentei, mas eles não acreditam, Liam é o garoto de ouro pra eles, o exemplo da família. Liam é completamente diferente na frente dos meus pais, isso é insuportável, sofrer Bullying e ainda ouvir o tempo todo dos meus pais o quanto eu deveria seguir os passos de Liam.

Helena fica em silêncio, observo sua reação. Ela parece processar tudo o que disse. Helena me olha com compaixão, observo sua mão hesitante, mas aos poucos ela a ergue e pousa sobre a minha. Fico paralisado, admirado com seu gesto.

— Eu sinto muito por isso, Matthew. Eu não sei bem o que te aconselhar, talvez ficar longe como você já faz seja a melhor opção. Eu só quero que saiba que estou aqui sempre que precisar de apoio e de uma conversa, não importa quando nem onde, é só me procurar.

— Obrigado, de verdade — agradeço.

Ela sorri, e tudo de ruim que sentia parece distante agora. Eu queria dizer que acabei de descobrir a cura desses problemas, queria dizer em alto e bom som que é ela, mas isso seria carência demais da minha parte, por mais que seja o que eu mais quero fazer.

Helena se levanta e faço o mesmo, meu coração parece uma bateria quando percebo ela se aproximar de novo e me dar outro abraço. Eu quase me derreto, inalo o máximo que consigo do seu perfume e torço pra que ele fique na minha roupa. Nos afastamos devagar e em sincronia, nos encaramos, próximos, tão próximos que sinto sua respiração contra a minha. Fico hipnotizado, meio em pânico, é só mais um passo, deveria beijá-la agora.

Helena desvia o olhar pro chão e mesmo que não se afaste, eu sei que perdi a oportunidade. Eu não sei o que me impede, talvez o medo de ser rejeitado, de tá misturando as coisas, confundido a amizade. De todas as coisas, Helena é a única que não quero perder.

— Eu preciso ir, tô meio cansada, mas se precisar de mim, não hesite em me procurar, por favor. — Helena murmura pra mim, ela tá meio tímida, com aquele jeito fofo que ela tem.

— Pode deixar — respondo automático, ainda hipnótico por ela.

Helena olha de volta pra mim e rapidamente deposita um beijo na minha bochecha e sai depressa dali. Se eu tava louco antes, agora cheguei no meu auge. Toco onde ela me beijou e mais uma vez esqueci de todos os meus problemas, sorrio como um maluco, estou fodidamente apaixonado por ela.

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Demorei de novo pra postar 😖
me desculpem
escrevendo várias coisas
ao mesmo tempo. É
só o caos. Mass o capítulo
e espero que gostem.

Emo LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora