Agindo no Impulso

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Descobri que a Val tinha mais algumas matérias nos mesmos horários que eu, o que me deu um ar de alívio, mas infelizmente a próxima não era uma dessas. Segui com pressa pelos corredores, ainda meio confusa com o mapa do campus, mas felizmente encontrei a sala. Me sentei num lugar vago e o professor entrou logo em seguida, ele escreve seu nome no quadro e quando ia falar alguma coisa, a figura diferente aparece na porta.


— Atrasado como sempre não é mesmo, senhor Matthew? — O garoto de cabelo diferente não disse nada, apenas passou entre as cadeiras, passando por minha carteira naquele corredor e se sentou lá atrás. Desvio o olhar quando ele percebe que está sendo observado.

De alguma forma muito perturbadora eu não consegui me concentrar na aula por causa dele. É intrigante observá-lo e não me importei tanto quanto gostaria quando ele notou que vez ou outra, o olhava por cima do ombro. Mal percebi quando a aula acabou, juntei minhas coisas com pressa e seguiria para a próxima sala.

***

Balanço meus pés sentada no ponto de ônibus em frente a faculdade, vejo os populares e ricos saindo com seus carros chiques e imagino que são esse tipo de pessoas que se atraem pela Chris, ela sempre se deu bem com os superstars do colégio, nem sei ao certo porque ela me escolheu como sua melhor amiga. Meus pensamentos são interrompidos pelos gritos eufóricos, meus olhos acompanham a confusão que se formou no portão da faculdade e meu coração gela quando vejo o garoto, chamado Matthew, levando um soco e cambaleando para trás. Ele se recupera logo e revida o soco no garoto grande de mais cedo, mas não durou muito, já que os outros grandalhões agarrou cada um deles o braço de Matthew e o garoto abusado depositava socos em sua barriga. Indignada observo as pessoas em volta, incapazes de separar aquela briga. 

Me levanto no impulso e corro até lá, nesse momento, o ônibus que me levaria pra casa aparece no final da rua e eu o perderia depois de um bom tempo de espera, mas não importa agora. Novamente, movida na coragem momentânea, impeço o próximo soco e o garoto me observa com raiva. 

— Saia da frente! — ele pediu, mas permaneci imóvel. 

— Se você tocar nele mais uma vez, vai ter que escolher bem as palavras para explicar o que fez a polícia — aviso, com o meu celular em mãos. Estava com medo de levar um soco, mas se ele fizesse seria pior para ele. — E considere esse aviso, pois se eu souber que chegou perto dele mais uma vez, vou ligar para a polícia imediatamente. E isso vale para qualquer um — Olho em volta, para os espectadores apreciadores daquela barbaridade.

Matthew cai diretamente no chão, quando os garotos o soltam e se afastam. Felizmente nenhum deles disse nada, apenas moveram seus traseiros para longe. Juro que não sei o que me deu para fazer isso, mal sei onde foi parar a minha timidez, mas eu não podia deixar alguém ser espancado na minha frente sem poder fazer nada. 

— Vou te levar para o hospital — digo, me abaixando ao lado dele. Ele cospe o sangue acumulado em sua boca e nega com a cabeça. Suspiro. Val chega rápido até mim, ofegante. 

— O que aconteceu? — questiona por instinto, pois ela já percebeu tudo.

— Uns garotos idiotas — murmurei em resposta. 

— Vou levar vocês ao hospital ou se quiserem a enfermaria… — dessa vez, eu que neguei com a cabeça por ele. 

— Para casa está bom, se puder — peço sem jeito, deduzindo que ele mora naquele prédio. 

— Vou pegar o meu carro — Valquíria diz, correndo de volta para o campus. 

Matthew resmungava com a dor, hesitante, toco o seu braço, ele não recuou, então o ajudei a levantar. Val chegou rápido com seu carro, sem protestos, Matthew entrou no carro quando abri a porta, corri para o outro lado, antes que pudesse entrar, pude ver os garotos idiotas escutando bronca de alguém da faculdade. Isso foi satisfatório. Dentro do carro todos íamos em silêncio, quebrado as vezes por alguns gemidos de Matthew pela dor. Valquíria nos deixa em frente ao prédio e lamenta que não pode ficar para ajudar mais, agradeço e novamente ajudo Matthew a caminhar. A recepcionista do prédio nos olha assustada, pergunto se o prédio possui enfermaria e a moça lamenta dizendo que não.

— Obrigada — agradeço mesmo assim e sigo para o elevador. Eu mesma cuidaria dos ferimentos, finalmente usaria o meu curso rápido de primeiros socorros, preferia não precisar usar algum dia, mas agora é preciso e será útil. 

Matthew seguiu sozinho dessa vez para dentro do elevador ao meu lado, observo ele com pena, eu mal conseguia ver seu rosto coberto pelo cabelo e também porque ele mantinha sua cabeça baixa. A porta se abre quando chego no meu andar, sigo para fora e olho para trás me certificando que ele vinha me acompanhando. 

— Eu vou te ajudar a limpar isso — digo, garantindo que ele me acompanhe, ele concordou com a cabeça e realmente me seguiu. 

Abro a porta do meu apartamento e ando com passos apressados até a minha maleta de primeiros socorros. Pego a gazes e o frasco com soro. Molho a gaze e observo o garoto em pé, ele está encolhido e sua mão segura sua camisa com força onde ele também foi socado. 

— É melhor se sentar — peço, ele o faz e se senta com dificuldade. Me sinto receosa quando me aproximo, mas ele não me disse nada de mal desde que interferi, Matthew parecia estar em choque. 

Me aproximei, com cuidado levantei seu rosto, cautelosamente empurrei sua franja com a mão e pude ver pela primeira vez seu rosto com clareza, sua pele é tão pálida como nunca vi antes. Observo o ferimento próximo a sua sobrancelha e levo a gaze até ali, ele se esquiva um milímetro com meu toque, mas se mantém firme enquanto faço o meu melhor para limpar a ferida, um pequeno corte. Colei ali um band-aid e segui para o próximo ferimento, no lado esquerdo há um pequeno corte perto dos seus lábios, deixei a minha mão que segurava sua franja e puxei seu queixo pra cima, para que eu pudesse ter um acesso melhor a ferida. Troquei a gaze e comecei a limpar, por um momento desviei a minha atenção do ferimento e passei a prestar atenção nele, de como ele parecia mais calmo e respirava regularmente, observei quando seus olhos que, descobri apenas agora prestando atenção, são de um azul puro e bonito. Ele me encarava e isso fez com que meu rosto começasse a esquentar, a sensação de ser observada é inquietante, me lembrando que fiz isso com ele mais cedo.

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