Helena
Minha última aula também foi na companhia de Matthew, Val se juntou a nós e como ela falava muito, tentei introduzir Matthew na conversa, pra uma pessoa claramente antissocial, ele se saiu bem na presença da Val. Apesar de ele ter sido meio ignorante no começo, agora vejo ele como uma pessoa agradável e naquela faculdade, noventa por cento julgavam mal o Matthew.
Confesso que ainda espero que ele me peça pra deixá-lo em paz, ainda mais que pedi que me falasse seus horários para que pudéssemos nos sentar juntos. A ideia de ele me expulsar de perto dele pareceu ridícula da minha parte quando ele me pediu ajuda após a faculdade e eu ajudaria.
O tempo carregado indicava que logo ia chover, nosso ônibus está cheio e precisamos ir em pé, Matthew é bem alto e não tem dificuldade alguma pra segurar a barra de ferro do ônibus, enquanto eu preciso me concentrar mais que o necessário pra não sair voando com menor solavanco. Adivinhando meus pensamentos, o motorista faz uma curva meio rápida demais, jogando meu corpo desequilibrado pra cima de Matthew que me segura com uma mão.
Mesmo acostumada com ele, minha timidez estoura o velocímetro e vermelho deve ser a definição do meu rosto, Matthew não tirou sua mão do meu ombro quando me afastei um pouco dele, isso me ajudou a manter o equilíbrio, observei ele pela visão periférica e vejo ele balançar a cabeça pra tirar o cabelo dos olhos, um ato involuntário, que me permite ver seu rosto com um pouco mais de clareza por alguns segundos antes do cabelo voltar pro seu lugar.
No fim, Matthew até que era bonito, acho errado que ele seja julgado só porque se veste de uma forma mais alternativa. Desço do ônibus aliviada, corro para o hotel pra não me molhar tanto na chuva. Matthew me segue para o elevador, ficamos em silêncio até a porta se abrir e sairmos de lá.
— Bom, não repare a bagunça — Matthew diz quando abre a porta do seu quarto.
Não está bagunçado, apenas há muita coisa num espaço pequeno, Matthew decorou bem seu apartamento, com pôsteres de bandas, uma cor azul mais escuro nas paredes e muitas bugigangas que não tenho ideia do que são pelo quarto,
— Seu apartamento é muito legal — elogio.
— Obrigado.
— Precisa me dizer qual é exatamente sua dificuldade no módulo.
Matthew me contou sobre que já vem tendo dificuldade há um tempo com a matéria, me disse suas dúvidas e tentei explicar da melhor maneira possível, perguntei diversas vezes se ele me acompanhava e que entendia tudo e ele afirmava.
— Não sei mesmo como te agradecer por isso, me salvou — ele comenta, parecendo aliviado.
— Temos um tempo ainda até as provas finais, se você quiser, podemos estudar mais até lá — proponho.
— Claro, isso seria ótimo, meus pais finalmente me deixariam em paz.
— Não me parece que queria fazer o curso.
— Não mesmo, minha paixão é a música, mas pros meus pais isso não paga as contas.
— Família é algo complicado — murmuro, sem saber bem o que dizer.
— Seus pais também são assim?
— Não conheci meus pais, eles morreram num acidente… fui criada com a irmã da minha mãe e assim que atingi a maioridade decidi que a deixaria viver sua vida sem se preocupar comigo, então fui morar com a Chris, que insistiu muito em ter minha companhia em sua casa.
— Sinto muito pelos seus pais.
— Obrigada.
— Vou trazer algo pra gente comer, me espera aqui.
Antes de ir, Matthew tirou seu moletom e o jogou na cadeira. O papel que estava no bolso me chamou a atenção, pois reconheci o cabelo loiro da minha amiga, tentada demais a conferir, puxo o papel e vejo que é a minha foto com a Chris, uma cópia pra ser exata. O papel está dobrado ao meio, isolando a Chris e a mim uma da outra.
Não sei o que pensar, por que ele tirou uma cópia da minha foto? Será que ele gostou da Chris… ou de mim? A possibilidade fez minhas bochechas se esquentarem, tá aí uma coisa que não iria perguntar. Guardei a foto no bolso novamente bem a tempo de ele voltar com um pacote de salgadinhos e refrigerante.
— Não achei nada melhor que isso, espero que goste de batatas.
— Eu amo — confesso.
Meu coração está disparado e não sei como controlá-lo, fui pega de surpresa ao ver aquela foto. Não quero criar expectativas com isso, já sou muito ansiosa de natureza, mas não consigo me livrar das borboletas no meu estômago ao pensar que alguém se interessaria por mim, Chris sempre foi alvo dos garotos, sem chance alguma para mim de ter o benefício da dúvida como agora.
— Preciso ir agora, tenho algumas coisas pra fazer — aviso.
— Tudo bem, não quero tomar mais do seu tempo.
— Até mais — me despeço já abrindo a porta.
— Helena… — Paro e olho para Matthew, que está claramente nervoso. — Minha banda vai se apresentar esse final de semana, você gostaria de ver?
Não consegui evitar um sorriso.
— Claro — respondo e vejo seus ombros relaxarem.
— Ok, eu te falo mais sobre amanhã.
Assinto e saio dali, Matthew com certeza é um fofo e não imaginava que teríamos uma amizade depois que ele não gostou muito que eu o defendi. O mistério de por que ele fez uma cópia da minha foto ainda ronda minha cabeça. Eu perguntaria se não fosse tão tímida.
Eu já considerava Valquíria uma segunda melhor amiga, atrás apenas da Chris, por isso resolvi contar sobre a foto e pedir sua opinião. Já não sou uma adolescente, mas esse comportamento faz de mim uma menininha.
— Acho que é você sim, já vi ele olhando pra você, várias vezes na aula. Aquele tipo de olhar que fica admirando a pessoa enquanto ela está alheia. Você gosta dele?
— Não, não desse jeito… na verdade, não sei bem, a gente se conhece a pouco tempo. É novo demais pra mim pensar numa coisas dessas, afinal a gente pode tá muito errada.
— Posso não ser uma expert no assunto, mas errada não tô, ele gosta de você sim. — Val conclui convicta de verdade.
Nesse momento o garoto que só usa preto entra no meu campo de visão. Estamos no intervalo de uma aula, Matthew vai diretamente pra debaixo de uma árvore, como o tempo está quente, ele não usa seu moletom, observo sua figura destacada, desvio o olhar quando ele olha direto pra mim, meu coração acelera num segundo. Espio novamente e ele continua me olhando, ele faz o seu gesto involuntário para tirar o cabelo dos olhos. E se a Val estiver certa?
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Emo Love
Teen FictionHelena está cansada de viver nas custas de sua melhor amiga e decide se mudar para o centro da cidade, tudo parece um desastre no primeiro dia, o que tira um pouco do otimismo de Helena. Matthew é um garoto que a sociedade quer bem longe de si, chei...