Ele é tua lagosta

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Passei boa parte da tarde daquele dia tentando não pensar em toda essa confusão. Adivinhem se funcionou. Mais tarde, a Becca saiu sem dizer para onde ia e eu fiquei deitada, olhando para o teto, ouvindo música e pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo. Fiquei um bom tempo assim até a campainha tocar.

Óbvio que era o Caíque, vocês ainda esperam que outra pessoa toque a campainha da minha casa?! Abri a porta e ele me olhou como se nada tivesse acontecido, o que só me deixou com mais raiva porque eu estava pirando com tudo isso e ele nem percebia que alguma coisa estava acontecendo.

Não recomendo tentar entender o que estava passando pela minha cabeça porque, para ser sincera, nem eu tinha certeza se estava entendendo. Ele me deu um selinho e foi entrando.


- Espero que aqueles filmes ainda estejam de pé.

- Sério, Caíque?

- Sério, ué. Eu quero mesmo ver filme, pô.

- Eu fico me perguntando se você faz de propósito ou é a genética que não foi generosa contigo.

- De que merda vocês está falando, Babi?

- Do que eu estou falando?! De tudo.

- Ah, agora sim. – Ele revirou os olhos.

- Ai que saco, garoto. Estou falando de você indo para casa das tuas amigas, de eu ter ficado com um cara em Floripa, de tanta coisa que eu nem vou terminar de enumerar agora.

- Ok, eu fui à casa de uma garota. E...?

- E que eu não me importo, na real, me fez ficar roendo as unhas de ciúmes? Com certeza, mas eu não me importo se você simplesmente chegar para mim e falar que eu não devo ter expectativas ou coisas do tipo. Só... Só me diz o que a gente tem, porque eu juro que uns 10% dos meus neurônios já fritaram tentando entender. – Ele ficou me olhando com uma cara de bobo e eu sem entender nada.

- Eu já te disse várias vezes o que eu quero, o fato de você acreditar ou não, não vai mudar minhas intenções. E eu já até sei o que você deve estar pensando, que agora que a gente transou eu vou dar no pé e te esquecer. E, na real, não podia estar mais errada, porque agora que você entrou na minha vida... Ah, Babizinha, eu não vou te deixar sair tão cedo. – Não pude evitar sorrir.

- Mas, e quanto ao Gui?

- O cara que você ficou? O que você quer que eu faça? Grite, xingue, faça um barraco? Porque essa é exatamente a minha vontade, mas não vai adiantar nada, não vai mudar nada. E eu não vou ser um idiota incompreensivo e fingir que você não teve motivos para isso, porque venhamos e convenhamos, você teve. Se eu fosse mulher e estivesse em uma relação com um cara como eu, provavelmente, esperaria meses antes de começar a acreditar que ele está mudando. Além do que, se eu fosse mulher, seria um desperdício desse corpinho lindo que Deus me deu. – Revirei os olhos e comecei a rir. – E quanto à Tati, a amiga que eu fui visitar, eu podia tentar te tranquilizar dizendo que ela é só minha amiga, mas faria tanto efeito quanto dizer para eu não ter vontade de te beijar sempre que a gente se vê. – Ele deu aquele sorriso safado dele e eu cedi como sempre.


Eu queria não concordar com ele, queria que ele não soasse tão racional, mas o fato é que tudo que ele disse realmente fazia sentido. Então eu decidi deixar aquilo quieto por um tempo. Ele acabou ficando por lá vendo filme comigo. Talvez nós tenhamos feito mais coisa do que só ver filme, mas deixemos em off. A Becca chegou pouco depois de ele voltar para o apartamento dele, improvisamos alguma coisa para o jantar e ficamos vendo TV.

No dia seguinte, nós duas acordamos cedo porque eu ia à praia e ela ia pegar o boy dela no aeroporto e ia passar o dia no apartamento dele ajudando a arrumar o apartamento. Pensei em ir sozinha à praia, mas eu estava ficando muito grudenta, então fui chamar o Caíque para ir comigo.

E adivinhem só? Caíque estava ocupado de novo. Eu sei que eu estava parecendo aquelas minas chatas que querem passar todo segundo perto do namorado, mas era muito irritante ir atrás dele e ele estar sempre ocupado, então não me julguem.

Acabei indo só mesmo à praia. Passei boa parte da manhã lá, mas voltei antes do almoço e como a Becca não estava em casa, fiz só um sanduíche para almoçar. Passei a tarde lendo e fiquei vendo filme com a Becca depois que ela chegou e nós jantamos. Acabei indo dormir cedo, talvez na esperança de que o dia seguinte chegasse logo.

OK, aqui vai uma informação importante, o dia seguinte era meu aniversário de vinte anos. A Becca fez questão de me acordar com o "Parabéns da Xuxa" tocando nas alturas e um cupcake de chocolate com uma velinha em cima.


- Bom dia, amiga linda. Parabéééns. – Ela colocou o cupcake o criado-mudo ao lado da cama e me abraçou.

- Obrigada, amigaaaa. – Importante citar que ela me fez apagar a vela e fazer um desejo.

- E pode se levantar para tomar banho, porque eu marquei uma manhã no spa para gente e uma tarde no salão e fazendo comprinhas, então pode vestir uma roupa bem linda.

- Uau. Adorei.

- Só tem um "porém". À noite eu vou sair com o Thiago.

- Ah não, Becca. – Fiz cara de desânimo. – Eu queria jantar contigo, com a Sof e com o Caio hoje à noite.

- Descuuulpa, amiga. – Ela fez beicinho. – Eu prometo que a gente sai outra noite.

- 'Tá. – Revirei os olhos.

- Ótimo, agora levanta essa bunda naturalmente torneada que Deus te deu e vai se arrumar.


Tomei um banho rápido, coloquei um short jeans, uma blusa de Panic! At The Disco e calcei uma rasteirinha. Tomei café bem rápido e nós saímos. O dia foi maravilhoso, eu realmente estava precisando de um dia para relaxar. A Becca me fez comprar um monte de roupa e pôr um vestido vermelho lindo.


- Por que eu ia pôr um vestido para ir para casa?

- E precisa ter motivo para ficar linda, por acaso?

- Não né, mas...

- Mas nada, põe logo.


Acabei colocando o vestido e um salto não muito alto preto e nós voltamos para casa já que a Becca ainda ia se arrumar para o jantar com o Thiago. Fomos conversando no caminho de volta.


- Sim, Babi, como foi a conversa com o Caíque?

- Assim... Foi boa e péssima ao mesmo tempo.

- Trabalho com fatos.

- Ele me disse que estava morrendo de ciúmes do Gui, mas que não podia fazer nada. Falou também da "amiga" que ele vive visitando, que não ia me dizer para não me preocupar porque não ia adiantar.

- E ele está errado?

- Não... Mas queria que ele fizesse qualquer coisa, gritasse comigo. Sei lá, me irrita a forma que ele me deixa tão irracional com isso e consegue ficar tão de boas. Que nem com o negócio do Miguel, ele conseguiu esconder de boa, eu só soube porque o Diego deixou escapar. Eu nunca ia conseguir esconder meu ciúme tão bem.

- Alguém tinha que ser capaz de acabar com essa tua eterna racionalidade, não é?

- Ah, cala a boca, garota.

- Por isso que eu acredito tanto que ele seja tua lagosta. – Eu olhei confusa para ela até entender que ela estava fazendo referência à Friends.

- Ah é? Minha lagosta não me deu parabéns ainda.

- Sério? – Ela me olhou com os olhos arregalados.

- Sérissimo. Acho que vou ter que trocar de boy.

- Cala a boca, Bárbara. – Ela riu


Ainda demoramos a chegar em casa e a Becca estava com um sorrisinho estranho no rosto, eu imaginei que fosse por estar indo se encontrar com o boy magia.

Oceanos nada pacíficosOnde histórias criam vida. Descubra agora