Ele pareceu meio hesitante em contar, mas acabou falando.
- Bom, pode parecer loucura, mas nem sempre eu fui tão descolado - Sorri diante da simplicidade com que ele falava esse tipo de coisa. - Na época da escola, eu era um nerd, decididamente um nerd, óculos, aparelho, falta de estilo e boas notas. E tinha essa garota, que era linda, popular e eu era completamente apaixonado por ela desde que nós fizemos um trabalho juntos e com isso eu quero dizer que eu fiz o trabalho enquanto ela só colocou o nome. Enfim, eu era apaixonado por ela e metade do colégio sabia disso, inclusive ela. Um dia, ela chegou para conversar comigo, só isso, ela nunca tinha dirigido mais que duas palavras para mim e naquele dia ela sentou na mesa em que eu estava, começou a conversar comigo e perguntou se eu iria para a festa de São João do colégio. Eu não tinha a menor intenção de ir, mas depois de ela me perguntar isso eu estava decidido a ir, ainda mais por ela ser a rainha da nossa sala. Então, eu fui, passei metade da festa procurando por ela até que eu encontrei. E quando ela me viu, soltou um sorrisinho e acenou, imagina a loucura que isso fez na minha cabeça. Aí eu fiz a maior besteira que eu podia fazer, resolvi mandar um daqueles correios elegantes pra ela. Escrevi falando tudo que eu sentia por ela, na esperança de que quando ela lesse me desse uma chance. Só que a pessoa que estava entregando os papéis, não entregou para ela, ao invés disso, entregaram para o cara que estava como locutor da festa e eles leram. Para a escola inteira. Imagina a vergonha que foi. Mas mesmo assim eu ainda tinha a esperança de que ao ouvir aquilo ela entendesse tudo, mas quando eu a encontrei no meio da multidão, ela estava abraçada com um dos frangos de academia de lá, rindo da minha cara e foi aí que eu entendi que tinha sido só um joguinho. Depois disso eu prometi para mim mesmo que eu nunca mais ia deixar ninguém me fazer pensar que eu era inferior.
- Uau, quem diria que você já foi assim.
- Eu sei. - Nós rimos.
Continuamos conversando besteira durante o resto do jantar e até depois, sentamos no chão da sala e continuamos tomando vinho, que, aliás, já começava a me deixar meio alta.
- Bom, meus pais nunca foram dos mais próximos, mas eles me ajudam a pagar isso, então eu estou bem.
- Eu sei exatamente como é. - Soltei uma risada.
- Então quer dizer que seus pais também são distantes.
- Eu não tenho pais. - Falei e tomei o resto de vinho da taça.
- Ah... Eu sinto muito. - Ele respondeu envergonhado.
- Eu também, acredite. - Dei de ombros e servi mais vinho.
Depois de muito conversa e uma garrafa inteira de vinho, resolvemos jogar verdade ou desafio... Com vodca, cada desafio recusado tomávamos uma dose e eu como a bela medrosa que sou, tomei no mínimo uns quatro shots. Acabei desistindo da brincadeira e decidindo ir embora, mas eu mal conseguia me manter em pé, então o Caíque, que estava bem menos bêbado do que eu, me ajudou a levantar. Quando eu consegui ficar em pé e vi o Caíque ali tão perto de mim, não consegui evitar olhar para a boca dele.
Talvez o álcool, talvez a noite tranquila que tivemos ou aquela faceta tão descontraída que ele mostrou naquela noite me fizeram puxá-lo pela nuca para beijá-lo.
Mas antes que eu fizesse isso, ele colocou o dedo indicador nos meus lábios e olhou dentro dos meus olhos.
- Não, Bárbara. Não assim, se eu te deixar me beijar agora, amanhã de manhã você vai se sentir péssima e eu mais ainda por ter deixado... Além do mais, eu te quero sóbria para que você possa lembrar cada detalhe de como você se rendeu aos meus encantos, baixou a guarda e me pediu um beijo.
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Oceanos nada pacíficos
Storie d'amoreEu nunca fui uma pessoa que me destaquei, não era a mais bonita ou a mais inteligente ou a mais engraçada, eu era normal, comum, eu diria. Não que eu esteja reclamando disso, eu gostava do comum. Eu não posso reclamar da minha vida, sério, nunca foi...