Capítulo 7- Noite em claro

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ÍRIS

Muito tempo depois de termos voltado pra casa eu ainda não conseguia dormir. Os acontecimentos da noite ficavam girando em minha cabeça sem parar me impedindo de cair no sono. Eu finalmente tive a coragem de me impor e impedir que o Gael estragasse minha noite como ele fez tantas vezes antes, mas por outro lado, vê-lo perdido e triste ainda era algo que mexia muito comigo. Ainda tinha sentimentos por ele, mas eram muitos e contraditórios, eu o amava, odiava, temia, era como se ele ao mesmo tempo fosse minha bênção e minha maldição. E isso me paralisava, me impedia de tomar uma atitude. Ele tinha sido um namorado carinhoso e dedicado, e eu era loucamente apaixonada por ele, desde que comecei a notar os meninos, eu só tinha olhos pra ele.

O Gael era moreno, com olhos de um azul profundo, alto e sempre muito forte, eu me sentia segura ao seu lado. Ele não era como os outros meninos da nossa idade, depois que sua mãe faleceu, seu pai se afogava no trabalho cada vez mais, e para estar com ele, Gael pediu ao pai para trabalhar no hotel também. Seu pai é dono do melhor hotel da cidade, o maior das redondezas, sendo uma cidade praiana o hotel lotava no verão.

Gael começou de baixo como todo mundo, e sua primeira função era na limpeza, ele cuidava do lixo e era encarregado dos mantimentos e estoque, o que o fazia carregar peso a maior parte do dia e explicava seu corpo extremamente forte para sua idade. Enquanto ficávamos mais velhos, nosso namoro começou a mudar também, as coisas fixavam mais intensas, assim como ele, em algumas situações comecei a notar seus ciúmes, seus olhares de raiva para os garotos que se aproximavam de mim, a insegurança quando eu me atrasava por algum motivo, disse a mim mesma que era uma fase e passaria, mas não passou.

No dia em que ele bateu no Marcos a minha ficha caiu. Nunca senti tanto medo dele como naquele dia, aquele não era o Gael que eu conhecia, menino doce e responsável, aquele era alguém louco e violento. E eu não podia aceitar aquilo. Meu pai faleceu quando eu tinha dois anos, foi morto por reagir a um assalto, espancado pelos assaltantes até a morte. Enquanto Gael batia no Marcos, tudo que eu conseguia pensar era que meu pai havia morrido daquele jeito. E por muito tempo depois desse dia eu tinha pesadelos a noite, em que no lugar do Marcos eu via aquele homem que eu praticamente só conhecia pelas fotos dos álbuns, eu vi

meu pai. Eu não conseguia nem olhar para o Gael depois disso sem pensar no assunto, não havia outra forma pra mim, precisávamos terminar.

Logo na semana seguinte ao nosso termino vi que não seria algo fácil, eu sofria de saudades dele, não só do namorado, mas também do melhor amigo, se não fosse por Júlia eu teria enlouquecido. Mas ela havia começado a sair com o Iam, e não podia estar sempre ao meu lado. Havia outro problema ainda pior, o próprio Gael. Ele não aceitava o nosso término, no início tentou fingir que nada tinha acontecido, sentava ao meu lado na aula, tentava puxar assunto e até pegar na minha mão, eu fugia de tudo isso. Um dia, após ele tentar me beijar a força no estacionamento da escola eu não aguentei, tivemos uma briga enorme, na qual ele reafirmou que nunca aceitaria isso. No dia seguinte não se sentou mais ao meu lado na escola, na verdade desde esse dia, mal falava comigo, mas ficava sempre por perto, onde eu ia ele estava e ficava sempre me encarando como se me vigiasse, foi quando eu comecei a detestar a escola.

Passados dois meses do nosso término, eu começava a me acostumar com aquela rotina incomoda, quando um menino de uma turma acima da minha veio falar comigo durante o recreio, ele disse que sempre me achou muito bonita e queria muito sair comigo no sábado, eu não me sentia muito à vontade com isso, mas sabia que devia seguir em frente, então aceitei. Seu nome era Daniel, e durante o restante da semana ele me acompanhou no recreio e nos intervalos, mas todo o tempo tudo que eu podia notar era a cara de ódio estampada no rosto do Gael toda vez que nos via juntos.

No sábado, antes do encontro, eu me sentia nervosa, não sabia o que vestir nem como deveria agir quando estivéssemos juntos, mas no fim tudo isso se mostrou inútil, uma vez que o Daniel nunca apareceu, e nem ao menos ligou para se explicar. Na segunda feira, tentei conversar com ele para saber o que tinha acontecido, mas ele simplesmente passou o dia todo fugindo de mim, durante a semana toda seguiu esse padrão, nem ao menos olhava na minha direção, e eu não sabia o que podia ter feito para ofendê-lo tanto. Até que no fim de semana a tarde Julia me contou que estava com Iam na praia quando um de seus amigos deixou escapar que Daniel estava evitando sair de casa pois tinha tido uma briga com Gael por tentar sair comigo, e que quase apanhou dele.

Aquela situação me revoltou, e passei todo fim de semana pensando nas coisas horríveis que falaria para o Gael na escola. Quando finalmente a segunda feira chegou e eu o vi, simplesmente não consegui dizer uma única palavra. Eu tinha medo de irrita-lo, de magoá-lo, eu travei, e acabei guardando pra mim tudo que eu deveria ter dito a ele naquele momento. Por fim, achei que ignorar seria a melhor

política, e que quando ele visse que não me atingia, iria desistir. Eu não podia estar mais enganada.

Mal D'amore #Wattys 2017Onde histórias criam vida. Descubra agora