Capítulo 35- Retomando a minha vida

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ÍRIS


Eu encarava o teto tentando livrar minha cabeça do redemoinho de pensamentos que tentavam me invadir, e tentando convencer meu corpo a se acostumar novamente com uma cama vazia. Eu estava mais uma vez na casa da Júlia, e para ser bem sincera, tudo que aconteceu para me fazer voltar aqui foi tão rápido que eu ainda estava atordoada e perdida como se não fosse real. Mas era, infelizmente aquele pesadelo era real.

As cenas voltavam pra mim como se estivessem gravadas na minha cabeça, o estranho que me parava na saída do banheiro, suas mão suadas agarrando meu braço, o cheiro forte de bebida que saia dele todo, Júlia tentando inutilmente convencer o cara de que eu estava acompanhada, o asco que eu senti com a pressão de seus lábios sobre os meus. E de repente tudo se tornou caos, um Gael completamente fora de si, que voou no pescoço do cara o jogando contra a parede, gritando ameaças enquanto apontava para mim. Tudo que eu conseguia ouvir em meio aos seus gritos era a palavra "minha", que ele repetia como se fosse um mantra, e que agora estava colada em minha mente tornando tudo ainda mais pesado.

Mesmo com os nossos protestos, meus e de Júlia e com as investidas do Iam, tentando trazer seu amigo de volta à razão, Gael se jogou em cima do cara com a fúria de um trem desgovernado e a precisão de uma bomba atômica. Ele lhe deu uma cabeçada, que fez com que o nariz do cara sangrasse para todo lado e logo em seguida vieram os socos e quando o cara caiu, os chutes começaram.

Depois de pouco tempo tudo passou a ser apenas um borrão em minha mente, como se fosse um sonho. Júlia tentando me afastar de lá, dizendo que me levaria pra casa e Gael finalmente largando aquele pobre coitado qualquer, que no mínimo precisaria de uma plástica no rosto, e vindo a toda atrás de mim quando percebeu pra onde eu me dirigia.

- Amor?! Íris!! - ele grita histericamente me alcançando já próxima a saída da boate. - Onde você vai? Você já quer ir embora?

Ele tremia, e estava todo coberto de sangue, o que o deixava ainda mais parecendo um maluco, e vê-lo assim me provou mais uma vez que tudo aquilo não tinha como dar certo.

- Eu vou com a Júlia Gael. - falei secamente, tanto quanto eu me sentia por dentro.

- Não amor, não precisa. Eu te levo. - ele disse, como se nada tivesse acontecido, ou como se ele tentasse vender essa ideia, mas não ia colar.

- Eu vou com a Júlia Gael, eu já disse!

- Você quer mais um tempo com a sua amiga, né?!- agora ele soava completamente descontrolado. - Tudo bem então, eu entendo. A gente ... A gente se vê em casa, então?!

- Eu vou pra casa da Júlia, não vou voltar pra sua casa! - falei frisando bem o "sua". - Quero ficar bem longe de você!

- A casa é nossa amor. Nossa! - ele fala se aproximando e segurando meu braço. - Mas...mas... Tudo bem então! - ele fala depois de pensar por uns minutos. - Se você quer passar essa noite com a Júlia pra terminar a festa de meninas de vocês tá tudo bem, eu te pego amanhã bem cedo.

- Eu não quero que você vá me pegar em lugar nenhum! - eu digo interrompendo ele, deixando a raiva e a tristeza me consumirem. - Aliás, eu não quero mais ver você! Me deixa em paz!

- Não!! - ele grita e me aperta ainda mais. - Não! Você é minha mulher! Minha, escutou? Eu não vou te deixar ir a lugar nenhum que não seja comigo.

- Você é louco! Eu odeio violência! Eu nunca vou ficar com uma cara como você! Acabou Gael!! Acabou!!! - Eu grito de volta pra ele.

- Eu sou louco sim!! Louco de pedra!! Louco por você!!! - ele fala tentando me puxar ainda mais pra si, enquanto me debato em seus braços. - Eu não vou te deixar ir embora nunca! Nunca! Você é minha! Só minha! E eu vou matar qualquer um que toque em você e que tente te tirar de mim!

- Me solta seu maluco! Me solta!! - eu grito alto e me debato ainda mais.

- Solta ela Gael! - Iam grita já tentando tirar o Gael de mim.- Deixa ela ir com a Júlia e depois vocês conversam com calma.

- Não tem conversa Iam! Eu não quero mais falar com ele! Estou farta dessa loucura toda! - eu grito cortando o Iam.

- Não fala assim amor. Você é minha mulher, eu te amo. Não me deixa!- ele fala finalmente me soltando, mas ajoelhando e me abraçando pela cintura.

Vê-lo assim, tão entregue, tão desesperado, me quebra um pouco. De repente tudo que eu quero é ajoelhar junto dele, abraça-lo forte e dizer que está tudo bem, que vamos ficar juntos. Eu amo muito esse homem, mas não posso ceder. Não posso viver assim, com ele controlando todos os meus passos sempre, querendo matar qualquer um que se aproxime de mim. Não posso viver com seu ciúme. Então viro minha cabeça para longe dele.

- Me solta agora Gael! - eu digo friamente.

Minha rejeição o atinge como um soco, e ele finalmente me solta ficando ajoelhado no chão, mas sendo amparado por seu amigo.

- Não faz isso, por favor amor. Não me deixa! - ele fica murmurando, mas eu não quero ouvir mais nada, pego no braço de Júlia e juntas vamos embora enquanto Gael recomeça a gritar o meu nome e é contido por Iam.

Eu não conseguia mais pensar em tudo isso. Aqueles dias com o Gael tinham sido perfeitos, mas eu odiava a violência, e odiava o controle que ele queria ter sobre a minha vida. Eu precisava ser forte agora e lutar por mim mesma como sempre fiz, por mais que estivesse marcada pra sempre. Não poderia mais esquecê-lo, mas eu tinha que seguir em frente.

Já eram seis horas da manhã e eu resolvi que não valia a pena esperar. Tudo que eu mais precisava estava comigo, eu sempre saia preparada para qualquer coisa, e eu sabia que esse seria o melhor momento, Iam havia ligado e avisado que conseguiu levar o Gael pro hotel e deu a ele um remédio que o apagaria por algumas horas para que ele pudesse se controlar, essa era a vantagem de que eu precisava.

Peguei tudo que estava comigo, todo o resto eu deixaria para trás junto com as lembranças, ou assim eu esperava. Deixei um bilhete para Júlia, eu sentia por não poder estar perto dela nesse momento, mas ela tinha o Iam, estaria em boas mãos. Sai da casa dos dois e peguei um dos táxis que ficava parado próximo ao hotel.

- Pra rodoviária por favor. - Pedi ao motorista.

Era isso, havia chegado a hora de fugir de novo.


Mal D'amore #Wattys 2017Onde histórias criam vida. Descubra agora