ÍRIS
Eu ando meio perdida pela festa durante algum tempo, e vagamente percebo que Júlia anda atrás de mim. Como, mesmo que por um segundo, eu pude pensar que o Gael havia mudado? Como eu pude ter tanta fé em um cara que adorava estragar minha vida no ensino médio? Eu simplesmente não posso entender como ele pode ser tão babaca!
Para quê perder tanto tempo com aquela conversinha mole de que não conseguia viver sem mim, e logo em seguida esfregar outra mulher na minha cara?! Eu não sei mais o que pensar sobre tudo isso, se tudo que ele havia me dito era verdade, então provavelmente estávamos de volta a época da escola, onde ele pendurava garotas irrelevantes no pescoço para me fazer ciúmes, de outra forma, eu só podia supor que todo aquele papo de amor obsessivo dele era só uma desculpa bem pensada para me fazer ceder e me levar pra cama, coisa que ele não conseguiu na época do colégio. Eu estava cansada de tudo isso, mas como sempre minha cabeça ficava girando em torno de todos os acontecimentos exaustivamente, então andei a esmo pela festa, sem prestar atenção em nada ou ninguém em particular.
Depois de algum tempo andei em direção a praia que ficava em frente a propriedade, quase como uma praia particular, com a intenção de me acalmar olhando para o oceano como eu geralmente fazia. Porém ao me sentar, percebi que Júlia ainda estava comigo, e ao olhar para ela sentada ao meu lado, notei que seu semblante parecia tão conturbado quanto o meu, ela estava imersa em seus próprios pensamentos, assim como eu estivera até um segundo atrás. Por causa do Gael eu estava sendo uma péssima amiga nos últimos dias, já era hora de cuidar um pouco melhor da minha melhor amiga, o que afinal era o propósito da minha estadia aqui.
- Oi?! - Eu chamei tentando atrair sua atenção pra mim.
- Oi... - Ela disse com um sorrisinho fraco, olhando ao redor como se não tivesse noção de como havia chegado aqui.
- Alguma coisa séria acontecendo nessa cabecinha? - eu perguntei em tom de brincadeira, tentando deixar o clima mais leve.
- Muitas coisas, na verdade... - ela respondeu pensativamente.
- Posso ajudar? Se você quiser falar sobre isso, é claro. - eu digo tentando encorajá-la.
- Você sempre ajuda amiga, mesmo que não saiba como ou com o quê.
- Se você quiser conversar eu estou aqui, mas se quiser sentar aqui e olhar o mar em silêncio, estará bom pra mim também. - eu propus.
- Não. Eu vou te contar. Na verdade eu já devia ter contado a muito tempo. - ela disse soltando um longo suspiro. - Não falar sobre isso não vai mudar nada, então é meio estúpido.
- Você não é estúpida Júlia! Você levou seu tempo pra contar, e isso é ótimo, assim você tem certeza que está pronta pra enfrentar qualquer coisa. E vou estar ao seu lado seja o que for que você queira me dizer.
- Na verdade, não é algo tão grave, nem mesmo é uma notícia ruim, entende? Eu só estou com medo do impacto disso na minha vida. Tenho medo de não estar pronta.
Ela permaneceu por um tempo em silêncio, como que tentando encontrar as palavras que precisava para me contar o que estava deixando a tão aflita.
- Eu estou grávida. - Ela falou de uma só vez, sem nem olhar em meus olhos, e depois se calou novamente e voltou a fitar a água.
Eu definitivamente não sabia o que dizer a ela nesse momento. Por um lado, estar grávida não era uma coisa ruim, na verdade poderia até ser algo muito bom, mas o que eu sabia sobre isso? A não ser que eu mesma não me sentia pronta para esse tipo de responsabilidade.
- Júlia, eu não sei o que te dizer nesse momento. - eu ponderei. - Até porque eu não posso dizer nada até que você me diga como se sente a respeito de tudo isso. A única coisa que eu posso te garantir, é que vou respeitar sua vontade sempre, e que apoiarei qualquer decisão que você tomar a respeito de tudo isso.
- Eu vou ter esse bebê Íris. Desde que eu descobri que estava grávida eu nem sequer pensei em outra opção. - ela fala com firmeza.
- Eu imaginava que sim. - eu afirmei, afinal eu conhecia muito bem minha melhor amiga. - O Iam já sabe?
- Não, ainda não consegui contar a ele. - ela suspirou e concluiu - mas vou fazer isso hoje, não posso mais adiar.
- Você tem razão, ele tem que saber o mais rápido possível mesmo. - eu disse, e depois de observá-la mais um tempo eu continuei. - Essa é uma notícia boa então?! Mas se é assim, por que eu tenho te visto tão preocupada? Por que o Iam ainda não sabe?
- Eu não sei, eu só... eu não podia contar ainda, entende?! Eu não sei se nós estamos prontos pra isso agora, e eu não sei como ele vai reagir a essa notícia. - ela responde cabisbaixa.
- Como não sabe Júlia?! O Iam te ama, ele vai amar esse bebê mais do que tudo. Como você pode sequer duvidar disso? - eu falei exasperada.
- Eu não estou duvidando. Eu sei que o Iam me ama, e sei o quão bacana ele é. Ele vai ser o melhor pai do mundo. Mas nós não estávamos preparados pra isso agora! Um bebê meio que não se encaixa na nossa vida agora. Eu não terminei a faculdade, nem ele, não temos bons empregos, não temos casa própria... Não temos condições de criar um bebê, e eu sei que isso vai deixa-lo louco. - ela suspirou.- E tem algo pior, a culpa disso tudo é minha, eu fui irresponsável e nos coloquei nessa situação, ele vai me odiar por isso.
- Júlia, o Iam nunca seria capaz de te odiar. E como pode isso ser somente culpa sua? Sexo é a dois, lembra?! - eu falei rindo, tentando amenizar um pouco o clima.
- Com certeza eu me lembro! - Ela respondeu, mas apenas com um leve sorriso forçado. - Mas isso só aconteceu porque nós fomos acampar a um tempo atrás e eu esqueci de levar a minha pílula, fiquei três dias sem tomar, mas não achei que fosse acontecer nada, eu juro! Eu tomo pílula desde que começamos a transar, aos 16 anos, já esqueci de tomar algumas vezes e nunca aconteceu nada, não pensei que fosse acontecer agora. Eu devia ter contado a ele que tinha esquecido, assim ele teria se prevenido pelo menos. Tenho medo dele pensar mal de mim por isso, pensar que fiz isso de propósito, ou algo assim. - ela concluiu enquanto as lágrimas começavam a cobrir seu rosto.
- Para com isso Jú! Ele jamais vai pensar algo assim de você, o Iam te ama, e te conhece melhor do que ninguém, ele sabe que você jamais faria algo assim de propósito. - eu digo enquanto a prendo em um abraço apertado e sinto suas lágrimas correndo soltas por seu rosto. - E sabe o que mais?! Você não errou em nada, se aconteceu era porque tinha que acontecer! E vocês não estão sozinhos nessa, vocês tem a mim, e também o Gael e os seus pais, vocês jamais vão ficar desamparados. Pelo contrário, meu sobrinho vai ser a criança mais mimada e mais amada do mundo todo!
Nós duas nos olhamos, e de repente estávamos apenas rindo sem parar de tudo isso, ainda nos braços uma da outra. Rimos até nos esgotarmos, deixando ir um pouco das inseguranças, deixando de lado outros problemas que agora pareciam insignificantes, e focamos na alegria de estarmos ali juntas compartilhando esse momento.
- Obrigada amiga! Eu sabia que podia contar com você. - ela disse já parecendo tremendamente mais leve - Obrigada por me fazer ver o lado bom de tudo isso!
- Não precisa agradecer de forma alguma, estou aqui porque eu te amo muito, e já amo esse bebezinho demais também! - eu digo começando a puxá-la para cima. - Agora levanta essa bunda grávida dai! Nós precisamos dar a notícia a um certo papai!
- Você tem razão! Vamos contar ao papai!!! - Ela concluiu.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mal D'amore #Wattys 2017
RomanceÍris e Gael se conhecem desde sempre. Cresceram na mesma cidade ridiculamente pequena, estudaram na mesma escola, na mesma classe com os mesmos professores, suas vidas corriam tão próximas que até os seus amigos eram os mesmos. Estiveram ligados des...